Com certa dificuldade, Guilherme abria os olhos. Seu corpo estava estranhamente cansado, talvez pelo fato de ter passado a noite em uma cama desconfortável, que parecia ser feita de madeira e forrada com algodão. Enquanto permanecia deitado, recuperando o controle dos sentidos, seus olhos percorriam o ambiente ao redor. O local era completamente fechado, sem acesso à luz, impossibilitando-o de ver o que havia ali; ele podia apenas sentir.
Sentindo também um cansaço sobre o corpo e leves dores nas mãos, ele tentava sentar-se na cama, buscando algum interruptor. Ao levantar-se, uma luz surgia no meio do teto, iluminando todo o quarto e revelando sua estrutura. As paredes, o teto e o chão eram todos de madeira, como se estivesse dentro de uma árvore. A estrutura do quarto impressionava Guilherme, mas a luz era ainda mais surpreendente: emanava de uma pequena esfera vermelha, presa a um galho que a segurava como se fosse uma flor desabrochando. Seus olhos voltavam a explorar o quarto, onde via um grande guarda-roupa à frente da cama e, ao lado direito, uma mesa com vasilhas, água, enxertos e algumas folhas e plantas.
Guilherme voltava a atenção para a situação em que se encontrava. Lembrava-se apenas dos feixes de luz vistos na noite anterior e de ter sido atingido por uma grande esfera de luz roxa esverdeada. Um novo pensamento surgia em sua mente, acompanhado de um forte aperto no peito:
'- ONDE EU ESTOU? MEU DEUS! O QUE EU FIZ? BEBI DEMAIS DE NOVO?'
Virando-se rapidamente, ele via um espelho à sua frente. Seu coração acelerava e seus olhos brilhavam com um azul marinho intenso. Ao levar a mão ao rosto, tomava outro susto: sua mão estava azul, parecendo absorver e transformar as cores ao redor em azul, que se tornava cada vez mais intenso e brilhante. A luz subia pelo braço, tomando seu corpo rapidamente. Guilherme desesperava-se enquanto seus dedos ardiam. A luz do quarto oscilava e o chão parecia morrer sob seus pés, que deixavam de tocá-lo. O quarto liberava galhos que o envolviam em um abraço, absorvendo a energia do ambiente e transformando-a no azul intenso que o cobria.
A porta se abria bruscamente e uma rajada de luz amarela o atingia, sugando o azul de seu corpo. A madeira sem cor sob seus pés voltava a ganhar vida. Aos poucos, o corpo de Guilherme retornava à cor normal, mas um enorme cansaço o dominava. A luz amarela movia seu corpo pelo ar, colocando-o deitado na cama. Seus olhos começavam a fechar, cedendo ao cansaço. O brilho amarelo desaparecia lentamente e, por trás da luz, via-se uma pessoa, um homem. Em seguida, ouvia-se uma voz falando com outra, como se estivesse ao seu lado, mas ele não conseguia mais ver, apenas ouvir o que diziam.
'- Ele acordou. Chamem Bruno, precisamos ficar de guarda. O Rio dele está descontrolado.'
Uma voz desconhecida falava enquanto Guilherme se entregava ao cansaço. Dois dias se passaram, e ele acordava novamente em uma cama dura. Por um momento, acreditou que tudo não passara de um sonho, mas logo viu que sua expectativa era infundada: seu corpo ainda doía e suas mãos estavam enfaixadas. A luz do quarto estava acesa e tudo parecia igual a antes, exceto pela presença de um homem que não estava lá anteriormente. Alto, com braços e pernas bem definidos, os traços de seu rosto e o tom de sua pele lembravam os de indígenas, com olhos pequenos e amendoados, cabelos pretos intensos e pele escura e avermelhada. Suas roupas eram comuns: calça comprida, sapatos fechados, camiseta de manga curta, várias pulseiras nos braços e dois colares no pescoço, além de orelhas furadas.
Guilherme decidiu sentar-se, sentindo o corpo ainda fraco. O que mais o atormentava era a situação em que se encontrava. Imaginava ter causado transtorno ao homem, um jovem adulto que, provavelmente, havia abusado do álcool na noite anterior. Em sua mente, havia flashes de luzes, papéis voando, estragos em postes de energia, explosões e seres luminosos voando.
O silêncio do ambiente foi quebrado pela voz de Guilherme, que falava bruscamente ao homem sentado na cadeira, lamentando o ocorrido:
' - Senhor, me desculpe! Não queria causar problemas para você. Sinto muito mesmo pelo ocorrido. Devo ter bebido demais. Minha mente esta tão confusa, que lembro de ter visto várias coisas inexplicáveis... Desculpe-me novamente. Diga-me o que quebrei e eu pagarei, consertarei tudo que estraguei.'
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O Bailarino Azul
Fantasy"Em uma manhã de segunda-feira, Guilherme e Alan acordavam atrasados para seus trabalhos, o chefe de Guilherme não gostava de atrasos, e ele era certinho demais para causar problemas para as demais pessoas. Com o fim de um dia difícil, Guilherme che...