Desde que eu era criança, aprendi que as pessoas de bom coração e que praticam o bem serão recompensadas com a felicidade e com muitas bênçãos, mas esquecem de avisar que a pessoa de bom coração possui a tendência de espera coisas boas das outras e que por isso, ela é constantemente machucada.
Quando você é novo demais ou ingênuo demais, sua tendência é confiar nas pessoas com mais facilidade e contar segredos achando que elas dariam a mesma importância que você dá para seus segredos. E é dessa forma que você descobre o pior tipo de dor que alguém pode causar, ser machucado por alguém, por quem você tem muito carinho, da forma que mais te dói. E mesmo sabendo disso, a pessoa continua com a mesma atitude.
Dizem que é tudo na vida é um aprendizado, mesmo que seja doloroso, mas ainda não tenho certeza do que aprender com isso. Talvez a não confiar tanto nas pessoas? Mas a vida não seria muito triste se vivêssemos presos em nosso próprio casulo?
E isso é um pouco irônico vindo de mim, tendo em visto o quão inseguro eu sou, mas ainda assim, é algo que eu penso muito e tento colocar em prática sempre que posso.
Dizem que ser surdo nos dias de hoje é muito mais fácil do que antigamente, pelo fato de podermos nos comunicar por mensagem a onde quer que estejamos, e sim, isso realmente facilita a vida de todo mundo. Mas os desafios continuam presentes para serem superados.
Os mitos e preceitos equivocados seguem fortes para a maioria das pessoas que conseguem ouvir, como por exemplo acreditar que todo surdo é mudo ou que somos menos por causa da nossa condição.
Na minha cidade natal, era quase impossível um surdo conseguir um trabalho de meio período, porque por mais que houvesse vagas para casos como esse, o dono do estabelecimento preferia contratar outra pessoa que não necessitasse de intérprete para se comunicar.
Eu perdi as contas de quantos trabalhos de meio período eu não havia conseguido por ter sido considerado "inabilitado", apesar de não entender porque precisava ouvir para trabalhar lavando louça ou com limpeza.
Conseguir um emprego parecia uma coisa tão distante...
E por isso quando eu fiquei sabendo de um curso, na capital, que me ajudaria nesse quesito, eu fiz todo o possível para convencer os meus pais a deixar que isso acontecesse. Mas eles estavam relutantes e fizeram questão de enfatizar o quão difícil seria lá.
A minha cidade natal era pequena e todos se conheciam, portanto, todos sabiam da minha condição, mas mesmo assim, algumas pessoas me taxavam como algum mal-educado e falavam que eu "fingia não ouvir" e que eu ignorava de propósito as pessoas. Meus pais e eu sempre tentávamos esclarecer esse mal-entendido, explicando que para que eu pudesse fazer leitura labial a pessoa deveria chamar a minha atenção primeiro para que eu olhasse para seus lábios e compreendesse a fala.
Antigamente, eu sempre focava nos lábios das pessoas para saber se elas estavam falando ou não, mas isso acabava deixando a maioria desconfortável, então eu parei com isso. Mas agora eu não percebia quando estavam falando comigo.
Parecia um jogo em que eu sempre saia perdendo.
E esse foi o principal argumento que meus pais me deram para que eu não fosse morar fora, pois se já era difícil em uma cidade pequena, então como seria em uma cidade grande em que eu não conhecia ninguém?
E era um excelente argumento...
Mas mesmo inseguro, decidi tentar fazer o curso na capital. Era um sentimento contraditório, porque mesmo com medo de ir para um lugar estranho e sozinho, eu realmente queria conhecer coisas novas.
Meus pais fizeram questão de deixar explícito que eram contra, porque eles não poderiam me acompanhar nessa nova etapa da minha vida. Mas por sorte, conversando com o Felix, fiquei sabendo que havia um quarto disponível em sua casa e fui intimado por ele a me hospedar em sua residência.

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Linguagem do amor
FanfictionMinho era um estudante de gastronomia, um pouco grosseiro, que era controlado por seus traumas e culpas, e acaba conhecendo Hyunjin, o novo morador da casa que dividia com seu amigos, uma pessoa que iria mudar sua vida. E tinha detalhe, Hyunjin era...