um dia (não tão) ruim (fluff)

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Caótico. Essa era a única maneira de definir o dia de hoje. Sabe aquele ditado que diz que 'nada está tão ruim que não possa piorar'? Então, esse ditado se provou verdadeiro hoje.

Acordei 30 minutos atrasada, derrubei o café na minha roupa branca, perdi o ônibus, e agora estou aqui, parada em frente a porta bege sem graça, esperando meu chefe decidir me chamar para me dar mais umas de suas broncas.

Azar. Essa é a única palavra capaz de descrever meu dia, ou melhor, minha semana.

Tudo que poderia dar de errado, deu; eu estou numa série de acontecimentos catastróficos que vão desde o mais simples, como derrubar meu pão do café da manhã com manteiga no chão - com a parte coberta de manteiga virada para baixo, é claro - até os mais sérios, como ser ameaçada de perder meu emprego pelo meu chefe chato e barrigudo.

Sou tirada de meus pensamentos quando vejo a porta em minha frente abrir e o homem de meia idade sair de dentro da sala - que mais parece uma sela de cadeia.

"Ora ora, parece que a senhorita decidiu chegar atrasada de novo?" o desgraçado diz.

Como se eu escolhesse perder meu ônibus, derrubado café na minha blusa branca, e acordar atrasada.

"Desse jeito não terei outra opção a não ser te demitir" ele repete as mesmas palavras que me diz a tanto tempo.

Filho da puta.

"Senhor, por favor! Eu prometo que não acontecerá de novo, eu amo meu emprego!" eu menti.

"Sinto muito, mas você está oficialmente demitida" ele anuncia, como se estivesse me anunciando como vencedora de um Oscar.
Eu respiro fundo, conto até mil, respiro fundo de novo e, com toda a calma do mundo, falo:

"VÁ SE FODER!"

Jogo meu crachá no chão, e vou em direção a porta do escritório, ignorando todos os olhares tortos dirigidos a mim, e saio daquele lugar que cheirava a mofo.

Eu nem gostava de lá mesmo!
Meu Deus como vou pagar minhas contas?
Que se foda aquele velho corno.
Meu Deus, vou ter que vender meu computador.
Odiava meus colegas de trabalho de qualquer forma.
Meu Deus, meu computador.

Todos os pensamentos passavam em minha cabeça em um turbilhão quando, de repente, trombo em alguém a minha frente e caio no chão.

ERA SÓ O QUE ME FALTAVA!

Sem ao menos reparar quem era, me levanto rapidamente murmurando algo como: 'me desculpe'; e ofereço a mão para o estranho sentado no chão.

E é nesse momento que, com a mão esticada, começo a reparar na vítima da minha falta de atenção.

O estranho, ou melhor, a estranha, vestia uma blusa preta com listras brancas - ou branca com listras pretas - e um shorts preto. Seu belo cabelo tinha a raiz tingida de vermelho, enquanto o resto era castanho escuro.

Eu poderia jurar que a conhecia de algum lugar.
É muito de repente quando sinto seu toque quente em minha mão - que permanecia esticada -, e sinto a garota jogar parcialmente seu peso em mim para se levantar.

"Ah, desculpa! Deveria ser mais cuidadosa" ela diz, com um sorriso envergonhado.

"Eu que peço desculpas! Eu que estava andando por aí pensando em nada e acabei esbarrando em você" falo, coçando a nuca.

"Você está bem? Você bateu bem forte contra o chão" foi só quando a garota me diz que eu reparo em meu quadril latejante.

"Estou ótima!" menti, sabendo muito bem que a última coisa que estava agora era 'ótima'.

"Hm, então, você mora aqui?" a estranha diz, agindo como se quisesse continuar uma conversa.

Não tenho nada melhor para fazer, afinal, por que não conversar?

"Não! Moro na minha casa" digo, me xingando internamente pela péssima tentativa de piada.
De qualquer forma, ela riu, e eu senti minha vergonha logo indo embora ao ouvir o som bom daquela risada.

"Ah entendi, você é do tipo engraçadinha, então?" ela me pergunta, claramente brincando.

"É o que dizem"

Nós nos encaramos por um tempo quando, muito silenciosamente, escuto o clique de uma câmera.

A garota parece escutar o mesmo que eu, quando, subitamente, agarra meu braço e me puxa para dentro da loja de conveniência que estava ao nosso lado.

O que caralhos está acontecendo?

Ela me puxa mais para dentro da loja e 'se esconde' atrás de uma prateleira de comidas.

Puta merda, ela está sendo seguida?

Meu Deus, será que ela é uma serial killer e eu a reconheci por causa disso?

Puta merda, eu sou muito jovem para morrer.

E se...

Sou interrompida de meu surto mental ao som de sua voz.

"Hm, me desculpe por isso. Você sabe como é, né? Os paparazzis estão em todo lugar."

Meu Deus, eu estava certa. Ela é uma serial killer e eu sou sua próxima vítima.

"Você vai me matar?" meus olhos se arregalam quando pergunto.

"O que?" ela me diz, visivelmente confusa "meu nome é Billie! Sou cantora."

UFA! Me deixo respirar fundo quando escuto o que Billie me diz.

Bom, pelo menos não morro hoje.

"Ei, eu realmente gostei de falar com você, e queria te encontrar novamente" ela diz, olhando profundamente em meus olhos "o que você acha de ir em alguma cafeteria comigo um dia desses?"

Ela está me chamando para um encontro?

"Tipo um encontro?"

"Sim!"

"Eu quero!" respondo prontamente, e vejo enquanto ela vasculha a bolsa em busca de uma caneta.

"Aqui!" Ela finalmente encontra uma caneta de ponta fina azul, puxa minha mão e escreve algo.
Antes de poder processar o que estava
acontecendo, sinto um pequeno beijo ser deixado em minha bochecha e a assisto sair da loja com a cabeça baixa.

Quando olho em minha mão, leio:

"Cafeteira 221B, Baker Street;
Dia 22/03, às 21:00.
Até<3"

Talvez hoje não tenha sido um dia tão ruim, afinal.

Billie Eilish imagines!Onde histórias criam vida. Descubra agora