O caminho até o apartamento era curto, se feito sem interrupções era um caminho rápido, em menos de quinze minutos já se encontraria deitado em seu sofá. Mas, Yamato fazia questão de todos os dias trazer dois cafés para casa; um para ele e outro para seu marido, Kakashi.
Era engraçado o fato de que Kakashi e Yamato tinham gostos tão opostos, até mesmo no café. Yamato ama cafés fortes e geralmente sem nenhum adoçante, amargos que muitas vezes faziam Kakashi enrugar o rosto só de sentir o cheiro, já Kakashi ama cafés demais doces, suaves e que geralmente acompanhavam refeições leves.
Yamato odeia café doce. Ele não sabe ao certo o porquê, mas sempre que tomava sentia o gosto ruim na língua que fazia seus lábios se contraírem. Kakashi muitas vezes ria de suas reações quando era o platinado que trazia café doce para ambos. Para Yamato, café tinha que ser de sua forma mais pura, amargo, o gosto forte agrada seu paladar, alem de que o café representava mais do que uma simples fonte de cafeína; era um ritual matinal, um impulso para começar o dia com determinação. O amargor intenso era uma espécie de despertar, uma recordação constante de sua força interior.
Ao chegar à cafeteria, escolhia meticulosamente grãos robustos e aromáticos. Odiava o cheiro que o café doce tinha, mas mesmo assim, Yamato sorria ao imaginar a expressão de Kakashi ao sentir o perfume envolvente de seu tão amado café. Cada escolha de café era uma expressão sutil de amor, um gesto diário que transcendia a mera rotina.
Com os dois cafés em mãos, Yamato caminhou em direção ao apartamento, vez ou outra checando seu relógio para conferir cada segundo. Eram 16:30, Kakashi terminava seu serviço às 16:00, então Yamato já imaginava como o marido estava; despojado no sofá preguiçosamente, ainda com as vestes de trabalho.
Yamato lembra de todas as broncas que já deu em Kakashi por sempre esquecer de se trocar antes de dormir no sofá daquela forma. Ou também das pequenas discussões que tinham sobre sapatos dentro ou fora de casa, discussões tão novas que em meio ao seu trajeto tiraram sorrisos de Yamato que estava cada vez mais próximo do destino.
Enquanto Yamato se aproximava do apartamento, sua mente estava imersa nos pensamentos sobre Kakashi. Imaginava o sorriso descontraído do marido, visualizando-o de forma tão nítida que quase podia ouvir sua voz alegre ao cumprimentá-lo. Mesmo com todas as brigas, Yamato sempre acabava deitado com o platinado no sofá, no sofá que o próprio Yamato mandava ele para lá durante as brigas.
Ao chegar à porta, com os cafés nas mãos e a expectativa de um reencontro comum, algo pareceu se deslocar em sua mente. Foi como se uma cortina pesada se abrisse, revelando uma realidade indesejada. Um arrepio percorreu a espinha de Yamato, e seus olhos se fixaram na porta fechada como se fosse um portal para outra dimensão.
E então, a terrível verdade o atingiu. A memória do recente falecimento de Kakashi, antes esquecida, ressurgiu como uma onda avassaladora. A realidade desmoronou diante dele, e os cafés que antes simbolizavam amor e rotina se tornaram pesadas âncoras de tristeza.
A respiração de Yamato começou a ficar pesada, as chaves na mão trêmula já faziam um barulho irritante pelo chaveiro enorme, a onda de tristeza tomava os ombros de Yamato quase o empurrando para o chão.
Com os olhos embaçados pelas lágrimas que começavam a escapar, Yamato destrancou a porta devagar, como se temesse encarar a realidade que o esperava do outro lado. Cada clique da chave parecia ecoar como uma contagem regressiva para o momento doloroso que se aproximava.
Ao entrar, o silêncio no apartamento era ensurdecedor. Yamato hesitou por um instante, como se esperasse ouvir a voz de Kakashi vir do sofá, a voz de sono dando o habitual "seja bem vindo de volta, querido". No entanto, apenas o vazio respondia ao seu eco silencioso. O aroma do café, que antes enchia o espaço com falas animadas e agradecimentos de Kakashi, agora era um lembrete amargo da solidão que o envolvia.
Com os dois cafés ainda em mãos, Yamato dirigiu-se à cozinha, onde muitas vezes compartilhou conversas sobre o trabalho e risos com Kakashi enquanto preparavam o jantar. O cheiro do café forte, que costumava ser reconfortante, agora pairava no ar como uma melancolia persistente.
Ao se sentar à mesa da cozinha, Yamato olhou para os dois cafés diante dele. Sabendo que Kakashi nunca mais tomaria o café doce que ele escolhera tão cuidadosamente, uma tristeza profunda tomou conta de seu coração. Yamato pegou o copo de café destinada a Kakashi e tomou um gole, sentindo o gosto doce que sempre foi a preferência de seu marido.
Enquanto o café adocicado escorria pela sua língua, Yamato se permitiu sentir a dor da perda, recordando os momentos preciosos que compartilharam. Cada gole tornou-se uma lembrança de Kakashi, um lento adeus a um capítulo que agora só existia na memória e na saudade.
Yamato tinha certeza, que os cafés amargos nunca mais teriam o mesmo gosto.
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café para dois - Kakayama
Fanfiction". Onde Yamato volta com dois cafés para casa. " . One-shot . Angust . Kakayama