And the masks fall down

Capitulo Único

Loid encarava o teto sujo e enferrujado do velho depósito em que estava sem ainda acreditar no que acabara de acontecer. Parecia que havia sido um daqueles sonhos estranhos e sem nexos que se tem, onde nada faz sentido, mas tudo bem que nada faz sentido já que é um sonho que logo irá passar assim que abrir os olhos.

Porém a dor aguda vindo de uma de suas costelas – provavelmente quebrada –, seu pulso dolorido e os outros vários hematomas e pequenos cortes em seu corpo eram uma afirmação frequente de que nada que havia acontecido a alguns minutos atrás havia sido um sonho.

Lógico que ainda existia a possibilidade de ele ter enlouquecido. Não era uma hipótese tão absurda assim. Quantos espiões já não haviam perdido a cabeça? Ficaram paranoicos com os anos de espionagem? Ou que simplesmente haviam sucumbido à loucura pela grande pressão e estresse que ser um espião acarretava?

É, essa é uma possibilidade, ele pensou.

Talvez estivesse mesmo vendo coisas e aquela não era Yor ao seu lado, sentada no chão imundo de um depósito isolado fora da cidade com machucados espalhados pelo corpo – resultado da breve luta que tiveram minutos atrás – vestindo um vestido preto colado e segurando agulhas tão afiadas que facilmente matariam alguém.

Não, isso com certeza era uma miragem. Yor era gentil, calma, um doce de pessoa que não seria capaz de machucar alguém quanto mais matar. Não havia sido no dia anterior que ela  havia pedido para ele matar uma aranha no banheiro por que ela mesmo não conseguia?

Negando com a cabeça, Loid enterra o rosto nas mãos.

– Eu devo estar louco. – ele sussurra.

– Infelizmente nenhum de nós está.

A voz de Yor soa pelo depósito, a voz firme e séria, muito diferente da voz doce e calma que ela sempre usava no dia a dia.

– Bom, – ele começa direcionando seu olhar para a mulher ao seu lado – essa é a única explicação que eu achei para explicar a sua presença aqui.

Yor o olha com uma expressão séria.

– A minha presença aqui? E o que você faz aqui, hein? Aqui não me parece um consultório médico Dr.Folger.

Twilight negaria até a morte o fato de que o tom irritadiço junto com a expressão brava da morena o fizeram se encolher internamente como um garotinho assustado. Nunca havia visto aquele lado de Yor, na verdade, nunca pensou que a morena teria um lado tão.. intimidador. Como um estalo, outro pensamento cruza a mente do espião. Estava tão chocado com a presença da morena ali que não pensou em uma desculpa para a sua presença naquele galpão.

Merda, ele pensa com um sorriso ladino, parece que o Twilight finalmente foi pego.

– Acho que nós dois escondemos coisas um do outro, querida. – ele diz a olhando com o sorriso no rosto e um brilho divertido no olhar – não que houvesse algo divertido na situação, mas era tão ridículo aquilo tudo que se tornava engraçado –, dando ênfase na última palavra.

Para sua surpresa ela adota uma expressão semelhante a sua, com os lábios pintados de vermelho sangue se curvando em um sorriso aberto e ferino e um brilho malicioso no olhar.

– Acho que tem razão, meu bem.

Com isso os dois começam uma disputa silenciosa, ambos sentindo a raiva de terem descoberto a vida dupla de seu cônjuge junto com uma estranha sensação de incerteza ao olharem para a pessoa em sua frente, como se não a reconhecessem. Twilight ainda achava que acordaria daquele sono e de que Yor o estaria esperando na mesa do café da manhã com seu sorriso gentil e uma xícara de café na mão e Yor tinha esperanças de que aquilo tudo fosse somente uma miragem por ter levado um golpe na cabeça e que quando acabasse seu serviço voltaria para casa e encontraria Loid sentado no sofá fingindo não prestar atenção no desenho de Anya, que estaria sentada no chão acompanhada de seu fiel cão.