A Luz na Escuridão

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O sol ainda não havia despontado no horizonte quando Simon Gomes saiu de casa, a mochila pesada em suas costas e um misto de ansiedade e esperança pulsando em seu coração. Ele sempre foi o primeiro a acordar na sua casa, um ritual que se tornara necessário em meio à rotina agitada da vida escolar. Mas havia algo a mais que o movia para as ruas silenciosas de Montes Claros: a padaria onde Larissa trabalhava.

Simon seguia sempre o mesmo caminho, um percurso familiar, cercado por lembranças de risadas e confidências compartilhadas. A padaria era um pequeno espaço, mas para Simon, era um refúgio, um lugar onde os aromas do pão fresco e do café recém-preparado se entrelaçavam com a presença calorosa de Larissa. Ele se lembrava da primeira vez que a viu, com seu sorriso radiante e seus olhos brilhantes, que pareciam entender tudo sobre ele, mesmo quando ele mesmo não entendia.

O amor que Simon sentia por Larissa não era romântico, mas um profundo afeto de amizade. Desde os tempos do ensino médio, quando eram apenas colegas de classe, ele se sentia atraído pela sua inteligência e sensibilidade. Larissa sempre tinha uma palavra encorajadora, e sua risada era como uma melodia que fazia o dia parecer mais leve.

"Bom dia, Simon!" Larissa o cumprimentou com um sorriso ao vê-lo entrar na padaria, seu avental manchado de farinha e o cabelo preso em um coque despojado. Havia algo reconfortante na rotina deles, e Simon sentia que, mesmo em dias difíceis, a presença dela sempre trazia um pouco de luz.

"Bom dia, Lari!" Ele respondeu, tentando esconder a tristeza que por vezes o acompanhava. Embora tivesse amigos, um peso invisível o seguia, uma nuvem escura que se acumulava sobre sua mente. Durante a pandemia, esse peso havia se intensificado, mergulhando Simon em um estado de solidão e desespero. Ele se sentia preso em uma cela, lutando contra os próprios demônios.

Foi nesse momento de fragilidade que Larissa se tornou sua âncora. Ela foi a única que não se afastou, mesmo quando muitos outros o fizeram. Ele se lembrava das longas conversas que tinham, das noites em que ela se oferecia para ouvi-lo desabafar. Larissa parecia sempre saber o que dizer, como se tivesse o dom de iluminar até os cantos mais sombrios de sua alma.

"Como você está se sentindo hoje?" Larissa perguntou, percebendo a hesitação no rosto de Simon. Ele hesitou antes de responder, mas a preocupação genuína em seu olhar o fez sentir-se seguro para abrir seu coração.

"Na verdade, estou um pouco melhor," ele começou, um sorriso tímido surgindo em seus lábios. "Comecei a escrever de novo."

"Escrever? Sobre o que?" Seus olhos se iluminaram, e Simon sentiu que a conversa estava tomando um rumo promissor.

"Sobre meu sonho de visitar Seul. Sempre quis conhecer a cidade, experimentar a cultura e ver os lugares que só conheço pelos dramas que assisto." Ele falou com entusiasmo, seus olhos brilhando com a possibilidade. "Pensei em transformar isso em uma história. Um personagem que, assim como eu, luta para realizar seus sonhos."

Larissa inclinou-se para a frente, interessada. "Isso é incrível, Simon! Você sempre teve esse talento. Tem certeza de que quer mesmo escrever sobre isso?"

"Sim," ele respondeu, sentindo a paixão ressurgir dentro dele. "É como se eu pudesse viajar, mesmo sem sair do lugar. E se eu puder fazer alguém acreditar que seus sonhos são possíveis, isso já vale a pena."

Os dois conversaram por um tempo, com Larissa fazendo perguntas sobre os personagens e a trama, sempre encorajando Simon a se aprofundar em sua criatividade. Cada palavra que ela proferia parecia ser um empurrãozinho, uma forma de lembrar a Simon de que seus sentimentos e experiências eram válidos.

A padaria foi se enchendo de clientes, mas Larissa nunca deixava de prestar atenção em Simon. Ele a observava enquanto ela se movia com agilidade, atendendo a todos com um sorriso. Havia algo de inspirador em sua determinação, e isso o motivava a continuar escrevendo, a transformar seus sonhos em realidade.

Quando o movimento diminuiu, Simon decidiu que era hora de ir para a escola. Ele olhou para Larissa, sentindo uma gratidão avassaladora. "Obrigado por sempre estar aqui, Lari. Você é a razão pela qual eu ainda luto."

Larissa sorriu, e suas palavras ressoaram como um mantra. "Não há vitória sem luta, Simon. Nunca se esqueça disso."

Ao sair da padaria, Simon sentiu um novo ânimo. Ele sabia que os desafios ainda estavam à sua frente, mas a amizade de Larissa era um farol que o guiava. Ele prometeu a si mesmo que, independentemente das dificuldades, não desistiria. Ele escreveria sua história, e um dia, realizaria seu sonho de visitar Seul.

A jornada estava apenas começando, e com Larissa ao seu lado, Simon sentia que nada era impossível. Era a certeza de que, mesmo nas noites mais escuras, a amizade poderia ser a luz que sempre iluminava seu caminho.

MINHA INSPIRAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora