Traitor - Luke Castellan

The second that we called it quits?

Faltam poucos minutos para virar o dia, e então a minha mãe irá completar mais um ano de não vida. Ou talvez ela ainda esteja viva em algum lugar no mundo

Para falar a verdade eu não lembro muito dela, e posso te garantir que faz muita falta, parece que uma parte da minha vida continua sem cor e vai continuar até o dia em que minha vida acabar e eu der meu último suspiro

Acho que desde que eu cheguei aqui o meu lugar de conforto se tornou essa parte do acampamento. Onde durante a noite posso ver a lua sobre a água e a sua beleza refletindo no líquido transparente. A primeira vez que vi esse cenário fiquei encantada

Hoje é noite de lua cheia e ela está muito mais bela, superando os outros dias em que eu apreciei aqui do lado de fora. Minha madrinha falava que quando eu era mais nova minha mãe amava passar uma parte da noite me mostrando as estrelas, ela tinha uma parte em sua varanda só para isso. Com telescópio e vários livros para poder saber mais sobre as estrelas e o universo

Depois de um tempo, no aniversário da minha mãe, pouco tempo antes para mim completar meus 8 anos, meu padrinho costumava me buscar um dia antes do aniversário da minha mãe e me levava para a casa dele, a gente fazia uma receita diferente que sempre dava errado e acabávamos pedindo pizza, quando as caixas de pizza chegavam a gente ia para a varanda do apartamento dele e passávamos a madrugada do lado de fora. Conversávamos e olhavamos as estrelas, meu padrinho sempre tinha alguma história para contar

Lembro até hoje do dia em que ele me contou sobre como ele conheceu a mamãe. Ele estava no maior estúdio de fotografia da Itália, mamãe estava em uma viagem para fazer um trabalho fotográfico já que ela era uma das fotógrafas mais famosas da época. Meu padrinho era o modelo, e pela vontade do destino, a minha mãe foi fotógrafar a sessão de fotos dele. Naquele momento eles se divertiram muito e acabaram se encontrando várias vezes depois. Então a conexão deles foi aumentando e a amizade também, 6 anos depois a minha mãe engravidou e decidiu tornar ele meu padrinho, e ele foi o melhor padrinho de todos. Ele era como um irmão para a minha mãe, e eu vejo ele como alguém do meu sangue, eu daria minha vida por ele

As estrelas parecem mais brilhantes , a luz da lua estava embaçada, o nó na garganta já estava formando esperando o tempo certo para se desfazer, ou se iria me prender até morrer. Quando menos esperava, senti a lágrima que rolava pela minha bochecha e caia no meu cabelo sobre o ombro. Talvez o destino não seja realmente um grande amigo meu, talvez seja só mais um obstáculo no meio da minha pista de carros

Olho para a pulseira em meu braço. Eu ainda tenho a fraca memória desse dia, eu estava na sala ao lado da mamãe. Ganhei uma caixa de miçangas de aniversário e então eu diz uma pulseira para a mamãe e ela uma para mim

A pulseira que ela fez era linda, miçangas amarelas, rosas e lilás, tinha um pingente de tartaruga marinha. Oque eu fiz para ela era em tons de rosa e azul, e coloquei uma lua no meio das pedrinhas. Desde que eu a perdi não tiro a pulseira do braço, significa muito para mim e eu acho que entraria em depressão se eu perdesse o objeto

Agora faltam exatos 10 minutos e eu só estou aqui fora ainda porque eu quero continuar a tradição mesmo longe do meu padrinho. Mas aqui eu vou fazer diferente, quando virar a noite eu irei cantar parabéns baixinho, irei contar até 30, respirar fundo e voltar para o meu chalé, dormir e fingir que amanhã é apenas mais um dia como os outros, onde eu vou ter que fazer as atividades e isso pode até ajudar para fazer com que eu afaste os pensamentos que estão presos na minha cabeça desde o momento em que eu acordei hoje. Talvez esse não seja oque eu tenho na minha cabeça desde manhã

🌊

Meia noite... Respiro fundo segurando o choro que estava formado nos meus olhos pronto para sair

— Parabéns pra você — parece que é difícil pronunciar cada sílaba — nessa data querida — o nó vai fechando minha garganta fazendo com que se torne difícil respirar — Muitas felicidades, muitos anos de vida — os meus olhos já permitem com que eu sinta novamente, já não estou mais tentando ser forte, só estou permitindo sentir toda a dor de não te ter aqui

Eu teria dado um soco se eu não soubesse de quem são os braços musculosos que estavam sobre meus ombros e que logo o garoto se sentava ao meu lado, o silêncio estava entre nós e só podia ouvir o barulho do meu choro que parava aos poucos

— Saudade de casa? — o garoto pergunta e eu ainda o ignoro, lembrando de hoje de manhã e tentando mostrar que tenho maturidade e capacidade de evitar o garoto — desculpa — ele começa e respira fundo, ele sabe que eu estou chateada — fui um idiota hoje mais cedo — ele completa e eu não posso evitar de soltar um sorriso bobó do rosto

— Não é saudade de casa, a não ser que casa seja uma pessoa — falo rodando a minha pulseira em meu braço e olhando para ela

— Eu ia ficar muito feliz em ouvir oque você tem para falar — o garoto diz e então eu respiro fundo, uma hora o acampamento inteiro vai saber a minha história de alguma forma,e isso não vai me prejudicar em nada pelo oque eu saiba. Então não faz mal algum se eu compartilhar isso com o Luke, faz?

— Minha mãe morreu — digo olhando para os olhos do garoto que parecia surpreso — Era meu aniversário de cinco anos — sua expressão muda para a expressão de uma pessoa que não esperava ouvir oque ouviu

— hoje é aniversário dela? — ele pergunta provavelmente pelo fato de ter me ouvido cantar o parabéns. Eu apenas concordo com a cabeça e olho para a lua

—  Sua mãe não morreu! — ele afirma e eu solto uma risada triste e sarcástica — enquanto a memória for viva — ele toca no meu colar e echa a sua mão na minha — ela ainda vai estra viva — ele fala e eu dou um sorriso falso, só quero que tudo isso acabe logo

— Obrigada por ser um idiota legal — digo e vejo o garoto arqueando sua sobrancelha esquerda e depois entrando na brincadeira e rindo

— Vou ser sempre o idiota que estara aqui — ele fala apertando a minha mão mais forte