JAPIIM XEXÉU-GUACHO

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Ciente de ter ouvido majestoso canto do galo, vindo da cidade distante, acordando ao estalo do sol, de brilho incessante, a floresta irradia a eternidade por um instante com os cantores de Tupã entoando da nota oitava à sextante.

Erigidos por seus melhores artesãos, também chamados de Xexéus, com capim, seixos e cordame da noz-pecã, ninhos balançam sobre rios como fossem anjos ou querubins vindos do céu, mandados por Serafins.

Tudo ocorre numa semana de muitas viagens do casal às fontes de fazer chapéu, eis o espetáculo de calar até o matraqueiro papa-capim, o rei do escarcéu.

Zás-trás, ninhos se elevam,  de formatos iguais a balaios de maçãs ou de damascos nas feiras tribais, balançando sobre o leito de água, desde o lodo até as fontes termais.

Guacho, Xexéu, Japira ou Japiim, não mates este pássaro, creiam em mim, são belos mensageiros enviados dos céus para enfeitarem nosso jardim.

Ao ver seu ninho na romã, vergando sobre o rio em seu caminho, ajoelhe de gratidão e de carinho, por ter visto o flautista em seu novo ninho, serão três ovos e dois novos seres mais preciosos que o próprio marfim.

Tupã mandou dizer ao povo de Jaçanã: Japiim, sua flauta não pode morrer sem sua prole crescer, trate de  multiplicar, criar,  aprender e voltar prá mim.

Seu ninho, como luva, veste peça a peça  este pássaro alado,  miúdo espírito dessa floresta e que abre, meu amado,  a cantoria, fazendo de  toda manhã uma festa.
– Nunca deixem o mato sem Japiim  !

Humano bronco, não chama desgraça, não prenda a Primavera,
Tupã do céu pode ver, pois
Japiim é ave abençoada,
acorda, venha agradecer,
cada novo dia a nascer !

Por isso não deve morrer
Japiim, a flauta de Tupã, que
só canta de manhã
para o sol se levantar, para à noite guardar dentro da luva de Tupã.

Por seu canto
A terra desperta
E, na selva, a passarada toda encantada
Se cala para escutar... como faz na Amazônia o Uirapuru a entoar a mágica de ninar.

Venha cá, meu amigo bronco... eu lhe aviso
Não mate mais Japiim-Melro ou Xexéu;
Anhangá que zela por ele
alcança a quem lhe der fim, tanto na Terra quanto no Céu.

Anhangá habita a
Terra da Mãe de Deus, pois
Tupanciretã aqui nasceu,
Não mates Encontro-Primavera-Japiim, Seo bronco coração de breu !

O ninho é bolsa de folhas
cheias de doçura da sua prole, em galhos sobre água,
a esfriar, tendo o vento de fole; A mãe de Deus Tupã,  dita Ciretã,  fez dos isso ser assim, então Seo Bronco, não mates Japiim  !

Japiim dorme feliz, acorda o dia, com o rio rimando a
sua alegria, mas se a água turvar de sangue,
Tupã avisa sua flauta
para arribar sem melodia e aí acabou-se a Paz, foi-se a Alegria  !

Anhangá vinga e faz treva,
Faz do dia noite eterna,
do carinho, açoite e pé, inicia a decadência real que branco nem dá fé, pensando ser progresso a sua marcha-a-ré.

Depois dessa desolação, ninho visita Tucandira, que morde a mão luva-mira
como na iniciação do Povo Sateré-Mawé.

Branco põe mão, dor horrenda, nasce ódio,
castigo, reprimenda ,
e a árvore cai, então  voa
Japiim vai fazer o ninho
longe da curva do rio e espírito Anhangá recebe
de Tupã cuidar da Colônia
de Japiim-Xexéu a encomenda!

Jaçanã Ñaha'nã, responde do rio,
aos gritos, ao Japiim-Guacho,
pois levados pelo rio som parece baixo:
- Vou ficar, esperar secar !

Tupã vai mandar Anhangá,
vou esconder neste limo de rio, desço com a água de março, até o novo ninhal,
levo notícias do que restar desse canal.

Adeus pássaro Xexéu, vou avisar rouxinol, trinca-ferro,
tiziu, sabiá
e até o chupim o que vive dos ninhos de aluguel.

MINHA POESIA  TEM ASASOnde histórias criam vida. Descubra agora