A áurea que emanava dela era quase sólida. Sua pele tão clara que podia ser comparada a neve. Seus cabelos encaracolados e loiros, flutuavam com o forte vento da praia. O mar estava agitado, como se também sentisse o poder tão próximo a ele, eram forças da natureza.
Criações.
Ela sentou com graça e delicadeza numa rocha alta, que oferecia uma bela vista de toda baía. Ela mal conteve o sorriso. "Terra... um paraíso?". Ergueu seu lindo e impecável rosto para o céu, aproveitando os últimos raios solares do dia. Sua roupa era tão leve quanto ela própria.
Assim que ele surgiu, ela o sentiu. Virou-se para olhar em sua direção, que vinha a passos firmes ao seu encontro. Afinal, ele tinha um objetivo. Todos tinham, bastava apenas uma ordem. Não era forte e nem magro. Usava uma calça de algodão cinza e uma camisa branca com mangas. Sua pele amarela e seu longo cabelo preto lhe cobria uma cicatriz que atravessava seu olho esquerdo. Seu rosto estampava o cansaço acumulado de anos e anos.
Enfim, ficaram frente a frente.
Ele a observou e ao mesmo tempo que o sentimento surgia, ele tratou de afugentá-lo. Seria quase uma ofensa ir mais longe.
--Olá, Ana.
--Ah, oi Bastian.--ela responde, voltando a olhar para a baía.--O que faz aqui? Fui informada que estava numa missão ao Leste.
--E estava. Mas assim que souberam o que pretendia fazer, fui substituído e enviado ao seu encontro.--explicou, sem rodeios.
--Pretendia?--ela sorriu.--Bas, o que eu farei, você quer dizer.--o corrigiu. Ele fez uma careta, com sua exibição de espiritualidade.
--Não posso permitir! É imprudente e bárbaro.
--Seguir meu próprio caminho é bárbaro?--sua voz soou carregada de inocência.
--Desobediência é!--ele bradou.--Sair do seu caminho é.
--Mas, Bastian, qual é o meu propósito? Eu não sei, mas irei descobrir.
--Se o fizer, não ira longe. Encontrará a morte.
--E muitas outras coisas.--ela contrapôs.--A morte é inevitável. Uma conclusão para alguns e o começo para outros.
--Não para nós, Ana.--ele insistiu. Precisava fazê-la mudar de idéia.--Temos a vida eterna e se mudarmos o caminho, só haverá morte.
--Por que você acha que estamos vivos agora?
--Blasfêmia!--silvou. Ela não se abalou, apenas lhe lançou um olhar triste. Saltou da rocha, e parou de frente para ele.
--Não é pecado querer sentir.--murmurou, erguendo a mão, pondo-a sobre o coração dele.
--Não fomos talhados para isso.--ele discordou, imóvel.
--Não? Então, porque sinto meu coração bater? Por que ele está batendo tão forte agora? Por que posso sentir o calor de um corpo, do seu corpo... na palma da minha mão.
--Por que está se afastando de nós.--Bastian sussurrou, tocando a mão dela que ainda estava sobre seu coração.--Está se tornando uma...--ele pareceu ter dificuldade em dizer a próxima palavra. Ela deslizou sua outra mão por seu peito e ficando na ponta dos pés, tocou seus lábios nos dele.
--Humana.--terminou por ele, então se afastou, dando-lhe as costas e se pondo a andar para longe.
--Ana!--Bastian a chamou. Mas foi em vão. Ela não queria ouvi-lo. Não queria mais fazer parte do mundo dele e a cada passo que dava para longe, menos o ouvia.
Um raio atravessou o céu limpo, e ele escutou o chamado. Se curvou, fazendo sua majestosas asas se abrirem e seguiu o caminho que lhe fora ordenado. Mas, pela primeira vez, não era o que ele queria.
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Consequência Impiedosa
القصة القصيرةEsse é o primeiro conto de um projeto mensal, onde todo mês será lançado uma história curta de gêneros diversos. Esse é o Conto UM - Consequência Impiedosa