Uniforme e calça de moletom

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- S/N venha jantar, tenho uma surpresa.

Abri os olhos quando escutei meu pai batendo na porta, jantar? Por que descer para jantar? Peguei meu celular para ver as horas, eram 21h, eu dormi quase um dia inteiro. Sentei na cama, me espreguicei e levantei para a abri a porta, assim que saí do quarto vi Jin saindo do quarto dele, no mesmo estado de zumbi que eu devia estar. 

- Jantar e surpresa? – Ele me encarou sonolento.

- Pois é

-  Alguma novidade? – Ele foi até a escada e eu fui atrás dele. 

- Nosso vizinho se chama biscoito.

- Biscoito? – Ele parou de descer e olhou para mim no degrau de cima – Como você sabe?

- Abri a cortina do meu quarto e dei de cara com ele sentado na janela da casa ao lado, estranho né?

- Bastante – Ele desceu mais dois degraus, parou novamente e olhou para mim – o nome dele é biscoito mesmo?

- Ele falou que é alguma coisa cookie, kook, sei lá algo assim, vamos logo. – Dei um leve empurrão para ele continuar descendo as escadas.

- Legal, o nome do cara é biscoito, será que ele sabe qual é a tradução do nome dele? – Ele começou a rir, paramos na sala e olhamos para a cozinha, nesse momento Jin me cutucou e falou baixo – por que estamos jantando em família mesmo?

- Deve ser porque chegamos hoje, pega leva e não dá bola fora. – Respondi baixo também, quando vimos que nosso pai e nossa avó estavam vindo da cozinha para a sala disfarçamos e sorrimos.

- Dormiram bem? – Perguntou nossa avó, e nós acenamos com a cabeça que sim. Era estranho chamá-la de vó, eu nem lembrava dela, ao que eu sabia ela só tinha ido para o Brasil nos visitar quando eu tinha quatro anos, não éramos próximos. Ela parecia ser uma senhora gentil e bastante sorridente – que bom.

- Crianças olhem só – Meu pai levantou dois cabides para nos mostrar as roupas penduradas nele, em um cabide tinha um conjunto de saia pregada cinza, com um terninho preto, camisa branca e uma gravata azul, já no outro cabide parecia ser uma roupa igual só que na versão masculina, com calça social cinza no lugar na saia. Nosso pai olhava as roupas sorridente.

- O que é isso? – Perguntei com receio da resposta.

- Como assim o que é isso crianças – Minha avó riu, e tanto eu como Jin não entendemos a situação.

- São os uniformes de vocês – Nosso pai reparou que de fato não sabíamos do que se tratava aquelas roupas e ficou surpreso – vocês não usavam um no Brasil?

- Uniforme pra que pai? – Perguntou Jin confuso.

- Uniforme de escola – Respondeu meu pai.

- Tudo isso? – Eu encarava aquela roupa e não sabia se ria ou se chorava.

- Como assim tudo isso filha?

- Temos que usar o uniforme inteiro, não pode ser só a camisa?

- Claro que não Jin – Respondeu minha avó chocada – imagina, ficaria horrível, o uniforme é um orgulho para o aluno, tem que estar sempre completo e bem conservado, não são lindos? – Minha avó olhava os uniformes encantada. – é igual ao da época do seu pai, claro que hoje em dia o tecido é melhor, e o corte está um pouco mais moderno, e a saia das meninas está mais curta, mas mesmo assim.

- Um momento – Ainda bem que Jin resolveu falar alguma coisa – quer dizer que é obrigatório usar o uniforme inteiro para ir para a escola?

‐ Sim filho, na sua escola antiga não era assim? Eu me lembro que quando vocês iam para a escola tinha uniforme

- É pai – Não me aguentei – quando a gente tinha oito anos, as coisas mudaram e bastante por sinal.

- Ah eu não sabia filha – Meu pai ficou um pouco sem graça – aqui é comum os estudantes usarem uniforme completo até se formarem no colégio.

- Vocês não ver que os uniformes são muito confortáveis, e todos vão estar usando o mesmo, não serão diferentes – Minha avó tentou remediar a situação.

- Como vou usar saia nesse frio?

- Eu comprei meias para você, mas você também pode usar calça de moletom por baixo, essa aqui – Ele mostrou no sofá um conjunto de calça e casaco de moletom cinza e azul – faz parte do uniforme de educação física da escola.

- Você acabou de sugerir que a S/N use calça de moletom por baixo de uma saia? – Jin estava tão chocado quanto eu.

- Crianças, eu sei que a Coreia é um país muito diferente do Brasil, mas com o tempo vocês vão ver que não é tão ruim quanto parece, vocês vão se acostumar.

- Acho que perdi a fome. – Falei enquanto olhava o uniforme de educação física

- Somos dois. – Jin concordou comigo. Eu virei primeiro e comecei a subir as escadas com Jin logo atrás.

- Mas crianças... – Meu pai tentou falar alguma coisa.

- Deixa eles filho, é tudo muito novo para eles, dê um tempo a eles. 

Assim que subimos, olhamos um para o outro, não dava para dizer que o quarto de Jin seria o melhor quarto para ficarmos, se o meu era rosa e o dele tinha decoração de futebol, decidimos ficar no menos pior, o meu, Jin se jogou na minha cama e eu sentei no chão apoiando as costas na cama. 

- Fala sério Jin, tem como piorar? 

- Não sei maninha, não sei mesmo. 

- Acha que vamos nos adaptar?

- Acho que sim, nosso pai e nossa avó podem ser estranhos, mas eu duvido que as pessoas da nossa idade também sejam.

Destino, Coreia! (BTS)Onde histórias criam vida. Descubra agora