Capitulo Um

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No dia de hoje...

Ola Penny! Sabes que há quem diga que o William Shakespeare nunca existiu?

Olho para a mensagem de texto do Elliot e suspiro. Durante o tempo que estive a assistir ao ensaio geral do Romeu e Julieta ( três horas da minha vida que nunca irei recuperar), o Elliot bombardeou-me com centenas de mensagens aleatórias sobre Shakespeare. A ideia dele é aliviar o meu tédio, mas, falando a sério, alguém precisa realmente de saber que o Shakespeare foi batizado em 1564? ou que teve sete irmãos?

-Penny, podes tirar uma foto da Julieta a debruçar-se da rulote? 

Agarro rapidamente na máquina fotográfica e assinto com a cabeça ao professor Beaconsfield.

-Sim, senhor.

O professor Beaconsfield é o docente de teatro do 11ºano. É um daqueles professores que gosta de «descer ao nível dos miudos» - todo numa de gel no cabelo e « tratem-me por Jeff». É também ele a razão para a nossa versão do Romeu e Julieta se passar num ghetto de Brooklyn e a Julieta estar debruçada de uma rulote em ver de ser de uma varanda. A minha MAE (Melhor Amiga De Escola), a Megan, adora o professor Beaconsfield, e a verdade é que ele a escolhe sempre sempre para os papeis principais. Pessoalmente, acho-o um bocadinho sinistro. Os professores não deviam querer andar por aí na companhia de adolescentes. Deviam antes querer dar notas e preocupar-se com inspeções escolares, ou seja lá que eles fazem na sala de professores.

Subo os degraus na escada lateral do palco e agacho-me por baixo da Megan. Ela tem um boné de basebol a dizer SWAG e uma corrente de ouro falso com um enorme e dourado símbolo do dólar pendurado ao pescoço. Nunca na vida ela se deixaria ver, nem morta, com aquela indumentária num outro sitio qualquer. Mas a sua adoração pelo professor Beaconsfield chega a este ponto. Estou prestes a tirar uma fotografia, quando Megan me cicia.

-Vê lá se não apanhas a borbulha.

-O quê? - sussurro em resposta.

-A borbulha que tenho no nariz, de lado. Vê lá se não aparece na fotografia.

-Ah, esta bem.- Chego-me para um lado e faço zoom. A luminosidade deste lado não é a melhor, mas pelo menos não se vê a borbulha.

Tiro a fotografia e viro-me para sair do palco. Nesse momento, olho de relance para o auditório. Tirando o professor Beaconsfield e os dois diretores-adjuntos, os lugares estão todos vazios. Dou um instintivo suspiro de alivio. Dizer que não me dou muito bem com multidões seria um bocado como dizer que o Justin Bieber não se dá muito bem com os paparazzi. Não sei como é que as pessoas conseguem atuar em palco. Eu só precisei de lá subir por uns segundos para tirar uma foto, e mesmo assim já me senti pouco à vontade.

-Obrigado, Pen- diz o professor Beaconsfield, enquanto eu me apresso a descer os degraus. Mais uma caracteristica arrepiante nele: a maneira como nos trata a todos por diminutivos. Convenhamos,a serio! Que a minha familia o faça, tudo bem; mas não os meus professores!

No preciso instante em que regresso ao meu porto seguro na parte lateral do palco, o meu telefone torna a apitar.

Oh,meu Deus. No tempo do Shakespeare, a Julieta era representada por um homem!

Tens de contar ao Ollie -Eu adorava ver a cara dele!

Levanto os olhos para o Ollie, que de momento olha fixamente para a Megan.

-Mas, calma! Que luz irrompe por aquela janela?- diz ele, com o pior sotaque nova-iorquino de sempre!

Não consigo evitar um suspiro. Embora o Ollie esteja vestido com um fato ainda pior que a Megan - que o faz parecer um cruzamento entre um convidado do programa do Jeremy Kyle e o Snoop Dog -, mesmo assim,ainda consegue estar giro.

O Elliot detesta-o. Acha que o Ollie é muito vaidoso e chama-lhe Selfie Ambulante, mas a verdade é que ele não conhece bem. O Elliot frequenta um colégio privado em Hove e só viu o Ollie uma vez ou outra, quando esbarrámos com ele na praia ou na cidade.

- A Penny não me devia tirar também uma foto nesta cena?- Pergunta o Ollie, depois de conseguir chegar ao fim do seu discurso.

Ainda está a falar com o seu sotaque americano falso- que anda a treinar desde que lhe atribuiram o papel. Ao que parece, é o que fazem todos os atores de craveira. Chamam-lhe <representar de com os métodos>.

-Claro que sim, Ollie- diz o Tratem-me-por-Jeff. - Pen?

Pouso o telemóvel e volto a subir os degraus


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⏰ Última atualização: Dec 26, 2015 ⏰

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