Greve

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— Puta que pariu! Mais um aumento de taxas pras exportações do estado?! No que o Brasil tá pensando?! Assim fica mais barato importar do Argentina ou Uruguai ou de qualquer outro do que da gente mesmo! — Sul gesticulava golpeando o papel com a mão. — Vocês receberam isso também?

Abanou a folha chamando atenção dos colegas de sala.

— Sim.... — Catarina respondeu pesarosa. — Eu não sei mais o que fazer pra contornar isso. Vou acabar quebrando....

Se lamentou ao mesmo passo que Paraná se limitou a ser monossilábico já que não se dava bem com o gaúcho.

— O mesmo.

— Isso é injusto! Muito injusto! — Respirou pesadamente passando a mão no rosto tentando se acalmar.

— Se continuar assim não sei o que que eu faço. — A mulher disse com um tom de desespero na voz. — Se ao menos a gente mesmo mandasse nesse tipo de coisa....

— Como um estado independente.... — Sul murmurou pensativo. — Vamos tentar conversar com o Brasil e os outros estados pra ver se tem alguma solução. — Convidou os outros dois. — Se não a gente pode fazer greve também, quero ver eles tentarem funcionar sem a nossa ajuda.

Decretou sozinho, voltando a ler o documento em mãos. SC e PR se limitaram a trocar olhares, realmente a coisa estava ruim, mas não eram tão esquentados como o colega pra decidir fazer alguma coisa desse jeito.


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— Vais de novo nas garotas?

Norte perguntou ao irmão enquanto se apoiava no carro dele claramente no caminho. Havia percebido que estava bastante frequente desde que apresentara o local, pelo menos duas vezes na semana, no mínimo. Dava para ver pelo seu comportamento. E a ressaca quase todo dia, ele estava bebendo em casa. Era preocupante. Muito preocupante.

— Isso não é da tua conta. — O barbudo respondeu mal humorado enquanto guardava algumas coisas no banco de trás antes de rumar para o lugar do motorista.

— Eu já falei que é sim galado. — O encarava afiado. — Eu entendo a necessidade, mas já tá demais cabra!

— Não, tu não entende. — Se aproximou ameaçadoramente.

— Sul. — O potiguar murmurou triste e dolorido de ver aquilo. Era óbvio que o loiro estava em crise com alguma coisa e não estava sabendo lidar. — Maninho, eu me preocupo contigo. Tu sabes muito bem disso.

O gaúcho suspirou fundo. É claro que sabia. Era seu irmão! Também sabia que todas aquelas visitas ao puteiro era uma fuga dele de si mesmo. Mas não estava pronto para lidar com aquilo. Empurrou o maior para o lado e abriu a porta de sua caminhonete para entrar logo e esquecer aquela discussão, suas preocupações, seus pensamentos e suas memórias. Talvez hoje esvaziasse outra garrafa de cachaça enquanto afundava a cara nos peitos de uma das putas. Deu a partida e saiu logo dali.

Norte observou o carro dele se afastar em direção àquela casa. Precisava pensar numa forma de ajudá-lo. Talvez fosse hora de colocá-lo contra a parede e arrancar o que aconteceu de tão extremo naquela tal de missão que ele foi. O que que lhe incomodava tanto.


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— Eu tô falando que isso não tá dando certo Rio! — Sul falava alto na sala da capital.

— Irmão! Tá assim pra todo mundo! Cê tá se achando demais achando que é o único que tá na merda! — RJ também estava estressado com aquilo tudo, era um problema que não conseguia resolver sem o Brasil, mas o bonito não tava ajudando.

— Então avisa pro patrão que a minha colaboração ele não tem mais! — Esbravejou e saiu pisando duro da sala.

— Eu não posso fazer nada se ele quiser cortar seu salário! — O carioca falou alto para as costas do gaúcho. Recebeu um dedo do meio por cima do ombro.


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— O Sul tá estranho Sampa. Agora ele veio com um papo de greve. — Paraná olhou para o amigo, o acompanhava na área de fumantes. — Como se eu fosse entrar nessa!

— Meo, a empresa não tá muito legal ultimamente. — Soltou a fumaça para cima. — O que ele acha que vai conseguir com uma greve?

O menor suspirou.

— Eu não sei. — Deu de ombros. — Independência? Mas desse jeito ele vai ficar em farrapos. Parece que o Brasil já até cortou o salário dele. Mas eu não sei muito dos detalhes neh, já que a gente não conversa muito.

— Só se xingam mesmo. — São Paulo completou com o humor ácido dando mais um trago em seu cigarro. O paranaense conseguiu soltar uma risada irônica seguido de silêncio. — Como vocês estão nesse quesito? Ele falou aquelas coisas de novo?

— E tem como parar se é aquilo que ele pensa? — Suspirou desviando o olhar. — Mas realmente depois do soco do Norte ele não falou nada tão horrível como daquelas vezes. Não parou, mas não foi tão ruim entende.

— Hum... — Correspondeu ao pensamento de forma neutra.

— E tu com o Rio? — PR perguntou genuíno, recebeu um olhar melancólico do paulista.

— O de sempre pra variar. Mas agora ele está bem ocupado com a escolha da nova capital então não estamos nos vendo muito. O que até é bom, consigo trabalhar em paz. Ainda mais nessa crise da empresa.

Paraná encarava atento a face cansada do outro.

— Mas tu sente falta. — Murmurou suave. Conseguia se projetar naquele sentimento.

SP se limitou a desviar o olhar, silenciosamenteadmitindo.




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Pegaram a referencia dos farrapos? Eu me senti muito esperta com isso hahahahahahahahahaha 

Caham... sim é a referencia histórica da guerra dos farrapos em forma de greve trabalhista haha ;)

Acho q vai funcionar bem

Ai, ai... Sul se afundando cada vez mais tb.... ;-; Chega a dar dó

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