Na manhã de seu nonagésimo dia, uma intimação, uma carruagem, nenhuma escolha. Taehyung se via outra vez nas portas do grande palácio que há três meses chamaria de "casa". Agora parecia mais um amontoado cinzento de blocos sem vida. Pediu ao cocheiro que o esperasse lá fora, não pretendia demorar. Não via a hora de estar de volta ao campamento. Quando saiu pela manhã, Jungkook estava emburrado. O fez jurar que voltaria ainda naquela tarde, tinham que treinar juntos. Disse ao moreno que voltaria para brincarem, assim como prometeu a Hoseok que o traria novos livros. Também jurou a Yoongi que dariam sua volta naquela noite.
Havia virado um hábito. Todos os dias no mesmo horário o mais velho aparecia em sua tenda, o convidava para andar. Zanzavam sem destino, conversando sobre tudo que há para se conversar. O ensinava sobre história, Yoongi o mostrava as estrelas. Por vezes, suas mãos silenciosamente se encontravam, deitados na relva molhada. Taehyung se sentia próximo do rapaz bonito, achava conforto em sua presença e em seus olhos bonitos. Se deitava em seu ombro, suspirava. Aquele sim era um grande rei. Sábio, inteligente. Sonhador. Ele olhava pro céu noturno e viajava em tudo que havia lá, buscava explicações. Era o que Taehyung mais admirava. Ele sonhava alto, queria dividir e conquistar. Estabelecer algum tipo de paz, uma economia em que todos cooperassem para viver sem a fome por riqueza. Era tático, ignorante e áspero em suas palavras e decisões enquanto regente. Também era doce, suave e romântico enquanto quase-amante. Taehyung não via a hora de voltar para o abraço cheiroso, para a voz suave e as palavras bonitas. "Volte em segurança ou eu te esfolo", disse enquanto seus braços rodeavam seu corpo. " Eu juro.", prometeu.
— Meu sobrinho! Finalmente. — O rei Carlos sorriu, nenhum calor por trás de seu sangue de serpente. Seus olhos focaram nos adornos de prata em suas orelhas, nos cabelos grandes que se espalhavam pelos lados e nas roupas escuras. Nem imaginava os tipos de tortura que infligiram ao seu sobrinho naquele antro de selvageria.
— Saudações. — Se curvou.
— Quais notícias trouxe? — Foi ríspido.
— Posso me dirigir aos meus aposentos? Gostaria de tomar um banho.— E não gostaria de encarar o interrogatório tão cedo.
— Vá. Tire o fedor viking impregnado em suas juntas. — Taehyung quis sorrir, pensando em como o tio realmente não sabia de nada.
Taehyung subiu as escadas, o quarto mais alto da torre mais alta. Só havia trago a roupa do corpo, camisa bege, calças avermelhadas e botas de montaria. Abriu a porta pesada, encontrando um conhecido par de ombros dobrando lençóis.— Milorde? — Seokjin quase caiu para trás.
— Por Odin, eu senti tanto a sua falta. — Correu para abraçar o mais velho. O mais velho parecia magro, seu rosto muito mais fino que da última vez. As olheiras em seu rosto eram fundas.
— "Por Odin"? — Levantou uma das sobrancelhas. Taehyung era tão religioso! Sua família construiu uma catedral no dia em que ele nasceu, por Deus. Já estava cometendo blasfêmias.
— Me perdoe. Costume. — Sorriu apologético.
— Eu não acredito que você está de volta. — Sua preocupação com a mania conquistada deu lugar ao alívio por tê-lo ali novamente. — Finalmente! Preciso ir contar ao Namjoon. Não! Você precisa me contar tudo primeiro, nós temos que nos reunir,
— Jinie, não tenho tempo. — Suspirou cansado. — Meu tio está lá embaixo, nada contente.
— Não tem tempo? Acabou de chegar. — Seus olhos tristes encaravam o rapaz que parecia querer partir outra vez.
—Estou indo para o acampamento outra vez.
— Que tipo de castigo é esse? — Ir e voltar assim, o que estava tramando?
— Eu… eu quem quero voltar pra lá. — Segredou baixinho. — Prometi que estaria no acampamento antes do anoitecer.
— Prometeu? Prometeu para quem, Taehyung?
— Ao rei. — Era citar o mais baixo e sentir o peito leve como o bater das asas de uma borboleta. — Oh, Jin. Eu garanto, você não está preparado para um homem como aquele.
— Milorde, o senhor perdeu as estribeiras?
— Todas, todas elas. — Sorriu como um tolo. — Ele é tão! Uau. Me ensinou tanto nestes meses, imagine o que faria em mais. Em anos.
— ANOS?!
— Shhhh! Deixe-me sonhar. — Sonhava com pergaminhos, tinta e runas. Com cabelos pretos, olhos brilhantes e uma voz grossa. Ultimamente, só sabia sonhar com corvos.
— Você enlouqueceu! Perdeu a cabeça completamente!
— Está tudo aqui. — O entregou seu diário, olhando para os lados. — Cada detalhe, história. Tudo está aqui. Guarde este caderno com a sua vida. Eu morro se isso cair nas mãos erradas. Escrevi para você.
— Morre? Milorde, o que tem aqui?
— Os meus maiores segredos. Morro de vergonha! — Seokjin riu. Levaria a sério o pedido.
Taehyung trocou de roupa, tomou o merecido banho quente. A água do castelo não era tão boa quanto a do rio que corria ao lado do acampamento. Desceu as escadas, respondeu todas as questões. Mentiu, mais do que já mentiu em toda sua vida. Disse não saber de nada, não ter visto ou ouço nada. Afirmou não entender a língua dos grandes homens, nem sabia o nome do rei. Reuniões? Planos de guerra? Não, não o deixavam saber sobre isso. Chegou aos ouvidos de seu tio que tudo o que fazia era ficar em sua tenda o dia inteiro, sendo guardado por soldados ferozes.
Só seu diário sabia. Só ele sabia como entendia, o que viveu. Tudo o que presenciou, os planos de batalha que Jimin o deixou ver. Tinha a confiança daquele povo, e jamais a quebraria. Era um homem de palavra.— Devo ir agora, Jin. — Se despedia do amigo com o peito apertado. Gostaria que ele o acompanhasse.
— E você volta?
Taehyung sorriu triste.
— Te escrevo outro diário. Com atualizações ainda melhores.
— Então, esperarei ansioso. Até a próxima, milorde. — O puxou para um abraço, suspirando. — Cuidarei de seus segredos.
Quem também cuidaria era seu tio, ouvindo tudo por detrás das paredes.
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Mon Cœur Vaillant.
Fanfic•Commission• Um casamento arranjado parecia a salvação do país. Taehyung tinha certeza que sim, tudo correria bem desde que se casasse com a majestade do norte, O Rei Dos Vikings. Um selvagem , certamente grande, fedorento e peludo. Tudo em nome do...