7. Delegacia

25 7 2
                                    

Eu mal consegui dormir, passei a noite em claro, imerso em pensamentos enquanto encarava a adaga na minha mesinha de cabeceira. Acabei cochichando em algum momento e acordei assim que o sol apareceu.

Me arrumei e saí rapidamente comendo um pão no caminho para a delegacia.

Tentei ligar e mandar mensagens para Namjoon, mas ele não retornou. Sei que a essa hora ele deve estar no trabalho, então vou direto para lá.

Chego na delegacia, uma estrutura pequena, apenas para abrigar os poucos funcionários e os recursos ainda menores.

Não costumamos ter muita criminalidade no Vale das Sombras, porém, com esse novo caso "secreto", a delegacia tem ficado mais movimentada e os funcionários estão trabalhando em dobro.

A última vez que vi a polícia trabalhar assim foi só no assassinato do meu irmão, há quatro meses.

Me lembro disso quando entro, a última vez que estive aqui foi para dar meu relato da noite em que perdi Jihyun.

Está o caos que eu já esperava, Yoonjun passava carregando uma pilha de papéis, o Jackson lidava com uma papelada no balcão de atendimento.

Dava para ouvir, das outras salas, conversas e sons de escritório, como grampos, telefones tocando, a cafeteira ligada, bufadas e exclamações de frustração.

Yoonjun entrou em uma sala sem me ver e eu me aproximei do balcão, onde Jackson se assustou ao notar minha presença.

— Que susto, garoto! — Jackson disse.

— Desculpa — Eu sorriu sem graça. — Como vai?

— Estou bem... na verdade, um pouco cansado. As coisas estão um caos aqui.

— Eu sei. Não vejo meu primo há dias. Falando nisso, eu vim falar com ele. Sabe se ele está ocupado?

Jackson se levanta do banco e vai até a mesa atrás dele, onde fica a cafeteira.

— Não sei. Ele está obcecado com esse caso, está fazendo de tudo para achar um culpado e solucionar os homicídios. Nunca vi ele assim, parece uma máquina. — Ele dizia enquanto enchia um corpinho de café. Jackson é um lobo, assim como os outros na delegacia. Ele é bem legal, contrário de Yoonjun, o filho do xerife todo mesquinho e desocupado que só sabe criticar a cidade inteira e mal ajuda o pai no trabalho. — Quer café? — Ele oferece, eu aceito, afinal não dormi e provavelmente nem dormirei.

Jackson me dá o copinho e bebe o dele de uma vez só.

— O Namjoon está na sala dele, pode ir lá — Ele diz por fim.

— Obrigado — respondo e vou para o corredor ao lado do balcão, assopro um pouco o café.

O corredor é curto, tem apenas quatro portas, uma sendo o banheiro. Tem a sala de Namjoon, a sala do xerife e uma sala própria para interrogatórios.

Eu bato na porta com o nome do meu primo e a abro a ouvi-lo gritar para entrar.

— Bom dia flor do dia — Eu digo ao entrar.

Namjoon está sentado em sua mesa, o corpo curvado, visivelmente cansado. Detonado, na verdade. Seu rosto com olheiras e pálido pela falta de cuidados.

— Você está péssimo — Acabo dizendo.

— Me diz uma coisa que eu não sei — Ele retruca, a voz rouca de quem está desidratado.

— Bom — Eu começo, pego a adaga que trouxe escondida numa sacola, onde tem um pote com pão para o meu primo. — Acho que isso você vai gostar de saber... ou não.

Vale Das Sombras: Cidade do Bem e do MalOnde histórias criam vida. Descubra agora