Capítulo nove

0 0 0
                                    

LISA

Eu nunca tinha parado para pensar sobre minha sexualidade, nunca pensei, que um padrão foi imposto na sociedade e todos seguem e consideram como "normal", como o heterossexualismo.

E com isso, nunca abri o meu leque de relacionamentos, mas percebi o quão rasos eram, sempre faltava algo.

Certo dia, quando eu vi uma certa mulher e em uma certa ocasião, eu percebi.

Caralho, eu gosto de mulheres.

Eu nunca tinha sentido isso, a tensão sexual, arrepios, química, mas com Ayanna foi diferente, ela me ajudou a descobrir algo sobre mim.

Agora muitas coisas fazem sentidos, e agora eu consigo enxergar tudo pela visão deles, como a sociedade impõe padrões e os classifica, LGBTQ+.

Eu não posso afirmar que me identifico com uma sexualidade, eu odeio rótulos, eu só sou eu e me relaciono com as pessoas que me atraem, não é tão complexo o quanto parece.

O que me é estranho, é o fato de ter que se "assumir" pra alguém, por que meninas não assumem para os pais que gostam de meninos? E visse e versa, mas o por que eu tenho que me assumir e dizer que gosto de mulheres? O que eu tenho de diferente? Qual o intuito?

Isso sim é complexo, esse universo de separação, o fato da diferença.

Aos poucos estou digerindo isso e percebendo que quanto mais eu tento entender mais eu não entendo nada.

Então, eu só sou eu, Lisa Lenz.

[...]

Estou almoçando com a minha mãe, é meu primeiro almoço com ela aqui na minha casa nova, fiz macarronada com molho branco, o favorito dela.

— Esse apartamento está a sua cara. — Ela limpa a boca com o guardanapo e encosta na cadeira.

— Eu que escolhi a maior parte da decoração.

Olho em volta observando a cor que se destacava era o branco e algumas pinceladas de azul, eu adoro a cor branca, me traz paz.

Mas a minha favorita com certeza é azul.

— Olhando ele, eu nem sei decifrar qual a sua cor favorita. — Ironiza.

Estou rindo quando sou supreendida por uma ligação, olho para a minha mãe e ela balança a cabeça sussurrando "Pode atender".

O número não está salvo, na tela vejo uma sequência de números mistos, quando coloco o telefone na orelha, minha mãe recolhe meu prato indo para a cozinha.

— Alô?

— Lis! — Uma voz aguda grita do outro lado.

— Sim, sou eu mesma. — Ainda cautelosa pois eu não estou reconhecendo essa voz.

— Sou eu, o Sol garota. — Estou rindo e muito.

— Caramba! — Bato na mesa e tampo a boca. — Quanto tempo, por onde você esteve?

— Viajando, para ser mais claro pegando uns boys estrangeiros. — Ouço um risinho maligno.

— Seu safado. Que saudade de você, por que não me ligou mais?

— Troquei de número, você nem imagina o sufoco que foi para recuperar o seu número, se sinta especial.

— Precisamos nos ver, quero muito ouvir as novidades! — Estou tão animada que não consigo me conter.

Mas aí lembro que estou com a minha mãe, ela passa do meu lado e da batidinhas no meu ombro sorrindo.

— Por onde você está agora? — Ele pergunta.

Incompatíveis Onde histórias criam vida. Descubra agora