Ouço baterem á porta, mas finjo não ouvir.
-"Não te preocupes, sou eu!" - Ouço a voz da minha melhor amiga do outro lado da porta.
E sem a minha autorização o meu corpo move-se em direção á porta, abrindo-a.
Ela abraça-me. Eu abraço-a de volta e sinto lágrimas escorrerem-me pela cara.
-"Porque é que nunca me disseste o que sentias?" - Ela diz enquanto me segura a cara com as duas mãos.
-"Não queria ser um fardo para ninguém, muito menos pra ti!" - Eu soluçava a meio do choro.
-" Tu não és, e nunca serás um fardo pra mim!" - Ela limpa-me as lágrimas.
-"Desculpa..." - Ela direcionou-me até á minha cama e sentamo-nos as duas uma ao lado da outra.
-"Não precisas de pedir desculpa, és muito importante pra mim, não te esqueças disso!"
Ficamos as duas abraçadas em silêncio durante muito tempo. O motivo disto tudo foi a minha tentativa de suicídio há algumas horas atrás. Acabei por parar no hospital, examinaram-me e finalmente pude ir para casa.
Só não morri porque a minha mãe acabou por ver a cena.
A minha mãe abriu a porta lentamente e disse que o jantar estava pronto.
- "Se quiseres podes ficar miúda."
- "É Layla senhora Jones.
A minha mãe fingiu que não ouviu e voltou a fechar a porta.
- "Mas então, sentes-te melhor?" - A Layla pergunta com um semblante preocupado estampado no rosto.
- "Depois que chegaste sim. Eu estava a sentir-me to mal... a minha mãe não merece nada disto."
- "Não te preocupes mais. Vai correr tudo bem daqui a diante." - Ela abraça-me novamente.
Uma das coisas que adoro na Layla é que sempre que preciso ela está lá, tenho medo de não estar lá pra ela.
Saímos do quarto para a sala de jantar e a minha mãe estava a pôr a mesa.
- "Quer ajuda senhora Jones?"
- "Não é preciso, sentem-se." - Obedecemos, e a minha mãe olha para mim.
- "Se não quiseres comer mais, não te obrigues querida, e sem pressas." - A minha mãe dá-me um beijo na bochecha e senta-se do outro lado da mesa.
Eu dou um leve sorriso.
O jantar estava silencioso, ninguém conversava. Mas, ouvia-se a Tv.
*Hoje por volta das onze da manhã, foi encontrado um corpo de um homem ainda não identificado numa área rural. Tudo indica ser um assassinato*
A minha mãe muda a televisão e volta a olhar para o seu prato quase sem comida.
O silêncio é quebrado quando o meu cão começa a ladrar do lado de fora, anunciando a chegada de alguém.
O meu pai abre a porta e entra disparado.
- "Ellen! A minha fi.." - Ele interrompe-se a si mesmo no momento que me olha nos olhos.
Ele anda na minha direção e pela primeira vez vi o meu pai a chorar. Ainda a olhar pra mim ele ajoelha-se perto da cadeira onde estava sentada e diz:
- "Sinto-me o pior pai do mundo. Não pude ir ao hospital que estavas por causa do trabalho..." - Ele baixa a cabeça e eu dou-lhe um abraço apertado que é rapidamente retribuído.
- "Pai... a única pessoa que tem que pedir desculpa sou eu. Tu e a mãe trabalharam tanto para eu ter a vida que sempre quis, e é assim a forma que agradeço? Desculpa, nunca mais vou fazer isto outra vez."
Acabámos a noite a chorar.
YOU ARE READING
Cura
Teen FictionSuperar certos problemas pode ser complicado, mas contigo aqui tudo faz sentido. (esta história está escrita em português de Portugal).