Era mais uma noite sombria em Liverpool onde as ruas úmidas refletiam a luz dos postes, criando um cenário perfeito para os habitantes das sombras. E lá estava John Constantine, um bastardo, um mago, um exorcista. De rosto cansado e sobretudo largo caminhava pela rua suja e vazia com um cigarro nos lábios e um sorriso curto e cínico, não ligando para o arrepio estranho em sua nuca e o vento gelado pelos cabelos loiros sujos.
O cheiro de enxofre pairava no ar à medida em que Constantine se aproximava cada vez mais do bar,era simples e medonho. Ele sabia bem o que estava fazendo quando adentrou o estabelecimento quase escancarando as portas é claro que não ia ser discreto em um ambiente como aquele, nada muito diferente de qualquer outro boteco sujo da cidade a não ser pelo simples fato de quase não haver humanos reais ali.
Criaturas de outro plano o desafiando com o olhar em seu traje de carne, Constantine não era vidente mas podia sentir bem e reconhecer um demônio quando o via mesmo se estivesse possuindo alguém. E então dois homens chegam por trás de John o segurando pelos braços e o empurrando pelo bar na multidão até uma pequena sala escondida atrás dos banheiros,onde na placa indicava ser o “depósito” é claro que não era, Constantine foi obrigado a descer uma longa escada e cada vez que descia para o subsolo mais ele podia sentir o cheiro podre de enxofre no ar pesado daquele bar úmido e cheio de mofos.
Seu cigarro caiu no chão e foi pisoteado enquanto era empurrado lugar a dentro,as luzes estavam baixas e havia muitas criaturas ali,súcubos,demônios,alguns magos e outras coisas que o velho John não ousou olhar. O bar era apenas um disfarce para aquilo tudo,abaixo tinha o que os ocultistas costumam chamar de “Mercado noturno” um leilão de verdadeiros achados para a magia,coisas que ali podiam facilmente desde derreter um humano de dentro para fora a matar um anjo.
Um jogo de mentes e magias que nenhum mortal ousaria sequer imaginar. E naquela noite, mais uma vez, John Constantine ia fazer uma besteira de negociar com demônios.“esvazie os bolsos Constantine.”
Uma voz avisa antes de John passar pela guarnição da porta.Constantine sorri e passa a mão pelos cabelos.
“Ora,qual é amigão?Eu não sou uma ameaça aqui conheço bem as regras.”
O inglês afirma antes de virar a cabeça para o lado em que a voz vinha com um rosto transbordando de deboche.A figura imponente se levanta,um homem grande com feições de demônio, obviamente estava possuindo um pobre infeliz que ousou esbarrar com a criatura do inferno.
“Não foi um pedido Constantine.”
John revira os olhos e ergue as mãos em sinal de rendição.
“Tudo bem,tudo bem,esvaziando os bolsos”
O Inglês abre o longo sobretudo e tateia algo dentro dos bolsos internos,retirando um molho de chaves,uma vela preta quase no fim, canivete de prata,um isqueiro dourado com vários escritos e símbolos,uma caixa de cigarros Silk cut e por último retira um cartão de visitas com um nome e descrição:
John Constantine
Demonologista,exorcista e mestre das Artes ocultas.
404(555)-0166“aí está”
John diz antes de finalmente passar pela porta ajeitando a gola de seu casaco.
O lugar era pequeno apesar de repleto de criaturas,pouca iluminação muito fétido e abafado pelo cheiro podre de enxofre.“Malditos demônios,deixam seu rastro para trás como se…”
John é esbarrado e encarado por uma figura imponente de chapéu e uma manta roxa escura e olhos negros como a noite,seu perfume exalava a pesadelos e John o reconhecia bem de tempos passados.
“John Constantine.”
O homem se refere abrindo um leve sorriso de irritação. John engole em seco mas sorri igualmente pondo as mãos no bolso do sobretudo.“Midnite,filho da…puxa faz tempo que não te vejo,desde…hm…Nova York?”
“Digo o mesmo Constantine,pensei que a esta altura estaria morto em qualquer beco com a boca arrebentada e sem coração”
O moreno o encara com um olhar psicopata e um leve riso na voz.
John suspirou e desviou o olhar com uma risada sem graça.“Midnite,que flerte. Vejo que ainda não superou sua derrota.”
John debochou ao virar novamente para ele. Midnite o agarra pela gola da camisa aproximando seus rostos.“Não me faça te matar aqui mesmo John você ainda me deve.”
Antes de Constantine ter qualquer reação uma voz bem alta e gutural ecoa pelo lugar.
“Senhores,senhoras,demônios e criaturas da noite,é nesse momento nesse clima tão acolhedor que começará o leilão. Se preparem e preparem suas carteiras e suas trocas, o nosso anfitrião chegará em breve.”
Midnite solta John e com um olhar de aviso se afasta junto com mais dois homens,John ajeita a camisa e se enfia no meio dos outros para chegar perto do palco.
Constantine observava com desdém e desconforto as figuras sinistras ao seu redor, sabendo que ele próprio não era exatamente um poço de virtudes. O objeto em questão se chamava “Ficha do Inferno”,uma moeda de uso único capaz de trazer o usuário de volta a vida caso ele vá para o inferno.
“Que comece o leilão!”
Dessa vez é uma voz alta e feminina que ecoa pelas paredes,fazendo todos ali presentes ficarem em silêncio,a mestre de cerimônias era uma mulher alta,ruiva,e de olhos brilhantes,tinha um sotaque londrino e vestia uma roupa social toda branca.Assim, em poucos segundos o mercado noturno se inicia,e tudo parecia até calmo no primeiro momento até aparecer algo que realmente era valioso,os olhos do velho Constantine brilham.
“O primeiro lance será desse magnífico achado,perdido em uma vila na África. Ficha do inferno.
Diz a mulher de cabelos ruivos e um sorriso maldoso no rosto.“Eu lhe dou 50 mil,e terra de cemitério ao lado dos portões do inferno.”
Uma voz fraca atrás de John,sugere com o braço levantado.“isso não vale nada aqui,quem dá mais?”
A mulher responde com escárnio.“o sangue e o ¾ de uma virgem”
Outra voz soou alta e com uma leve risada no fundo do local.“É disso que estou falando. Quem dá mais?”
“Uma pena de anjo e uma lágrima congelada de Merlin”
Uma voz aguda e abafada soa ao longe perto do palco.
A mulher sorri e dá uma risada.“Pena de anjo e lágrima congelada de um mago?quem dá mais?”
Todos na sala ficaram em silêncio,a mulher sorri e ri alto.
“Dou-lhe uma…dou-lhe du…”
A ruiva se interrompe quando Constantine ergue a mão.“O relógio eterno do Destino.”
John fala e a sala continua em silêncio,alguns demônios o encaram intrigados,o tal relógio era tão raro. O próprio Nabu tinha o feito. Segue se a lenda que o relógio era capaz de mudar o tempo e moldá-lo mesmo que por poucos segundos,virando a sorte para seu portador. A mulher o encarava seriamente com o rosto de puro choque,a pena de um anjo em si podia fazer muito estrago mas isso…era outro patamar,o lugar continua silencioso,até a mulher finalmente bater o martelo.
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Constantine: O equilíbrio das trevas
General FictionJohn Constantine com seu charme é o terror dos infernais, um exorcista conhecido praticador das artes ocultas um vigarista egoísta, luta contra o mau, arrogante, individualista. Esse é o velho Constantine que enfrenta os imortais, não importa se é a...