Calça Rasgada

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No topo do maior morro da Lagoa da Conceição, está lá, minha casa. É bem simples, mas dá para brincar bastante no terreno! O ruim é que não tem muita gente aqui, ou seja, não tenho muitos amigos. As únicas pessoas que estão aqui são: minha mãe e meu pai.

Bem, o meu pai nunca pára em casa e minha mãe trabalha o dia inteiro, então eu sou bem solitário mesmo. Das poucas vezes que eu vou para a cidade, ouço histórias muito assustadoras, e uma delas envolvendo onde eu moro! Dizem que em noites de lua cheia, um lobo gigante uiva no topo da maior colina, para que assim, encontre sua família perdida em meio a tanto mato.

A história me parece falsa! Sabe, eu moro no topo do morro desde que eu nasci, e nunca me deparei com um lobo gigante ou algo parecido! Mas devo confessar, me senti curioso e corajoso para me certificar de que essa história realmente é falsa! Pois ora, eu moro logo ao lado do topo, tenho a magnífica chance de ver de perto... ou não ver o lobo! Me parece interessante, e bem assustador.

Me sinto sozinho e com frio, por que eu tive essa ideia? Eu já tô muito longe de casa, eu to com medo, eu não sinto mais nada, eu não consigo parar de andar. O que é esse som? Eu quero voltar! Eu não consigo voltar! O que está acontecendo? Eu quero a minha mãe...

Com esse sentimento inexplicável de vontade extrema, mas essa vontade não é minha... mas ao mesmo tempo parece ser minha...? Eu não sei de mais nada, eu só quero dormir e acordar amanhã na minha cama, com a minha mãe dando carinho na minha cabeça e me dando bronca porque acordei tarde. Por que eu to chorando? É o medo? É isso que o medo faz com as pessoas? Parece que eu finalmente entendi... mas o que? Parece que eu tenho mais conhecimento, do que? Eu não sei... quanto tempo eu to aqui?

Andando, pensando, tremendo, chorando, tudo o que eu poderia fazer, mas nada do destino chegar. Eu vejo o topo mas não consigo chegar nele nem que eu tente, mas eu to tentando, eu to andando, mas não é com as minhas pernas, parece que algo está andando por mim, algo que toca as minhas pernas e braços, me impossibilitando de me largar dessa terrível maldição.

Eu estou ouvindo uma música, parece ser de um violão, algumas notas parecem estar invertidas e outras fora de sincronia. Essa música é estranha, parece ser viciante, e pegajosa. Eu quero parar de ouvi-la, eu não aguento mais, é o mesmo som toda a hora, é agonizante. Eu to no inferno. Eu não quero parar. Eu não quero parar de escutar. Eu não quero ver. Eu to vendo. Eu consigo ver os rasgos de sua calça, sua pele peluda e dentes afiados. Papai? o seu cinto está caído no chão, é melhor pegá-lo, senão a mamãe vai brigar com você... de novo.

Tudo bem, eu deixo você me abraçar, mesmo sua boca machucando meu ombro, eu o deixo me abraçar, faz tempo que eu não tenho carinho seu, faz tempo que eu não tenho isso, faz tempo, faz tempo, faz tempo... Faz tempo... Faz... Tempo... Eu não quero te perder de novo, por isso eu te ofereço minha carne, quero carinho em troca, por favor.

Eu não entendo a mamãe, ela te afastou de mim só por sua forma? Eu te amo igual, eu sei que você não se parece como era antes mas me escute, eu sei que você é o mesmo... Aí dentro! Ah, então a mamãe quis me proteger de você? Por isso se juntou a eles? Hahaha, que bobinha, olhe só pra nós! Estamos juntos novamente e ainda por cima, bem! Você e eu estamos e estaremos aqui para sempre! Para todo o sempre! Eternamente.

Contos de ConceiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora