Prólogo

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 12 de fevereiro de 2026, Centro Educacional Estephan Stowel.

      Encaro a impressora de onde  o papel sai compassadamente. Pouco a pouco, a imagem de alguns cogumelos começam a surgir. Torço para que o universo esteja ao meu favor e a folha não fique manchada. Odeio quando isso acontece.

      Encaro as minhas unhas, ainda pensativa. Quando o professor anunciou no sorteio que minha dupla iria ser o Joanh, achei que meu azar era enorme. Aquele garoto é terrível, e muito irritante.
  
       O típico popular que só faz bagunça. É festeiro, egocêntrico, joga futebol, é de uma família rica e namora a garota mais popular do colégio. É o casal modelo. Ah, e tem um carro incrível.

      Mas estranhamente, ele se  mostrou muito inteligente. Dominou o assunto com uma maestria desconhecida por mim. Nunca achei que um garoto como ele fosse me surpreender assim.

       Moramos longe demais um do outro. Não teria como ficar nos encontrando para fazer tudo. Ficou combinado de cada um fazer uma parte e grampear tudo junto quando fôssemos para a escola. Mas achei estranho, já que ele pode dirigir até mim. O preço da gasolina não pode assustar ele.

      Ele se saiu estranhamente bem, exceto pela parte irritante,  ele errou meu nome a todo instante, me chamando de Elisabeth, Carol, Vanessa, Bruna... Depois de vários chutes ele finalmente acertou.

      Se ele colocar o nome errado no trabalho, eu vou acabar cometendo um crime de ódio.

      Quando a última folha sai, comemoro internamente e guardo bolsa.

       Agora só tenho que encontrar o Joanh. Não é uma tarefa muito difícil, ele costuma ficar em três lugares: quadra de futebol, refeitório ou corredor de armários.

      Para completar meu cansaço, ele não estava nos dois primeiros lugares, então só resta a última opção.

      Caminho já cansada e ouço burburinhos de conversa quando me aproximo. Reconheço a voz da namorada dele e vou me aproximando devagar, pensando qual será a melhor abordagem. .

     — Como assim você não vai me levar no show desse final de semana? — a voz estridente dela me causa agonia.

      — Foi mal. — ouço o Joanh se explicar — Não vai ter como... — um silêncio tenso se instala antes que ele fale novamente — Minhas contas e o carro foram trancados, não posso usar nada até segunda ordem.

      Então ele está sem poder usar carro e dinheiro? Como assim?

      — Isso é brincadeira né? — ela surta — Quer saber? Não posso aguentar isso. — sua voz soa triste e chorosa.

      — O que quer dizer?

      — Não podemos ficar juntos. — ela começa a andar na minha direção.

      — Tá terminando comigo porque não consigo te levar pra uma festa? — a voz dele sai com uma pitada de decepção.

      — Você não é mais tão interessante... Preciso de alguém com estabilidade! — ela respira tão alto que escuto de onde estou — Tenho que pensar em meu futuro.

     Ela caminha pelo corredor, coloco meus fones e finjo que estou distraída. A garota passa com passos firmes, sem olhar para trás. Por sorte sou ignorada.

      Mas, pelo que parece acabei de testemunhar o término do casal modelo. Espero um tempo e penso que é hora de sair da minha toca. Inspiro e ando na direção do recente rompimento.

      Encontro o Joanh sentado no chão olhando para o nada, talvez ele esteja chocado com a superficialidade da sua ex.

      — Oi. — digo quando estou de frente para ele — Aqui a minha parte do trabalho, só precisamos grampear.

      Ele ergue a cabeça ainda meio perdido, mas pega as folhas e se levanta. Nunca o vi tão triste em todo colegial.

      — Tá. — sua resposta sai grave e cansada.

      Por fim se levanta e vai embora, talvez não esteja muito afim de conversar agora, bem, eu também não estaria.

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