17 in 17 days

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Dezembro, quatro de dezembro para ser mais específica, Los Angeles não era uma cidade fria em seu todo. Uma calça jeans, casaco de moletom e um par de tênis desempenhavam bem o papel de manter a temperatura alta o suficiente para me fazer sentir confortável; embora eu não soubesse o que a palavra confortável de fato descrevia há um longo tempo.

Os fones com fio que se conectavam no celular esquecido em um dos bolsos traseiros do jeans que vestia se findava ao chegar aos meus ouvido, de ambos os lados, a parceria de Khalid com Normani lançada em fevereiro daquele mesmo ano preenchiam minha audição dos passos que ecoavam no asfalto ainda molhado pela chuva que ocorrera mais cedo.

Já era noite e provavelmente iria ter que ouvir alguns sermões do meu pai quando voltasse para casa, mesmo que Billie e eu dividíssemos o mesmo bairro por alguns quarteirões de distância. Ainda assim, Alexander sabia que eu estava cansada de o pedir para me levar até a casa dela de carro já que ir andando parecia ser um problema grande o suficiente para que ele não me deixasse ir sozinha. 

Pensar que ela havia voltado de uma parte de sua tour, intitulada 1 by 1, dia vinte do último mês e tinha passado alguns dias em casa durante esse período, aos quais eu não consegui a ver depois de incontáveis semanas me deixava incomodada. Me incomodava todas às vezes que tive que atender suas ligações e dizer coisas do tipo: "Sabe o que é, são as últimas provas antes do recesso de fim de ano." ou "Ah hoje, é que hoje eu peguei uma aula extra depois da escola, não consegui acompanhar o último conteúdo de cálculo." 

O que não era de um todo mentiras, de fato estava nas últimas provas do ano e infelizmente o conteúdo de cálculos estava me matando mas nunca seria um problema sem solução arranjar tempo para ela, erámos amigas desde os dez anos e nossa amizade sempre seria minha prioridade. Entretanto acho que meu pai não concordava com isso. 

Talvez ele deixou isso acontecer em um período de fragilidade, onde a atenção que tinha não estava focada em mim como antes, o que é totalmente compreensível quando sua esposa e mãe da sua única filha morre de forma inesperada. Já pensou em mudar o percurso da sua vida por uma razão totalmente fora de seu controle e a qual obviamente não queria que acontecesse de forma alguma, tanto que sequer a cogitou um dia?  

Foi o que aconteceu com a gente e, quando aos dez anos de idade não conseguia desgrudar dele por conta da ansiedade de separação causada pelo Transtorno Pós-Traumático e portanto ia ao seu trabalho todos os dias ignorando a existência da escola, foi quando ele viu meus olhos brilharem pela primeira vez em longos, tortuosos e monstruosos meses ao conversar com garotinha loira uns dois centímetros mais alta que eu durante o intervalo de sua aula de hipismo, ele deixou.  Era tudo o que ele podia fazer no momento. 

O celular vibra dentro do bolso do jeans interrompendo a música que me ajudava a vagar em meus pensamentos, o pego rapidamente desconectando os fones e o atendendo imediatamente ao ver o nome de Maggie brilhando em seu ecrã.

— Tudo bem? — questiono imediatamente sem me preocupar em ser cordial ou algo parecido.

Oi Em, tudo bem. Só queria avisar que estamos tendo a companhia de um câmera, projeto futuro, e claro que vou ter que falar com o seu pai sobre a autorização de imagem quando finalizarmos isso mas só 'pra não te pegar de surpresa quando chegar aqui. Aja naturalmente porque é bem possível que nada do que você apareça vá a público no futuro. — explica calma, gostava como sua voz soava. Tinha algo reconfortante em ter Maggie por perto, não que eu esteja espelhando uma figura materna nela mas, no fim do dia talvez esteja.

— Tudo bem, obrigada por avisar, agradeço por isso. — 

Minha obrigação querida. Já está chegando? — 

Getting Kinda Hard To Breath • Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora