SONÍFERO

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CAPÍTULO 16
SONÍFERO.

Me levanto com a respiração ofegante. Olho ao redor, percebendo ainda estar na floresta, mas fria que o normal. Observo Avalon, enrolado e de olhos fechados.
-Ah, Deuses- sussurro, para mim mesma, ou para os deuses. Decido me levantar e caminhar pela floresta, esvaziar a mente.
Observo uma fumaça branca sair da minha expiração e estremeço, não de frio, sinto meu corpo quente, apenas um pequeno vislumbre do vento frio que sopra meu rosto. Pego a adaga, mantendo-a em minha mão e começo a sair da zona onde deixo o saco de dormir e Avalon. Não iria muito longe.  Meu corpo está quente, de modo que não sinto o frio que parece estar na floresta. Bocejo, o som seria o único se não fosse pelas corujas, os grilos e os meus passos.
Mas, ouço algo a mais, um passo a mais do que o meu. Paro de supetão, enrijecendo o corpo.
-Avalon? -não recebo respostas e mantenho a adaga mais posicionada em minhas mãos, sabendo que o Blandi não faria uma brincadeira boba.
Um vulto passa por entre os troncos de árvore, me posiciono, pronta para o que vier. Pensei nas criaturas em que Briana e Chaos me falaram. Mas o que veio não era nenhuma delas.
Em quatro patas, andando de modo lento, um lobo vem em minha direção, abaixando a cabeça e me olhando por cima dos olhos, em posição de ataque.
Mantenho a calma e tento demonstrar que não vou atacá-lo, mas me assusto quando percebo mais um vindo em minhas costas. Me viro para a direita quando outro vem do meu lado e, para a esquerda, outro. Os quatro enormes e com pelagens escuras, tirando o da esquerda e da direita. O da esquerda com uma mistura de pelagem cinzas e o da direita de pelagem marrom.
Eu estou cercada.
-Eu não vou fazer mal a vocês- falo, a voz saindo quase como um eco. Como se eu não tivesse falado nada, um deles, o da pelagem marrom, corre para cima de mim. Com minha adaga, consigo fazer um corte na lateral do seu corpo e desviar, o lobo arrastando em pastas nas folhas secas. - Se não me fizerem mau- concluo.
Os lobos começam a rugir, me rodeando. Ouço mais folhas sendo quebradas e cacos de cavalos, me perguntei quem pelos deuses ainda está vindo, mas não me importei muito quando um outro veio para cima, pulando sobre meu corpo e me derrubando no chão. Com a adaga ainda em mãos, tento afastar a cabeça do lobo com uma barreira dos meus braços entre mim e o animal, que balança a cabeça como um doido tentando acabar comigo.
Serro os dentes, a força sendo feita não iria sumir, eu tentava cada vez mais sair daquela situação e... onde está Avalon?
Urro de dor quando cinto algo arranhar minha calça na parte da coxa, a lâmina atravessando o tecido e ferindo minha pele. Ainda com o lobo m cima de mim, olho para o lado, percebendo não ser uma lâmina, mas as unhas da pata de um dos lobos, manchadas de sangue.
Faço força no meu braço esquerdo, mantendo a barreira entre mim e o lobo para que, com a mão direita, eu pego a adaga e cravo a lâmina no abdômen do animal, que rosna e choraminga.
Com um impulso, tiro ele de cima de mim, que sai rolando e bate as costas perto de uma arvore. Sento-me, com a respiração ofegante e olho minha coxa ferida, a calça preta ficando molhada pelo sangue.
Com a mão tremula, passo os dedos na região, sangue suja minha pele; olho para os lobos, um deles fareja o lobo machucado e os outros dois começam a vir para cima de mim, juntos desça vez. Chuto a cara de um e faço o outro recuar, sempre com minha adaga. Cambaleio quando me levanto, sentindo-me tonta.
Insistentes, os lobos se recompõem e voltam, me dado uma rasteira com o próprio corpo nos pês, me fazendo cair e, lá estava eu novamente, não com um, mas com dois lobos em cima de mim, um deles em cima das pernas, para que eu não me mexesse. Espertos.
-Basta.
Congelo assim como os lobos parecem ter feito, uma voz, masculina grave e profunda, se pronunciou. Avalon? Provavelmente não.
Os dois lobos saíram de cima, com as orelhas abaixadas e se juntaram ao lobo ferido. Coloco os cotovelos no chão para sustentar meu corpo, meu peito subindo e descendo com a respiração rápida e, deuses, esse corpete não estava ajudando,
Isso não me importava muito agora, porque o que eu vi, eu não acredita.
Vestido de preto, um homem está a cavalo. Ele usa um manto e capuz pretos, não me permitindo ver seu rosto e parte do corpo. Percebo suas mãos enluvadas repousando nas coxas que alias, parecem ser fortes, ou a calça esta apertada demais para elas. A calça preta cobre toda extensão de sua perna e as botas, os pés.
Eu já tinha visto uma imagem parecida, ah sim, em um dos livros que li em Kestramore, onde falavam sobre o portador da noite.
E os lobos... eles só confirmavam isso.
Sinto meus olhos se pensando e uma dor aguda na minha cabeça. Travo a mandibula.
Ficamos em silencio, todos, eu olho para o homem, sem conseguir ver seu rosto, o que me deixa um pouco nervosa. Sinto seu olhar sobre mim.
-Está ferida- pronúncia e eu fecho a cara com sua confirmação. É mesmo?
Cerro os dentes e me levanto aos poucos, os arranhoes ardendo na coxa direita.
-Seus lobos costumam atacar qualquer pessoa? - pergunto, eu estava com raiva.
-Meus lobos são bem treinados para atacar uma ameaça.
-Eu não sou uma ameaça- falo e o portador olha para seu lobo ferido.
-Ah não?- pergunta e volta, acredito eu, seu olhar para mim.
Lambo os lábios e olho minha perna.
-Estamos na mesma moeda.
O portador parece suspirar. Minha respiração fica acelerada quando o observo começar a se movimentar e sair de cima do cavalo, andando em passos decididos até mim.
Ficamos a pouca distância, consigo ver apenas vislumbres do seu rosto e vislumbres de barba. Um cheiro de toma conta do meu espaço.
-Foi erro dos meus lobos. Posso ajudá-la a curar isso.
-Obrigada, mas não será necessário.
-Tem certeza? parece profundo.
-Posso cuidar disso.
Ele fica calado me olhando, nós dois em pé. Sustento o olhar por mais que eu não consiga ver seu rosto pelo capuz.
Um dos lobos, o lobo ferido, começa a se aproximar aos poucos, é quando sinto uma profunda falta de energia contra minha vontade.
Olho para as patas do lobo manchadas com meu sangue, depois, olho para a pata dos outros três, algo brilhante parecia estar cobrindo-as, foi quando eu percebi, tarde demais, que uma substância sonífera estava cobrindo suas garras e, provavelmente, entrou pela minha ferida, porque começo a fechar os olhos e cair, tendo por último um borrão de imagem do homem a minha frente correndo para amortecer minha queda.

Fogo Em Veias. (Enemies To Lovers)Onde histórias criam vida. Descubra agora