Parece que hoje será um daqueles dias perfeitos, que temos uma vez no ano e para alguns casos uma única vez na vida. No geral, me considero uma pessoa de muita sorte, mas não acho que alguém consegue o que almejou a vida inteira em um dia comum, então declaro hoje o meu dia de sorte, e devo aproveitar enquanto ele durar.
- Será que eu deveria apostar na loteria? - encaro o telefone em minha mão, me sinto exuberante - Não, não iria funcionar se o sorteio não for hoje.
- O que você está murmurando ai maluca? - Jayjay senta ao meu lado e bisbilhota o que estou lendo. - Não brinca! - Ela toma o celular da minha mão e levanto junto com ela. - Quando vai ser publicado?
- Mês que vem, acredita nisso? - Tenho vontade de me beliscar pra confirmar que não é um sonho.
- É óbvio que acredito minha amiga - ela me abraça e sussurra - Se tem alguém em quem sempre acreditei foi em você.
- Obrigada Jaynara. - Ela sai do abraço e segura meus ombros.
- Por favor não ouse contar pra ninguém sobre esse nome, juro que me torno sua inimiga número 1. - Fala de forma séria, nos encaramos por 3 segundos e caímos na gargalhada.
- Tá bem, tá bem, agora vai se arrumar.
- Oh vida cruel, como me tornei uma CLT escrava do sistema?
- Você vendeu seus Bitcoins, a propósito ele passou de 60 mil dólares ontem. - Provoco.
- Por que eu tinha que ser tão ansiosa amiga? Poderíamos ser multimilionárias se eu tivesse ignorado aquelas centenas de dólares e esperado...
- Isso já faz mais de 10 anos Jayjay, pare de chorar o leite derramado. - dou um tapinha nas costas dela.
- Tem razão, vou aceitar essa realidade até você ficar famosa e rica. - Ela segura novamente meus ombros, sempre faz isso quando quer parecer séria - Isabelly... você sempre foi meu maior investimento. Sei que acha que grudei em você quando éramos crianças por causa dos biscoitos.
- E Não foi por isso? - Ela negou com a cabeça e fez uns estalos com a língua.
- Sempre fui uma criança visionária, no momento que te vi eu soube que seria minha mina de ouro.
- Que estranho... Lembro claramente de você dizendo "se dividir cookies comigo serei sua minha de ouro quando eu crescer."
- Nossa! olha só a hora - Ela não tem relógio no pulso - Tenho que trabalhar, te amo, tchau.
- Essa Jayjay...
A verdade é que ela nunca mentiu sobre isso, uma amiga como ela vale uma mina de ouro e até mais. Não consigo me lembrar de um único momento, feliz ou triste, em que ela não estivesse ao meu lado.
Algo me diz que essa energia positiva vai continuar. O cheiro do café fresco se propagando no ambiente, a luz do sol entrando pela janela... Respiro fundo, me sinto inspirada.
Pego meu telefone novamente, a mensagem da editora ainda brilhando na tela. Era real. O livro que escrevi finalmente ganharia asas.
Resolvi dar uma volta no quarteirão. O dia estava lindo, e eu precisava de um pouco de ar fresco para organizar as ideias. É engraçado como tudo parecia mais vibrante. As pessoas estavam sorridentes e gentis por todo lugar que eu passava.
Durante a caminhada, passei em uma loja e comprei uma caneta tinteiro, sempre disse que compraria uma quando o sonho se tornasse realidade, sei que é só um mito romântico, cada um tem seu jeito único de se expressar, seja com uma caneta comum, um teclado ou mesmo digitando no celular! O importante é encontrar o que funciona para si mesmo. Mas, como a boa romântica que sou...
Acordo com o som do despertador, essa foi a melhor noite de sono que tive nos últimos tempos. Preparo um café forte, o aroma me desperta completamente, termino de me preparar e saio de casa.– Isso sim é uma bela manhã. – Respiro profundamente e vou até meu carro.
Ao chegar na universidade, fui recebido pelo barulho dos alunos no campus. Havia risadas e conversas animadas para todo lado, não pude deixar de sorrir.
É sempre renovador observar meus alunos, todos tão cheios de vida, com seus sonhos grandes. É ótimo fazer parte disso.– Bom dia estudantes. – Alguns respondem com "bom dia tio" outros com "bom dia professor Nathaniel" e por último temos o Max.
– Eai Nath, como foi o "find"? – Max e esse chiclete, deve achar que deixa ele descolado.
– Meu fim de semana foi ótimo, agradeço seu interesse, agora sai de cima da minha mesa e sente-se no seu lugar.
– "Qualé" Nath, queria te contar sobre o meu "find" também, falei contigo na moral e tu esculacha nós aí, magoou.
– Se quiser falar sobre o seu fim de semana, podemos fazer isso depois, nesse momento, ambos temos uma obrigação.
– Precisa não, tava tirando onda contigo. – Se encaminha para o lugar dele.
– Certo Alunos, na aula de hoje vamos falar sobre... – escrevo no quadro “literatura e a busca pela identidade”. – Ontem, enquanto preparava a aula me vi refletindo sobre como palavras podem moldar quem somos, por exemplo esse corte de cabelo – aponto para minha cabeça – quando experimentei pela primeira vez muitos dos meus alunos disseram que fiquei mais jovem e bonito. Desde então mantive ele assim.
– Eu lembro disso, foi no primeiro semestre!
– Eu também!
– Enfim pessoal, palavras de outras pessoas me fizeram mudar algumas coisas na minha vida e provavelmente já aconteceu com vocês. Eu também ouvi muitas vezes que tinha talento para ensinar, espero que seja verdade. – Falo em tom divertido e alguns riem.
Iniciei uma discussão sobre como eles e personagens literários buscam suas identidades em meio a conflitos internos e externos. Eu os ouvi atentamente, incentivando-os a relacionar sua experiência com a de algum personagem para criar um conto e me entregar na próxima aula.
– Sejam criativos, prometo não descontar nota por pequenos erros, até amanhã classe.
– Até amanhã professor.
– Tchau, tchau tio.
– A gente se vê amanhã Nath.
– Até amanhã Max. – Respondo enquanto termino de apagar o quadro.
Cheguei em casa, almocei e depois de limpar tudo, sentei-me no sofá, folheando um dos livros que deixei em cima da mesa. E assim fiquei até que tranquilidade da noite se instalou.
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Os semelhantes se repelem?
RomanceDizem que os opostos se atraem, então isso significa que os semelhantes se repelem?