2. Capitulo

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Enquanto o sol da tarde brilha através da janela, lançando um reflexo dourado na água cristalina da tina de banho em meu quarto, eu suspiro com pesar.

O arrepio de medo invade meu ser enquanto eu coloquei a minha mão na água, mas o temor é substituído pelo som suave das gotas caindo na tina. A temperatura fresca envolve meus dedos, acalmando minha pele.

Cornélia havia preparado tudo para meu banho da tarde, eu sempre goste de refrescar algumas horas após o almoço. Retiro a camisola de linho deixando ela no chão  ao redor dos meus pés. Seguro na boda na tina completamente  nua e mergulho na água, sentindo o frescor envolver meu corpo.

O cheiro suave de lavanda e rosas perfuma o ar enquanto uso uma esponja para lavar o meu corpo. Mergulho deixando os meus cabelos molharem, e eles caíram sobre o meu corpo escondendo os meus seios.

— Que maravilha!

Eu exclamo, sentindo a água acalmar meus pensamentos agitados. Cada onda que toca minha pele leva consigo uma parte dos medos. O som suave da água é como música para meus ouvidos. Sinto o gosto salgado das lágrimas que se misturam às gotas de água em meu rosto.

Sinto meu coração pesado, como se uma pedra pressionasse meu peito. O afastamento de Antonius dói como uma ferida aberta. Cada lembrança de nossos momentos compartilhados é uma faca que corta minha alma. E não posso nem imaginar como devo reagir se ele realmente estiver me traindo.

A minha família, é uma fonte de dor constante. A voz cortante de minha mãe ecoa em minha mente, fazendo-me sentir insignificante. Meus irmãos, indiferentes, como estátuas de gelo.
Ser excluída pelo meu próprio povo é como um vento frio que corta minha pele.

Os olhares de desdém queimam como fogo em minhas veias levando essa dor a minha alma. O som de risadas e sussurros é uma faca que perfura meu coração.

O medo de não me transformar é uma sombra que me persegue sem parar. A possibilidade de deixar para trás tudo o que conheço é um vazio que me sufoca. O cheiro da terra seca e do céu aberto me lembra da liberdade que pode ser arrancada de mim, mesmo que eu tenha inúmeras dores e problemas em meu reino, eu o amo. Sapphirus é tudo que conheço e tudo o que tenho.

E então, aqueles olhos amarelos opacos e sem vida. Eles me perseguem, como um eco sombrio. Sinto arrepios na pele quando os recordo. O som de sua respiração, um sussurro suave, ecoa em minha mente trazendo a tona as sensações que vivia em meus sonhos e quando agora são tão real.

O olhar vazio dele, é  um poço sem fundo, que me atrai e me assusta ao mesmo tempo. Eu não consigo entender o que sinto e só queria que a água, com sua pureza, levasse as  minhas incertezas e temores, deixando-me renovada e serena.

Enquanto a luz suave do entardecer infiltrava-se pelas cortinas, senti serenidade do meu quarto. A água ainda pingava do meu corpo, enquanto eu me secava com uma toalha macia. O aroma de lavanda das velas queimadas no quarto me acalmava.

Peguei uma camisola limpa e um calção, rindo ao vesti-lo. Cornélia sempre me critica por usar “roupas de homem”, mas só me sinto confortável assim. Ao ouvir a batida na porta perguntei queria estaria me procurando.

— Quem é?

Recebi uma resposta  suave que me faz sorri ao reconhecê-la.

— Sou eu, minha senhora, Cornélia!

— Ah, entre, Cornélia!

Ela entrou, cumprimentando-me com um sorriso doce, mas seus olhos revelavam preocupação.

— Boa tarde, minha senhora!

Ela disse sem olhar para e sim olhando em volta.

— Boa tarde, Cornélia! O que traz você aqui?

Ela não respondeu diretamente, apenas começou a procurar minhas roupas.

— Minha senhora, sua mãe pediu que eu ajudasse com seu vestido.

O som das cortinas fechando foi seguido pelo escuro no quarto.

— Por que fechou as cortinas, Cornélia?
Eu sinto uma sensação estranha a ter mais os raios do sol aquecendo o meu corpo, sentindo o ar fechado me sufocando.

— Para evitar curiosos, minha senhora. Não é adequado alguém poderia vê-la em suas roupas íntimas. Temos guardas rondando por todas as partes pela propriedade.

Seu tom é protetor, mas firme e nesses momentos eu me sinto amada. Ajudei-a a escolher o vestido, sentindo o tecido sedoso entre meus dedos.

— Obrigada, Cornélia. Você é uma verdadeira mãe para mim.

Ela sorriu, enquanto ajudava-me com o espartilho. Mesmo não tendo idade para isso, ela sempre me tratou como filha.

— É meu prazer, minha senhora. Você merece cuidado. Eu amo desde que a vi pela primeira vez correndo por essa propriedade como uma pequena fera selvagem.

Enquanto Cornélia ajustava o espartilho, eu suspirava, sentindo a dor no corpo.

—  Eu odeio essas roupas!

Reclamei, franzindo o cenho. Já Cornélia sorriu ternamente.

— As donzelas do reino usam esse código de vestimenta, minha senhora.

Seus dedos habilidosos acariciavam o tecido. Meu olhar se perdeu no vestido vermelho extravagante. O corpete ajustado e a saia longa pareciam sufocantes. Aponto para o espartilho que é praticamente um método de tortura que já tinha sido abolido pela maioria das mulheres de Sapphirus, mas que minha mãe meio obriga a usar.

— Você não usa isso, nem Iracema ou a rainha. Por que eu preciso usar essa porcaria?

Cornélia riu, seus olhos brilhando.

— Olhe a boca menina! Seu pai não gostaria de ouvir você falando assim, minha garotinha. — Eu revirei os olhos, sentindo o tecido sedoso do vestido entre meus dedos. — Além disso, meu anjo, eu não serei rainha. — Cornélia passou a mão pelo meu rosto. — Você será uma rainha incrível, minha senhora! Igual à rainha Mãe.

Mencionei, com um sorriso irônico apertando o tecido em minhas mãos.

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