A primeira semana longe de casa chegou a ser até mesmo torturante, mas pelo menos, o rapaz conseguiu o emprego que tanto queria. Seguir seu sonho de criança e ser um ator era maravilhoso, mas difícil de seguir. Quando o primeiro dia de trabalho chegou, Jisung já recebeu um filme em qual ele trabalharia, infelizmente não era bem o roteiro o qual ele procurava, mas ser um personagem secundário e aparecer por metade de um filme não era um começo ruim, então aproveitou a oportunidade.
O primeiro dia no set de filmagens foi tranquilo para todos. Os atores e atrizes estudavam seus papéis e falavam com suas respectivas duplas de trabalho, caso tivessem alguma. O garoto estudava seu roteiro em um canto qualquer do set enquanto bebia um cappuccino com um pouco demais de cafeína, mas, ele se sentia observado, então não conseguia manter sua atenção presa no papel por tempo demais. Independente de tantas tentativas para encontrar os olhares que estavam sobre ele, Han nunca encontrava quem o estava encarando em meio a tantas pessoas.
Durante os testes de atuação, ele notou que uma mulher o encarava, e quando olhou de volta, ela desviou o olhar. Haviam algumas outras pessoas ao redor dela e ela sussurrava com alguém que ele não conseguia ver quem era. Voltando a encarar seu papel, teve sua atenção tomada pela voz feminina que o chamava, ele a olhou.
— Me perdoa, eu estava encarando... mas eu apenas estava vendo a pessoa de quem minha... amiga... estava falando a respeito. — As pausas que ela fazia entre as palavras o deixavam incomodado. — Ela gostou de você, será que teria como me passar seu número pra entregar pra ela? —
A confiança da ruiva dos olhos escuros desapareceu assim que Jisung deu sua resposta. — Não to interessado, desculpa. — ele então saiu, a deixando para trás. "Qual é a dessa garota?" Ele pensou, talvez alto demais o suficiente pra o distrair e fazê-lo esbarrar em alguém. — Perdão — ele disse sem sequer olhar para trás, apenas seguindo seu próprio caminho mesmo tendo a impressão de ter escutado uma voz certamente familiar. Mas se bem que tudo pra ele parecia familiar...
Aquela garota se parecia com alguém que ele odiava na infância. Uma garota que destruiu os sonhos de uma criança inocente, que não entendia bem que ela não tinha culpa alguma naquela situação... mas um amor de infância vale mais do que muita coisa nesse mundo, ainda mais se esse amor for o seu primeiro.
Han amava alguém em sua infância, alguém que ele tentava impressionar até nos mínimos detalhes, mas, essa pessoa amava a uma mulher ruiva dos olhos escuros, idêntica à mulher que ele havia acabado de ver. "Por que o amor é tão difícil de se lidar? Por que uma paixão de infância simplesmente não desaparece mesmo dez anos depois?" Talvez carregar magoas do passado tenha algo haver com a situação... mas ele não pensou nisso.
— Jisung? — A voz familiar o chamou pelo nome, confuso ele olhou rapidamente para trás, mas não havia sinal de qualquer pessoa por ali. Talvez ele estivesse alucinando.
Foi ele tirado de seus pensamentos novamente quando percebeu um papel de post it cinza em seu bolso. Ao pega-lo e abri-lo, dificilmente conseguiu decifrar o que estava escrito em letras tão horríveis. "Que caligrafia péssima" ele pensou, até conseguir ler o que estava escrito.
"Sai do meu set"
Confuso, ele apenas guardou o papel novamente e foi para um local calmo para assim, terminar seu cappuccino e pensar um pouco a respeito de sua manhã e tarde até o momento. Abriu então o bloco de notas do celular para escrever o que pensava.
"O dia está extremamente confuso. Pensamentos e lembranças demais pra um curto período de tempo.
Talvez seja o café."
Ele então teve a impressão de ter visto uma sombra roxa passando pelo corredor a sua frente. Assustado ele se levantou e foi atrás da mesma, tendo uma pequena visão de seu eu criança, escrevendo em um caderno fino de capa cinza.
Jisung então esfrega os olhos, não acreditando no que via. Ele se lembrava bem daquele momento. Ele chorava enquanto escrevia sobre seu pequeno amor.
O papel era molhado por pequenas lágrimas, todas sendo do pequeno Jisung, mas, o adulto também juntava lágrimas em seus olhos. Por que após tanto tempo, mesmo depois de se dizer ter supero tudo aquilo, estava se lembrando de tantos detalhes a respeito daquela pessoa?...
Ele não entendia, aquilo tinha sido apenas mais um fruto de sua imaginação de novo. Ele ainda estava sentado no mesmo lugar, mas seu cappuccino agora estava no chão depois de ter escapado de seu agarro. Han encarava o copo no chão, sabendo que aquela noite seria difícil...