Capítulo 13

2.4K 215 94
                                    

Fernanda encarou a janela do consultório que visitava havia pouco mais de uma semana e acompanhou uma única gota de chuva que escorreu pela janela.

— Ainda se sente desconfortável de falar sobre ela?

Sua terapeuta, a senhora Camargo, perguntou com a mesma voz calma e melosa que fazia os nervos de Fernanda se exaltarem. A carioca finalmente se virou para ela, negando e se sentando no divã preto.

— Quem é ela, Fernanda? Sei que a senhorita veio até aqui por conta disso, mas se ficarmos nesse impasse, não poderei te ajudar e sabe disso.

Fernanda se manteve em silêncio. Ela ainda podia ouvir a voz de Yasmin dizendo que era loucura, mas Fernanda não queria voltar atrás. Sabia que a terapia era o caminho certo e foi difícil tomar essa decisão. Afinal, teve que admitir que estava errada, mas ela precisava colocar sua mente em ordem e esquecer aquela loucura.

— A senhora acredita que amar também é deixar ir?

A senhora Camargo arqueou as sobrancelhas. Para a mulher, Fernanda Bande era uma incógnita difícil de ser decifrada. Por trás daqueles olhos escuros, havia uma grade de prisões que mantinham a tailandesa presa nas correntes do que tinha medo. E Fernanda não parecia disposta a deixá-la achar a chave para ser liberta. Batucou a caneta na prancheta e suspirou.

— Sim, acredito. — Uma pausa. Fernanda assentiu. — Foi Yasmin quem lhe disse isso?

— Yasmin me daria um tapa se me ouvisse agora.

Senhora Camargo sabia que senhorita Yasmin Brunet era a melhor amiga da incógnita a sua frente, a única pessoa sobre quem ela falou e que lhe dizia o que os pais de seus pacientes adolescentes geralmente concordavam: era uma perda de tempo.

— Yasmin não pode lhe ouvir agora, Fernanda. O que quer me dizer?

— Nada.

A mulher suspirou. Ela sabia que teria que ter muita paciência e fazer seu caminho para dentro da mente de Fernanda, mas a carioca parecia conhecer cada um de seus truques.

— O que você faz, Fernanda?

Fernanda a encarou sem expressão, como se ela fosse a psicóloga e estivesse lhe analisando. A senhora se mexeu desconfortável.

— Sou professora do ensino médio.

— E gosta dos seus alunos?

Um sorriso irônico surgiu nos lábios da carioca e ela encostou no divã, dando de ombros.

— Não sei se vai gostar da resposta pouco educada que darei.

— Certo. — ela falou receosa. — Mas todo professor tem seu aluno favorito. A senhora com certeza não é excessão.

— Não acho que será necessário falar desse assunto.

— O que Yasmin-

— Yasmin não tem nada a ver com isso.

Algo na postura de Fernanda fez com que Camargo ficasse desconfiada.

— O que pode me dizer sobre sua rotina no trabalho, Fernanda?

— É normal. — ela deu de ombros. — Adolescentes idiotas, colegas de trabalho burros, alunas tentando conseguir outros meios de passar, suborno dos pais para que seus filhos não sejam reprovados para não mancharem a reputação da família.

— Considera isso normal? — perguntou um tanto estupefata.

— É o Brasil, a senhora não via disso quando estava na escola?

Camargo limpou a garganta. Era difícil tratar de alguém que a fazia se sentir intimidada e interrogada. Fernanda sabia usar seu poder de intimidação para fugir do que não lhe agradava.

teacher's pet - ferlane.Onde histórias criam vida. Descubra agora