XXII

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Deméter era uma divindade da religiosidade dos gregos antigos considerada a deusa da agricultura e a responsável por proteger as plantações e garantir a fertilidade dos grãos.
Perséfone era a maior alegria da mãe! Quando Hades a sequestrou, Deméter fez as plantas pararem de crescer por todo o mundo, e disse que as plantas só voltariam a crescer quando sua amada filha voltasse. Depois de muito tempo, Hades e Deméter fizeram um acordo… Perséfone ficaria com a mãe 3/4 do ano e ficaria com Hades 1/4 do ano.
— Da mitologia grega.

22

— Não, ela não irá voltar para o Olimpo, achei que tivéssemos feito um acordo. — disse Hades, com uma expressão aterrorizante olhando para Hermes.
— Quando Eros disse que Perséfone não iria voltar, Deméter ficou devastada e parou com toda a agricultura, Zeus súplica que ela volte, ou matará todos os Olimpianos.
— Menos mal, terá mais gente no submundo assim.
— Hades!
Eu o repreendi e também pude ver a expressão de medo em sua face.
Medo que eu retornasse.
— Eles estão implorando, Perséfone. — disse Hermes. — Sem você... Deméter ficará devastada. Volte, Zeus desistiu do casamento, ele não irá mais força-la a nada, prometeu isso.
A luz do submundo lançava sombras dançantes pelas paredes de mármore negro do palácio de Hades enquanto eu observava a cena diante de mim. Hermes, o mensageiro dos deuses, estava de pé diante de mim, suas feições marcadas pela preocupação. Ele implorava, com sua voz melodiosa e urgente, que eu retornasse ao Olimpo.
— Hades, ela está devastando a Terra — disse Hermes, olhando para meu marido com desespero nos olhos. — Deméter, sua mãe, está de luto por você. Ela se recusa a permitir que a terra floresça, e os mortais estão sofrendo as consequências.
Eu me sentia dividida entre a dor de ver minha mãe sofrer e o amor que nutria por Hades.
Ele estava ao meu lado, seu semblante impassível, mas seus olhos revelavam uma mistura de determinação e preocupação. Ele sabia o quanto eu significava para minha mãe, mas também entendia que meu lugar era ao seu lado, no submundo.
— Docinho — respondeu o Deus do Submundo. — Você pode não achar, mas só de você respirar aqui em baixo, você está criando a vida no submundo, eu vi as flores desabrochando, flores que não são azuis, e sim, são aquelas de seu próprio poder. Você tinha se decidido.
Eu tinha me decidido, mas...
— Eu não posso deixar minha mãe simplesmente parar com toda a fonte de comida dos Olimpianos.
Eu senti o desespero de Hades me invadir e eu também comecei a ficar desesperada.
Maldita Deméter.
Eu me virei para encará-lo, vendo a angústia em seus olhos rubros. Ele tinha razão. Meu papel como rainha do submundo era essencial para manter o equilíbrio entre os mundos dos vivos e dos mortos. Mas também não podia ignorar a dor de minha mãe.
— Zeus quer fazer um acordo com você — respondeu Hermes, como se fosse uma alegria para mim. — Se você realmente deseja ficar aqui, se for algo do fundo do seu coração, mesmo que... Eros tenha te mostrado tudo o que precisava para entender que o submundo é o lugar onde os mortos vivem, então ele fará um acordo com você.
— E que tipo de acordo? — disse Hades e Hermes o olhou com uma expressão seria.
Os corredores do submundo ecoavam com a presença de Hermes enquanto ele se aproximava de mim com uma expressão solene. Seus olhos brilhavam com uma luz incerta, indicando que trazia consigo uma proposta que poderia alterar o curso dos eventos.
Levantei o olhar para encontrá-lo, sentindo uma mistura de curiosidade e apreensão. O que o todo-poderoso Zeus, poderia querer de mim agora?
— Hades — continuei, virando-me para meu marido ao meu lado — Pode nos dar um momento a sós?
Mas ele se recusou.
Como se Hades fosse simplesmente me deixar a sós com Hermes.
O mensageiro então respirou fundo.
— Zeus propõe um acordo — explicou Hermes, escolhendo cuidadosamente suas palavras. — Se for verdadeiramente sua vontade ficar no submundo ao lado de Hades, ele está disposto a permitir, mas com uma condição.
Eu arqueei uma sobrancelha, esperando que ele continuasse.
— Você terá que se dividir no ano — continuou Hermes. — Metade do tempo você passará aqui, no submundo, ao lado de Hades, e a outra metade você passará no Olimpo, ao lado de sua família.
A proposta de Zeus era intrigante, mas também complexa. Eu teria que renunciar completamente a uma vida ou a outra, dividindo-me entre dois mundos que eram tão diferentes, mas igualmente importantes para mim.
— Isso é possível? — perguntei a Hermes, meu coração acelerando com a perspectiva de uma escolha tão monumental.
Hermes assentiu solemnemente.
— Zeus fará com que seja possível. Mas a decisão final é sua, Perséfone. Você deve decidir o que é mais importante para você.
— Isso é muito tempo — respondeu Hades. — Não posso esperar por tanto tempo, Docinho.
— Perséfone foi criada no Olimpo e tem o dever de ajudar na agricultura para os humanos, sinto o seu cheiro de poder daqui, sei que conseguiu acordá-lo. Sem você lá, as coisas irão cair.
— E se eu não quiser?
— Então Deméter não irá parar.
A minha ansiedade me atacava como se quisesse me matar.
E quando me virei para Hades, eu quis chorar.
Eu ponderava as palavras de Hermes, sentindo o peso da decisão pendendo sobre mim.
Meu coração estava dividido entre o amor que sentia por Hades e a saudade de minha família no Olimpo. Eu teria que sacrificar uma parte de mim, não importasse a escolha que fizesse.
— Eles querem que você venha o mais rápido possível, Perséfone.
Eu olhei para Hades que estava mais perto de mim, segurando minhas mãos juntas, eu coloquei meu rosto em seu pescoço e respirei fundo.
Era injusto, tudo aquilo era injusto.
— Esse é o acordo principal de Zeus, mas pode ser que ele diminua seu tempo no Olimpo, é só... Por hora.
— Docinho... Por favor, quem liga para os Olimpianos?
Eu ligava... Eles eram parte do meu povo, assim como os mortos também eram.
Eu era uma rainha, mas também era a mulher que dava a vida.
Não podia simplesmente ignorar isso.
— Hermes, você pode me dar essa última noite com Hades? Eu só o verei depois de longos meses.
— Docinho — Hades me apertou para mais perto dele, temendo me largar.
Eu segurei o seu rosto com as lágrimas caindo pelo o meu.
— Hades — eu disse. — Você quer que eu faça vida no submundo, mas por favor, eu imploro. Me deixe fazer vida no Olimpo também, esse é o meu dever.

Sombras E Primavera O Conto de Hades e Perséfone Onde histórias criam vida. Descubra agora