"A uma boa alma respostas sem dúvidas evidenciam sabedoria, paz e segurança. Mas, encontra-se a presença de sua pureza somente quando, ao se comer de suas próprias palavras, esta nutriria-se sem precisar ter sido envenenada."
- Desconhecido.
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Sabe, as quartas eram engraçadas. Um dia não tão perto do início da semana para ser considerada desagradável, mas também, não tão perto do fim para trazer o ar de esperança e respiro necessários após uma semana de merda.
Eu odiava as quartas.
Dias em que minha grade horária na escola consistia em aulas massivas de humanas e o almoço não passava de algum peixe mal cozido com legumes que provavelmente me dariam intoxicação alimentar.
Em certo momento, não sei quando ou como, me dei conta de que, talvez, esse ódio todo se dava a algo maior do que não conseguir abrir um livro e ler de forma contínua. Na minha cabeça tudo se embaralhava e não era como se eu tivesse grana alguma para ir a um especialista ou meus professores se importassem com algo além das suas unhas mal lixadas ou o que receberiam no fim do mês.
Mas, em alguns pontos, elas me traziam certo divertimento...
Nas quartas as salas eram tomadas em suma pelo Professor Hanks. Ele era um bom homem, inteligente, amante de histórias, especificamente mitologia nórdica, cheiro de páginas novas, romances de época, café expresso e mulheres casadas.
Como eu sei disso tudo?
Bom, o professor Hanks também tinha uma boca grande demais para exercer uma função que o exigia filtro.
Nas quartas, Hanks fazia questão de usar trinta minutos do seu tempo em sala para desfrutar de uma terapia em grupo. Ele puxava a mesa, se sentava fronte a turma e pedia para que cada um contasse o que o afligia no momento com o intuito de instigar a harmonia e a conexão do grupo. Na real ele só perguntava para que pudesse falar um pouco mais sobre si mesmo também.
A verdade é que Hanks sempre foi narcisista, tão evidente que apenas um cego e surdo não o distinguiria.
E uma vez ele foi infeliz de rodar seus olhos e parar sobre mim, o esquisito no canto da fileira, lá no fundo.
Junto com ele diversos pares de olhos, alguns curiosos por, talvez pela primeira vez, notarem a minha presença, outros de repulsa e alguns poucos indiferentes, se direcionavam a mim simultaneamente.
Naquele dia eu engoli a seco, não levantei o rosto mais que o necessário, encarava fixamente meus dedos inquietos embaixo da mesa.
— Park Jina, certo?
Errado.
Foi o que pensei mas o bolo teso formado em minha garganta estava pesado demais para emitir qualquer protesto.
— É Jimin, proff! — meus olhos rapidamente procuraram a figura dona da voz, se arrependendo logo em seguida — Ela acha que é um homem, então temos que respeitar a esquisitice alheia! Viva a diversidade, certo Jimin?!
Se lembram da loira entojada que comentei da última vez? É, lá estava, Kim Miná. Se pedras no sapato seria a expressão correta, Miná era uma navalha, um prego, uma faca de serra ou tachinhas de quadro negro enferrujadas para me causar, além da dor, uma infecção por tétano. .
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𝘽𝘼𝘿 𝘽𝙇𝙊𝙊𝘿
FanfictionUma alma quebrada pode ser o maior entretenimento de outra que jamais existiu.