Capítulo 1: Querido vazio

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[Carta Aberta ao Vazio]

Esta é uma carta aberta para o vazio (e para aqueles que se perderam nele), situação que todos nós já experimentamos. Tenho poucos amigos, ou talvez nenhum, e sinto-me sozinho na minha própria companhia. Hoje saí de casa para trabalhar, minha vida é rotineira, entediante e sem graça; perdeu seu brilho há muito tempo. Isso me irrita profundamente porque parece que todo mundo está feliz lidando com seus problemas, enquanto eu continuo afundando em cigarros, bebidas caras e pensamentos loucos, sem sentido e sem realidade.

É difícil pois além da falta de conexão com a rotina do trabalho, sinto-me desconectado das pessoas ao meu redor, como se estivesse ali atuando igual um figurante não apenas preenchendo espaço mas também tornando-o um erro no contexto do ambiente onde estou inserido. E convenhamos: nunca me encaixei em lugar algum desse planeta (apenas para constar: sou um personagem fictício).

[Domingo, 10 de março]
Querido vazio, hoje encontrei meus amigos numa cafeteria e perguntei por que não tinham me chamado. Para minha surpresa descobri que era porque nunca atendia às ligações deles nesse tipo de ocasião - senti-me mal pois eles demonstravam importar-se comigo enquanto eu só pensava em mim mesmo. Conversamos bastante e Shin - meu melhor amigo - perguntou como andava me sentindo; essa foi uma pergunta diferente de "você está bem?" Mais uma vez ele mostrou preocupação: o que há de errado comigo?

[Segunda-feira, 11 de março]
Querido vazio... ao contar tudo o que estava acontecendo comigo para Shin e Helena (a primeira e única mulher pela qual realmente amei). Disse-lhes: "Conversei com o vazio hoje cedo... disse 'Querido Vazio... costumo colocar a culpa em você... acordo todas as manhãs olho no espelho jurando ver você sorrindo'". Eles nada disseram, exceto "Vamos orar por você". Fiquei angustiado por causa dessa frase simples "vamos orar por você"! Meu corpo é cético, mas minha alma clama por Cristo; anos atrás eu era muito ativo na igreja, mas agora? Digo estar bem, mas minhas ideias são tão mórbidas quanto a escuridão à qual tenho fugido por medo; finjo ser como Morpheus tendo resposta para um problema aparentemente insolúvel.

Carta aberta ao vazioOnde histórias criam vida. Descubra agora