Capítulo 3: Querido... Maldito...Vazio...

6 2 0
                                    

[Querido Vazio]

Querido vazio, hoje acordei hospitalizado e você estava ao meu lado com esses olhos sem vida fixos em mim. Os meus, apesar de igualmente vazios, estavam caídos. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Tremia e suava frio com uma expressão cansada no rosto. Sentia-me horrível! O que pensariam de mim agora? "Idiota" "burro" "retardado" "débil mental" "fracassado" "ingrato"... Alguém chamou por mim... Era Shin dizendo que havia me chamado três vezes; pedi desculpas por não ter ouvido antes.

Perguntei-lhe o motivo pelo qual eu estava ali, mas ele não respondeu imediatamente enquanto você, querido vazio, continuava a encarar-me com esses olhos terríveis! Não gosto da sua presença porque ela me lembra minha adolescência e vida adulta - ambas um inferno. Eu só era bom em escrever e desenhar - coisas que as pessoas desprezam.

Senti um aperto no peito, um gosto amargo na garganta; parecia haver arame farpado envolvendo meu pescoço e ardência no nariz quando Helena entrou na sala testemunhando uma das cenas mais deprimentes do ano para mim: a pessoa que mais amo viu-me chorando como uma criança!

O que esperavam de alguém como eu? Um fumante depressivo originário de família merda num mundo merda onde tudo dá errado?! Porque Shin teve de salvar-me?

Helena colocou suas duas mãos sobre o meu rosto numa tarde invernal dessas – é irônico como mãos tão delicadas podem ser quentes... E confortáveis! Beijou minha testa dizendo amar-me mais do qualquer coisa neste mundo – algo realmente surpreendente para mim já que nunca fora demonstrativo quanto aos seus sentimentos amorosos por alguém... E convenhamos: sou péssimo nisso também!

No fim restava apenas um abismo repleto do vazio da solidão. É engraçado pois o vazio está aqui ao meu lado; quando se olha demais para ele, o mesmo nos fita também...

Helena permanecia junto a mim assim como Shin – os únicos amigos presentes até hoje nesta caminhada da vida... Espero nunca perdê-los!

Então adormeci…

Carta aberta ao vazioOnde histórias criam vida. Descubra agora