[Carta ao Vazio]
Prezado vazio,
Encontro-me preso em um trânsito caótico nesta sexta-feira, dia 15 de março. A cidade costeira é alvo de intensos fluxos turísticos, especialmente durante os finais de semana. São apenas dezesseis horas e sete minutos da tarde, mas sinto meus olhos pesados refletidos pelo retrovisor do carro. Tive que deixar a cidade para resolver algumas questões familiares e não pude evitar pensar: "Estou aqui lutando e me esforçando ao máximo para ser rotulado como fracasso por aqueles que se dizem apoiadores".
Querido vazio, cheguei em casa devastado após esse dia difícil. Tomei banho e fui dormir imediatamente.
No dia seguinte acordei com peso nos olhos e decidi pedir demissão do meu trabalho ligando para o meu patrão irritado; sem rodeios mandei-o à merda (peço desculpas pela linguagem). Levantei-me novamente para tomar banho pois estava completamente suado.
Querido Vazio... ainda é sábado e liguei para o meu amigo segurando uma cartela de remédios nas mãos enquanto recitava um poema pra ele.
"Tantos poemas eu escrevo mais
E nenhum conhecido
Em qualquer ambiente
Eu sou desconhecido
Estou sempre sozinho
Desde a oitava série
Tem uma música que toca na cabeçaManual do suicídio
Me sinto sozinho
Perdido e abandonado
Vários fantasmas do passado
Tantas razões pra viver
Mas é tanta maldade
Que elas me fazem querer morrer
Agora tudo faz sentido
É o Manual do SuicídioTudo seria diferente
Se a Deus eu ouvisse
Pegasse a merda da Bíblia e lesse
Já me pediram para orar
Tenho pensado em muita coisa
Até mesmo ingerir remédios para me doparColapso
No turbulento silêncio da noite
Minha alma gritava
Eu ria e também chorava
Estou num mar infinito
Onde é composta por águas amargasMe sinto movido por ódio
Me sinto movido por medo
Me sinto movido por mágoa
É tanta dor
Nem consigo mais manter a máscaraA tristeza como chamas
Vai queimando meu corpo
Sobrando cinzas de uma pessoa desgraçadaEstou caminhando pro inferno
Vejo de perto
Que eu era mais forte
Eu tremo de medo
Caminho errado
Ficando largo
Ei mano
Hoje eu percebo
Sou um tipo de paradoxo
Cheio de contradições
A lágrima caindo
Minha alma apagada como giz em quadro negro
Enquanto escrevo essa merda de poema."Shin desligou o aparelho telefônico e dirigiu-se até minha residência, onde me encontrou inanimado no solo. Posteriormente, recobrei a consciência no ambiente hospitalar por alguma vontade divina que me concedeu a vida.
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Carta aberta ao vazio
De TodoNeste conto que ilustra a rotina de um rapaz, você verá que gradualmente ele desvendará o significado da vida, ele percebe que, apesar de suas crueldades e desafios, a existência é surpreendentemente mais vibrante e cheia de cores do que ele jamais...