É sábado, e o dia já amanhece com um calor infernal.
Acordo desorientado na minha cama de casal, com Lucas ainda dormindo e roncando ao meu lado. Neste estado, nem parece que esse filho da mãe me tira do sério em alguns momentos.
Mas fazer o que, ele é meu melhor amigo.
Estou do lado da parede, então saio da cama com cautela para não acordá-lo, o que não é difícil, pois Lucas tem um sono pesado.
Pego meu celular para ver se não tenho nenhuma notificação perdida, o que não é o caso. Nunca tem notificações perdidas quando pego meu celular pela manhã, mas não custa nada dar uma olhadinha.
Enquanto dou uma conferida nas minhas redes sociais, vou até a cozinha. Quando chego lá, vejo uma boa parte do balcão com um pó branco que suspeito que seja farinha de trigo, sobre as superfícies. Vejo meu tio concentrado amassando com um rolo de cozinha uma massa, limpo minha garganta e somente então ele percebe minha presença.
-Ah, finalmente acordou, pode vir aqui um minuto? Quero que você prove alguns espaguetes e me diga qual seria o melhor para colocar como uma nova comida no restaurante. Sinceridade é a única coisa que lhe peço – Fala ele abrindo um sorriso e me convidando para sentar.
Faço um movimento com os ombros e gesticulo um "por que não" na minha mente, e sento na cadeira.
Gosto quando meu tio me pede para experimentar algumas de suas comidas.
Meu tio vem com o primeiro prato. É um espaguete bem fino com almondegas, pego um pouco e levo com o garfo até a boca. É interessante, mas a única coisa que faço, é gesticular para ele me trazer o próximo prato.
O segundo prato é um espaguete com a massa igual a que comemos frequentemente, com carne moída e molho de tomate. Faço o mesmo movimento com o garfo, e provo.
O terceiro prato é um espaguete com a mesma massa do segundo prato, mas, queijo e camarão. Demoro um pouco desta vez, logo quando termino já tenho meu veredito.
-Prefiro o segundo, ele é um clássico, e vai ser melhor de vender – Falo com toda minha sinceridade.
-Parece que concordamos então – Diz meu tio retirando os pratos de cima da mesa.
-Eu tenho um bom gosto – Digo com um sorriso no meu rosto. Meu tio também esboça um sorriso quando termino de falar isto.
-Você foi dormir tarde de novo né?
-Não me lembro que horas fui dormir, mas fiquei até tarde assistindo algo no You Tube, não vi quando Lucas foi dormir.
Ele me olha com uma cara que sei bem o que quer dizer, "já tivemos essa conversa Gui". Acho que ele usa poucas vezes esse olhar.
Ele prefere usar "Mais tarde conversamos melhor", já esse eu não gosto tanto, normalmente quando ele usa esse olhar, mais tarde temos uma bela e longa conversa.
-Lucas ainda está dormindo? – Pergunta ele.
-Sim, e está roncando ainda por cima.
-Então foi por isso que você acordou?
-Em parte sim.
-Não se esquece, os dois que, me prometeram me ajudar hoje no restaurante se eu levá-los ao parque pela tarde.
-Relaxa, promessa é dívida – Digo lhe tranquilizando.
Logo quando essas frases terminam de sair da minha boca, Lucas aparece na porta bocejando.
-Oque tem para comer? – Pergunta ele coçando a barriga.
-Tem espaguete se quiser, já previ que vocês não acordariam cedo, então nem preparei o café da manhã – Diz meu tio.
-Clássico do senhor – Digo sorrindo.
-É melhor nós começarmos a nos arrumar, temos que voltar cedo do parque para abrirmos o restaurante.
-Urrru, parque aquáticooo! – Grita Lucas com as duas mãos para o alto.
Tanto eu quanto meu tio estamos sorrindo do Lucas.
Nos arrumamos rápido, em menos de 20 minutos, Lucas e eu já estamos com nossas mochilas prontas, estávamos na sala esperando meu tio terminar de limpar a bagunça, que ele fez na cozinha enquanto estávamos dormindo.
O caminho para o parque é longo e entediante, ele fica em uma área longe da cidade, logo não tem sinal de celular uma boa parte do caminho.
Já no estacionamento, percebemos que vamos passar um tempo nas filas dos brinquedos, pois o estacionamento do parque está lotado.
Logo que colocamos os pés para fora do carro, percebemos que o sol está mais quente do que o comum.
Descemos do carro e vamos logo até a entrada para comprar nossos ingressos. O Primeiro brinquedo que escolhemos é o maior tobogã do parque. Enfrentamos uma baita fila até ser nossa vez, mas o brinquedo é muito bom e logo depois de descermos nele, voltamos à fila para irmos novamente.
Depois de 3 vezes consecutivas, vamos até uma piscina que tem ondas artificiais e que podemos surfar.
Depois de surfar duas vezes consecutivas, vamos até uma piscina gigantesca no meio do parque, sentamos na beirada e ficamos com os pés dentro d'água.
-Já pensou se as respostas de todas as faculdades que nos matriculamos forem um simples e horrendo não, o que você faria se isso acontecesse? – Pergunta Lucas Sacudindo suas pernas que estão na água levemente.
-1) Nós dois sabemos que pelo menos, em uma faculdade passaremos, não é possível que todas elas nos digam não. 2) Acho que se isso se tornar realidade, trabalharia com meu tio em tempo integral. E 3) Você é burro, mas com certeza, no FIES você passa – Termino essa frase o cutucando com o cotovelo.
-Ei, não sou tão burro assim.
-Será mesmo que não é? - Falo arqueando uma das sobrancelhas.
-Ha ha ha, que engraçadinho. Pelo menos eu sei que a engenharia eu consigo na faculdade pública aqui da cidade.
-Como a minha é nutrição, acho que passo em alguma faculdade particular – Digo me deitando na beirada da piscina.
-O problema é arranjar o dinheiro para pagar livros, mensalidade e materiais, esse tipo de coisa sabe.
-Eu e meu tio daremos um jeito, sempre arranjamos um jeito em tudo – falo colocando minhas mãos em baixo da cabeça.
-Já eu, não posso ter esse luxo, vai ter que ser a pública mesmo – Diz Lucas tentando se conformar
-Mas a ideia de morarmos juntos assim que arranjar-mos um emprego melhor, ainda está de pé certo?
-Com toda certeza – Diz Lucas animado.
Depois de um tempo em silêncio, meu tio aparece com três sanduíches nas mãos e fala:
-Faz bastante tempo que procuro vocês, querem um lanche?
E é claro que aceitamos. Logos depois de comer, é a hora de irmos embora. No carro, Lucas me sugere uma proposta meio peculiar:
-Já que nosso tempo aqui no parque foi pouco, podemos ir ao rio amanhã, o que vocês dois acham?
-Amanhã tenho que ir no restaurante mais cedo para concertar o fogão, mas é verão, vocês deveriam aproveitá-lo.
-Acho que topo, vamos no meio da tarde, e podemos procurar algum local que não tenha muitas pessoas – Digo gostando da sugestão que Lucas propôs.
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Perda
Short StoryGuilherne e Lucas são melhores amigos, mas em um domingo fim de tarde acontece um acidente que faz um deles cair o mais fundo possível no fundo do poço. Como ele conseguirá superar esse acontecimento trágico ?