teacher's pet - ferlane.

Capítulo 14

Yasmin encarava nervosa a janela de seu escritório, vendo todos os alunos passarem conversando animadamente. Só havia uma pessoa que ela queria ver, mas parece que era a única.

Fazia exatas três semanas que Fernanda não comparecia ao trabalho, não estava em casa e não atendia suas ligações. A última vez que se falaram foi um tanto tensa, com Fernanda cortando todo tipo de pergunta que Yasmin fazia e dizendo vagamente que tiraria um tempo para ela. Mesmo sem entender, preocupada, e com vontade de socar a terapeuta, Yasmin lhe deu espaço e tempo, mas estava nervosa com todo o mistério que Fernanda havia colocado sobre si.

Yasmin sabia que sua amiga não era gentil. Fernanda podia agir como uma criança as vezes, mas era durona e intimidadora. Muitas vezes, não era uma pessoa boa e não lidava muito bem com não ter o que ela quer. Sendo filha única, Pitel entendia perfeitamente. Ela só queria proteger a única amiga que nunca saiu do seu lado ou pediu algo em troca da sua amizade, mas achava que tinha cometido alguns erros por conta disso.

Suspirou, balançando a cabeça e tentando se focar em seu trabalho, que também estava um inferno. Alane ainda tentava conseguir informações de Fernanda, muitos pais iam na escola dia e noite tentando comprar a aprovação de seus filhos e uma certa morena de olhos observadores estava capturando sua atenção mais do que devia.

— Com licença, senhora Brunet.

Yasmin suspirou, assentindo desgostosa quando Matteus entrou na sua sala. O tímido homem sorriu nervoso e juntou as mãos na frente do corpo. Ele tinha pavor absurdo de Yasmin.

— Diga.

— Queria saber como vão ficar os horários agora que a senhora Bande retornou.

Yasmin imediatamente levantou a cabeça, metade confusa e metade assustada. Sua mente piscava em alerta absoluto para aquela informação.

— Como assim?

— A senhora não viu? — ele perguntou confuso. — Eu não devia ter falado?

— Não! Era para falar! Onde está Fernanda?

— Estava indo para a sala do segundo ano.

Alane.

O coração de Yasmin disparou em seu peito e ela levantou de sua cadeira rápida como um raio e saiu correndo. Os corredores estavam meio vazios e era difícil correr em um scarpin preto de ponta fina, mas Yasmin fazia milagres.

Não foi difícil reconhecer a figura vestida de preto que caminhava tranquilamente pelo corredor. Os cabelos longos e negros de Fernanda caíam por suas costas como uma cachoeira, a pasta escura era segurada com firmeza e seu andar era firme, confiante. Yasmin gritou, fazendo com que a carioca parasse e se virasse.

Diferente do que achou, Fernanda não esboçou nenhuma reação ao ver a amiga descabelada e ofegante correndo atrás de si. Ela a olho com frieza e virou totalmente o corpo, esperando que uma Yasmin incrédula recuperasse o fôlego.

— O que caralhos significa isso!?

— O que parece?

Yasmin fechou os olhos, passando a mão nos cabelos loiros.

— Nanda! Você não atendeu minhas ligações, desapareceu da face da terra e simplesmente aparece aqui hoje querendo dar aula?

— Sim.

Yasmin ficou olhando para ela assustada. Havia alguma coisa mudada em Fernanda, aquela não era sua melhor amiga. Pelo menos, não a manteiga derretida que deixou em casa a três semanas.

— Nanda, o que aconteceu na terapia? — Fernanda não respondeu. — Ela te fez algo? Quer denunciar? Posso te dar mais dias de folga se-

— Nada do que não deveria ter acontecido, não se preocupe. Deseja algo mais ou posso colocar em dia as matérias que minha turma perdeu?

Yasmin deu um passo para trás, os olhos um tanto marejados. Fernanda nunca tinha sido tão... fria e dura com ela.

— Nanda, você sabe que eu sou a última pessoa do mundo que julga você. Eu sempre te acolhi e quero continuar acolhendo. Por favor, me diz o que aquela mulher te fez acreditar.

— Ela me fez enxergar a loucura das minhas ações, só isso. — Fernanda trocou o peso de uma perna para a outra. — Era o que você devia ter feito como minha amiga. Foi loucura o que fizemos.

— Eu melhor do que ninguém sei que estou errada! — Yasmin se defendeu, ofendida. — Mas eu só queria proteger você! Sabe que nunca fui capaz de aceitar que você seja derrotada.

— E por isso erramos duas vezes. Não existe coerência nos meus sentimentos e estou disposta a tirá-los para nunca mais voltar.

— Você se ouve!? — Yasmin chiou, incrédula. — Nanda, por favor!

— Chega Yasmin, você sabe que estou certa.

— O que eu sei é que você está cometendo um erro! Quantas vezes você se apaixonou na vida? Em quantas você tinha esse brilho no olhar?

Fernanda ficou em silêncio.

— É exatamente isso! Eu sei que existe o receio da idade e que você se acha uma predadora, não posso tirar isso de você. Mas você não vai tirar esse sentimento porque quer!

— Eu preciso. — ela falou firme. — Você não vai, e não pode me impedir.

— Só me deixe provar que você pode ser correspondida!

Fernanda lhe olhou por um segundo antes de desviar o olhar e Yasmin viu, naquele mísero segundo, que sua amiga ainda estava ali.

— Nanda, por favor. Ela pode sair e viver as próprias experiências, vocês podem se encontrar depois, mas sei que pelo seu olhar, você não vai deixar de amá-la, e ela não vai odiar você.

— Você não sabe. — ela falou baixinho.

— Eu sei sim. — ela balançou a cabeça. — Quantas vezes eu errei com você?

Fernanda lhe olhou pensativa. Yasmin encarou ansiosa aquele brilho no olhar retornando aos poucos. Ela ia conseguir.

— Senhora Bande?

Alane a encarou assustada, surpresa e confusa. Usava o uniforme da escola que Fernanda odiava, aquela saia curta. Os cabelos estavam soltos e ela se aproximava cautelosa, um tanto temerosa.

— O que está fazendo aqui? — Yasmin perguntou nervosa. — Ande, volte para sua sala e-

— Retorne imediatamente para a sala, senhorita Dias, ou começará o semestre me devendo mais pontos do que os que tem.

Yasmin virou-se, mas já era tarde demais. A feição de Fernanda estava dura novamente, os olhos totalmente apagados. Ela não esboçou reação com a presença de Alane. Pelo contrário, a olhou de cima a baixo com frieza e ergueu a cabeça. O que havia restado de sua amiga havia ido embora novamente.