Aviões de Papel & Vagalumes

Capítulo 5

Tori não conseguia deixar de se preocupar. Os últimos dias tinham sido estranhos. Jade e Beck não estavam se falando. Um com o outro, ou com qualquer outra pessoa, na verdade. Jade às vezes participava da conversa, mas parecia estar perdida em sua própria cabeça. E Beck... bem, Beck apenas observava Jade, com as sobrancelhas juntas e o canto da boca virado para baixo. Tori havia perguntado a Andre sobre isso, mas ele deu de ombros. "É isso que eles fazem. Eles brigam, a Jade dá um gelo no Beck e, de repente, eles voltam a se relacionar." Cat havia dito quase a mesma coisa, só que não tão articulada, e houve uma reclamação sobre a vez em que o irmão dela estava com a cabeça quente e acabou descobrindo que ele estava pegando fogo, mas parecia que Tori era a única pessoa, além de Jade ou Beck, que achava que havia algo errado. Todos continuavam como se tudo estivesse normal, esperando que em breve isso acontecesse. Mas, às vezes, Tori pegava Jade olhando para ela. Do outro lado da mesa durante o almoço, no final do corredor quando ambas estavam em seus armários, o tempo todo na aula de Sikowitz e na aula de roteiro. Se Tori alguma vez a olhasse, Jade lançava um olhar entediado e desinteressado e se afastava, como se não quisesse que seus olhos fossem parar em Tori. Era confuso, sem dúvida, mas Tori não podia reclamar. Se isso significava que ela poderia ter uma chance de ter Jade em sua vida novamente, mesmo que fosse uma sombra da amiga que ela costumava ser, então Tori estava a favor. Ela tinha visto quando Jade cedeu, quando a verdade rompeu a máscara de mentiras que Jade estava escondendo. Mesmo que fosse apenas por um minuto, uma pergunta feita enquanto elas estavam nos balanços do parque ou um deslize de linguagem quando Jade chamou Cat de "gatinha", isso ficou evidente. Tori sabia que Jade, sua Jade, ainda estava lá. E ela estava determinada a esperar o tempo que fosse necessário até que toda a máscara desaparecesse.

O que Tori se importava, no entanto, era como Beck começou a olhar para ela. No início, eram apenas pequenos olhares. Do outro lado da mesa do almoço ou na sala de aula. Mas depois Beck começou a seguir o olhar de Jade, e Tori estava sempre no final. Sua cabeça se inclinava levemente para o lado e seus olhos se estreitavam apenas um centímetro, como se ele não tivesse certeza do que estava olhando. E isso a incomodava porque, enquanto Jade estava tão presa em sua cabeça que seus olhos simplesmente pousavam em Tori, o olhar de Beck era sempre questionador. Como se ele estivesse tentando descobrir o que estava acontecendo na cabeça de Jade e Tori fosse, de alguma forma, a chave para isso. Então, quando Beck se aproximou dela entre as aulas na quinta-feira, Tori já imaginava o que ele iria dizer.

"Sei que isso pode ser estranho", começou ele, encostando-se no armário ao lado do dela, "mas você e Jade não são próximos, certo?"

Tori deu de ombros em resposta ao abrir seu armário. "Ela está sendo mais amigável, se é que se pode chamar assim, mas não somos próximas, não."

Beck acenou com a cabeça. "É, eu achei que não. Mas o modo como ela olha para você às vezes", ele se afastou, seus olhos se fixaram no conteúdo do armário de Tori.

"Achei que ela não olhava tanto para mim, se pudesse evitar", disse Tori com uma risada forçada, tentando aliviar o clima.

"Esse é o problema." Beck se levantou e Tori teve plena consciência de como seus olhos pareciam cansados. "Acho que ela não consegue evitar."

Tori suspirou e se afastou do armário para olhar para ele. "Olha, Beck, desculpe se as coisas estão meio estranhas entre vocês, mas não sei o que lhe dizer. Talvez você possa perguntar à Cat? Ela e a Jade parecem ser muito unidas, certo?"

Beck levantou um dos ombros e Tori observou quando ele caiu em sinal de derrota. "Sim. Talvez. Eu sinto muito. Eu não deveria ter arrastado você para isso."

"Não", disse Tori, estendendo a mão para tocar o braço dele, "você não fez isso. Não se preocupe. Tenho certeza de que a Jade vai acabar se recuperando e vocês ficarão como novos". Ela deu um tapinha no braço dele, sem jeito. Ela nem mesmo acreditava no que tinha acabado de dizer, e era óbvio que Beck também não acreditava. Ele apenas acenou com a cabeça e se afastou quando o sino de aviso tocou para a próxima aula. "Droga", disse Tori para si mesma, correndo para pegar seus livros antes de fechar o armário. Ela chegou à aula de roteiro assim que o sino tocou. "Foi por pouco, Tori. Sente-se", disse a professora, enquanto Tori acenava com a cabeça e corria para sua mesa. Ela se acomodou em seu assento, tentando o mais discretamente possível olhar para Jade. Ela não precisou olhar muito, porque Jade a estava observando, com o mesmo olhar contemplativo, quase distante, que ela tivera durante toda a semana. Jade balançou levemente a cabeça e olhou para a frente da sala. Tori não tinha certeza se Jade estava balançando a cabeça para ela ou apenas para clarear a mente, mas durante toda a aula ela viu os olhos da garota várias outras vezes.