--- Então, como se sente hoje, Jake Sim?
--- O mesmo de sempre, não sei porque vocês ainda tentam me tratar, ainda mais minha mãe que sequer liga para mim. --- o garoto resmungava olhando para os pés, enquanto a mulher sentada em sua frente se dirigia ao mesmo.
Jake semanalmente fazia consultas à sua psiquiatra, ordens de sua mãe. O garoto odiava aquela sala de paredes brancas sem graça que visitava toda semana, ainda mais a mulher que parecia sempre fazer as mesmas perguntas, apesar de ser a única pessoa com quem Jake conversava.
--- Acredite, isso vai te fazer bem, menino. Você prefere que façamos uma atividade de descontração hoje? Podemos desenhar. --- A senhora de bom grado continuava a incentivar o menino a fazer algo de diferente hoje, mas sem muito resultado vindo do outro.
Jake Sim era um adolescente um tanto quanto difícil de se lidar, sua cabeça ainda jovem estava cansada e cheia de problemas mal resolvidos. Ainda em seus 17 anos já havia vício em álcool e cigarros. Ele continha cicatrizes pelos braços e pernas, visivelmente recentes e outras novas a cada semana que se passava. Foi diagnosticado com início de depressão.
O garoto lidou com o divórcio dos pais logo tão pequeno. Seu pai era um empresário reconhecido pela região, mas por trás de sua postura rígida e feição que transmitia confiança, era alcoólatra, alguém difamado por conhecidos próximos e acusado por lavagem de dinheiro. A carreira do homem, a cada dia que passava, despencava. O adulto apenas descontava isso nas bebidas e em seu filho e esposa, criando discussões intermináveis e repetitivas, vindo até a ameaças de agressões. Jake enxergava o casamento de seus pais como nada mais que uma amizade muito limitada.
Sua mãe, por sua vez, se interessava por outros homens, digamos assim. Tinha saída frequentes, mesmo indo para outros encontros onde se mostrava infiel, o seu respectivo marido apenas ignorava isso, já que muito provavelmente não era tão diferente. Entretanto, a mãe do garoto vez ou outra tentava mostrar empatia com seu filho, mas não estava disposta a mudar seus atos, muito menos tentava criar um ambiente melhor para que sua criança crescesse.
O garotinho sempre esperava que as coisas mudassem, mas aos poucos foi perdendo seu brilho. Agora era apenas uma pessoa vazia que já não fazia questão de sentir algo. Sua mãe era mesquinha, esnobe. Gostava de esbanjar seus ganhos e riqueza - que boa parte era vinda de seu marido -; se dizia jovem demais para cuidar de uma criança.
Constantemente o envergonhava em público, o dizia que era preguiçoso e mal agradecido. Dizia às visitas e parentes que ganhava presentes e presentes mas não estava satisfeito, continuava no seu pé como uma criança insatisfeita e mimada, a perseguindo. No entanto, Jake Sim nunca lhe pediu todos os brinquedos que recebia de sua mãe, com os quais nem brincava, a única coisa que o garoto queria era seu carinho e o calor de seu abraço.
"Não é justo". Era o que Jake choramingava em seu quarto.
Às vezes pessoas incríveis são submetidas a crescem em lugares críveis.
Seu pai então os abandonou e sua mãe foi morar com seu novo namorado, deixando Jake sozinho com apenas 15 anos. Seus pais se enfiaram numa própria bolha de problemas e esqueceram de que haviam um filho, haviam praticamente o jogado na sarjeta. Após ter perdido suas conquistas e ganâncias, a mãe e seu parceiro acabaram morando em alguma pensão pela cidade, sabe se lá onde, porém, ainda implorando pela atenção do filho. Sua mãe às vezes passava para ver o mesmo, que na maioria das vezes estava dormindo, fora de casa ou se recusava a atendê-la.
Jake se fechou para o mundo. Ele se tornou rude e mal-educado com todos, aliás, ele nunca havia recebido educação de sua mãe, que muitas das vezes passava noites fora de casa. Era um garoto realmente complicado de se aproximar, sua cabeça estava cheia todos os dias. Ele mesmo era seu próprio fardo.
Ele não se via feliz em nenhum momento de sua vida.
O garoto jogado na cadeira olhava para o teto, absorto na confusão de seus pensamentos, suas têmporas doíam e constantemente molhava os lábios secos e famintos que imploravam por um cigarro. Continuava ignorando a mulher em sua frente. Ela com certeza havia percebido que algo novo nesta semana estava o incomodando.
--- Você quer falar sobre seu namorado, Jake? --- Isto o chamou a atenção, que fez o encarar e então bufar para o teto novamente.
--- Sunghoon não é meu namorado, nunca foi.
--- Bom, me perdoe, mas acho que semana passada você dizia que estava gostando de sair com Park Sunghoon. Como se sente em relação à ele?
--- É, eu'tava gostando. --- Fez questão de dar ênfase.
--- Você quer falar sobre isso?
--- Não.
Visto que o assunto não iria progredir, entrelaçou os dedos suspirando consigo. Houve uma decaída. Há alguns meses Sim havia melhorando seu humor, ele contou um pouco sobre seu único amigo, Park Sunghoon. A terapeuta havia notado que Jake teria criado um novo laço de afeto com alguém, e que esse alguém seria um papel de grande importância na recuperação do mesmo, mas agora a situação parecia ter mudado.
Após quase uma hora pulando de um assunto a outro, a consulta acaba. Jake saía as pressas do lugar direto para o colégio.
Antigamente no colégio Jake era muitas vezes vítima de bullying, por diversos motivos, os quais tão boçais e fúteis que não valeria a pena citar metade. Agora era como se fosse invisível, ninguém lembrava de sua presença. Vez ou outra era notado, rolando comentários por seu jeito esquisito e distante dos demais, mas nada muito grande. Jake não reclamava, preferia mil vezes assim antes de ser incomodado por algum tolo daquele lugar chamado colégio, assim pensava.
E assim era a vida de Jake Sim, de casa para o consultório, do consultório para o colégio e então para casa novamente. Vez ou outra ele sumia por algum lugar, passando dias fora, mas nunca souberam para onde ia.
A capa foi doada pela perfeita:To_x_love♡
Os créditos da versão vão para a jiwhooo♡
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alone with you | heejake
FanfictionLee Heeseung em suas idas e vindas ao terraço do colégio se depara com um ser baixo, moreno de olheiras fundas e cigarro entre lábios, Jake Sim. Heeseung estendeu-lhe a mão assim como fizera consigo há anos atrás, mesmo que o outro não se lembrasse...