Vendida ao Dono do Morro

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Brenda: - Sério eu não aguento mais morar nesse lugar e muito menos com o meu pai que se tornou outro homem depois que a minha mãe morreu, hoje acordei com o águia sobrevoando nossa comunidade e não pude ir trabalhar estava impossível sair de casa, a Pavuna estava em cena de guerra, ônibus queimado, tiro desde 05 horas da manhã não temos paz, eu queria ir trabalhar mas estava impossível e nossos patrão não liga né pq eles moram na outra parte da cidade e em outra realidade, eu trabalho como vendedora de óculos no shopping Grande Rio fica perto daqui de onde eu moro mas mesmo assim impossível ir, tá difícil até por a cara na Janela com risco de tomar um tiro.

Sou moradora da comunidade do Chapadão uma das favelas mais violentas da cidade, perdi minha mãe eu tinha meus 15 pra 16 anos morreu de câncer o maldito câncer ela era casada com meu pai que infelizmente depois da morte dela virou outra pessoa, meu pai está irreconhecível..virou um viciado em álcool e drogas, chega aqui em casa super pancado e as vezes vem me bater do nada, ele de vez em quando faz uns bicos em obra mas quem realmente banca a casa sou eu já que o dinheiro dele ele gasta tudo em droga e álcool, ah mas pq eu não saio de casa? Não abandono ele? Pq é meu pai, apesar de todos os defeitos eu o amo e não o abandonaria no estado que ele está, já tentei por diversas vezes fazer com que ele entre numa clínica de recuperação mas ele não quer, minha vida nunca foi fácil des de quando minha mãe se foi eu tive que ser a coluna da casa mesmo tão nova com uma responsabilidade grande nunca deixei faltar nada pro meu pai.

Todo mês faço compras, pago as contas de Internet e TV a cabo já que luz e água a gente não paga.. esse é um dos privilégios de quem mora em comunidade mas não são todos que usa gato, aqui alguns pagam mas na casa que eu moro não precisa, graças a Deus é própria então não preciso bater cabeça com aluguel, me dói muito ver meu pai no estado em que se encontra mas infelizmente ele escolheu estar assim e eu já tentei e tento de todas as formas tirar ele do fundo do poço aonde ele se encontra.

Elinaldo: Será que tua patroa não vai te mandar embora por você ter faltado mais uma vez? - Não era a primeira vez que eu faltava por causa de operação..as vezes até dar pra ir trabalhar quando a operação não é tão pesada, como hoje a operação é Águia, Bope e Choque tá dando muito tiro e eu não consigo sair de casa, mas pros patrões eles não querem saber se vc vai morrer tem que ir.

Brenda: Espero que não, eu deixei avisado no grupo que não dava pra eu ir e mandei alguns vídeos de como aqui está. - Ouvi mais tiros e corri pro banheiro, morro de medo.

Elinaldo: Esse povo não está nem aí pra nós pobres que trabalha pra eles. - Por um lado meu pai tinha razão.

Brenda: Sera que essa operação acaba que horas?

Elinaldo: Só Deus sabe - meu pai ligou a TV e colocou no Jornal, tava mostrando a operação aqui e estavam a procura do chefe daqui, ou seja operação enxuga gelo pq é muito difícil ver esse cara acho que nem na favela ele fica muito e quando fica é mais de 30 homens na contenção dele, muito bico.

Brenda: Odeio ver jornal - peguei meu celular e visualizei a mensagem do Rh do trabalho e eu me tremi toda "Oi eu sou Isis do Rh, amanhã as 11h pode comparecer? Não precisa mais vir trabalhar hoje e traga seu uniforme por favor."

Elinaldo: Que foi tá com essa cara porque?

Brenda: Fui mandada embora - disse com meus olhos cheio de lágrimas. - esse lugar só atrasa a minha vida pai, não vejo a hora de sair daqui.

Elinaldo: Poxa filha, mas pelo menos tu vai receber uma rescisão boa né afinal tem um tempinho que vc trabalha lá - acabei de ser demitida e meu pai já está pensando no dinheiro.

Brenda: Não vou te dar um real pra vc gastar com droga e bebida, vou reformar a nossa casa como eu te disse pai

Elinaldo: Filha....é que...- interrompi ele

Brenda: É que nada, amanhã eu vou lá vou ver quanto vou receber e não vou te ajudar a se afundar mais do que já está. - Limpei minhas lágrimas que insiste em cair e fui pro meu quarto peguei o porta retrato da minha mãe comigo e beijei. - Seria tudo tão diferente se vc estivesse aqui mãe. - Voltei a chorar mais ainda lembrando da minha mãe, que falta ela me faz.

Como não dava pra sair de casa tive que improvisar  fazer um macarrão pra nos comer, a operação foi acabar lá pra umas 17h da tarde, 4 mortos sendo 2 deles morador e 10 presos e 2 fuzil apreendido... até quando isso vai continuar eu não sei só peço a Deus que me guarde e guarde o meu pai que mesmo com todos os defeitos eu o amo demais.

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•Primeiro capítulo postado 🥺🤍

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