Parte III

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Era a minha primeira noite no apartamento novo. E apesar de estar acostumado a viver sozinho, eu não conseguia fechar os olhos. A imagem do rosto assustado da Catarina me perturbava de verdade, me sentia mal por tê-la machucado e pior ainda por ter saído daquela forma. Passei o resto da noite em claro, e quando o Sol surgiu pela janela do quarto foi como se minutos tivessem passado. Não levantei da cama. Podia ouvir o meu telefone tocando incessantemente. Mas não me movi.

Não esperava que aquela angustia fosse desaparecer de repente, mas queria ao menos poder fechar os olhos.

Ouvi o interfone, e me perguntei o que poderia ser. Visto que ninguém sabia o meu novo endereço. Levantei sem vontade, mas sabendo que não poderia ficar deitado por muito tempo.

— Sr. Hudson, um homem que se diz o seu irmão se apresentou na portaria do prédio. – respirei fundo, passando a mão pelos cabelos.

— Pode deixar subir. – quatro minutos depois ouvi batidas na porta. Ao contrário do que imaginei, não era o Christopher ou o Anthony que procuravam por mim.

Henry estava parado com os braços cruzados na porta, levantou uma sobrancelha quando abri, e me encava sério.

— Até um mendigo está mais apresentável que você. – dei passagem para que ele pudesse entrar. Notei como estava a observar o meu apartamento, e sabia que viria algum comentário a respeito da minha situação financeira. Os últimos anos sem convivência com irmãos tinham me feito esquecer o quanto eram intrometidos. — Pelo visto não saiu das forças armadas com uma mão na frente e outra atrás, como imaginamos.

Revirei os olhos, passando por ele e indo na direção da cozinha. Não havia quase nada de utensílio para utilizar, e lembrei que precisaria comprar urgentemente.

— Nossa mãe esperou você para o café hoje cedo. – olhei para o relógio que trazia no pulso. Dez da manhã. Eu não tinha visto o tempo passar tão rápido.

— Eu acabei dormindo demais. – ele riu, coçando o queixo e olhando para baixo, parecia estranho.

— Seus olhos dizem tudo, menos que dormiu.

— Porra, o que você quer? Como me achou aqui? – Henry ergueu as mãos em rendição, se afastando para o outro lado da sala. Ele começou a fazer um tuor pelo apartamento, entrando em portas que nem eu mesmo tinha aberto ainda.

— Da última vez que você veio construímos uma casa de madeira para o cachorro. – cerrei os olhos, como se o gesto fosse capaz de me fazer lembrar do que ele dizia. — Se ainda puder fazer aquilo, pode vir trabalhar para mim na construtora.

Dei uma risada irônica.

— Trabalhar para você. Vai se foder! – Henry caminhou até estar próximo de mim.

— Trabalhar comigo. Você sabe o que eu quis dizer.

— Não, eu não sei. – fui sincero.

— Ben, seja lá que merda tenha acontecido com você, essa é uma nova vida agora, não podemos viver para sempre no passado.

Ignorei o fato daquelas palavras terem causado um efeito positivo em mim. O meu irmão tinha razão, apesar de que eu nunca diria isso.

Levou uma semana para que eu me acostumasse com a ideia de estar trabalhando com ele. Comecei fazendo trabalhos leves e pouco complexos, instalações de portas e reparo em telhados. Tinha começado a procurar uma casa para comprar, mas nenhuma tinha me chamado a atenção.

Não tinha mais visto a Catarina desde a noite que ficamos juntos. Queria poder apagar a parte ruim daquela noite da minha cabeça, ficar somente com a imagem do rosto dela completamente entregue a mim.

Minha CuraOnde histórias criam vida. Descubra agora