Parte V

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Tirei a roupa que vestia e procurei por uma outra mais confortável. Optei por ficar com uma bermuda e chinelo. Ouvi vozes da sala e estranhei, visto que estávamos sozinhos em casa.

Quando cheguei à sala a minha mãe estava parada na porta com a chave que eu havia dado a ela na mão. O combinado tinha sido que ela viesse ao meu apartamento quando houvesse alguma emergência. E pela expressão sorridente no rosto daquela que me gerou, não parecia que nada havia de errado.

— Mãe, o que faz aqui. - Catarina estava parada atrás do balcão da cozinha. Ela usava uma camiseta minha e estava de calcinha.

— Eu vim limpar o seu apartamento. Não imaginei que já tivesse contrato alguém para fazer. Desculpe, querida, mas eu falei a ele que não precisaria contratar ninguém. É um gasto extra, filho. - Cat estava sem reação, olhei para ela e logo em seguida para a minha.

— Eu não contratei ninguém. Catarina é uma amiga. - ela não se movia, e imaginei que fosse pelo fato de estar seminua.

— Oh! Eu achei que... desculpe, eu achei que fosse uma nova diarista. Eu sou a Diane.

Minha mãe estranhou o fato dela não sair do lugar.

— É um prazer conhecê-la. - Cat respondeu, não escondendo a vergonha.

— Acho que deveria ir, depois nos falamos. - ela olhou para mim. — Gostaria que me ligasse antes de vir ao meu apartamento.

— Desculpe, filho. Eu achei que estivesse trabalhando com o seu irmão. - ela passou por mim, indo na direção da outra mulher que praticamente se escondia na cozinha.

Minha mãe parou no lugar, olhou para mim e depois para a Catarina. Vi como ela ficou vermelha imediatamente, voltando ao lugar de antes.

— Nos falamos em outra oportunidade. Até mais. - ela saiu, parou na porta e deu tchau com as mãos. Catarina retribuiu.

— Que merda! - ela ainda estava imóvel. — Está tudo bem?

— Sim... É só que... eu não sabia o que fazer. - admitiu. Caminhei até ela e a abracei.

— Me perdoe por isso. Eu não sei o que dizer. - Estava envergonhado.

— Tudo bem. Eu estava agachada na sua cozinha com uma panela na mão. Qualquer outra pessoa acharia que eu seria uma diarista ou sei lá. - percebi a tentativa dela de tornar aquilo pequeno.

— Não precisa mentir se isso a incomodou de verdade. É justo que tenha ficado ofendida. - ela aceitou o abraço que eu dei.

Catarina preparou uma comida rápida. Comemos em silêncio e conversamos sobre alguns assuntos na mesa. Ouvi o interfone e revirei os olhos.

Que raio de problema tinha com aquele dia para que todo mundo resolvesse lembrar da minha existência?

— O meu irmão está subindo. - desliguei o interfone quando o porteiro terminou de dar o recado. Catarina foi para o quarto, dizendo que trocaria de roupa.

Não queria que o Henry a visse, mas jamais pediria que ela ficasse no quarto. Seria ridículo e ofensivo.

— O que houve? - perguntei ao abrir a porta. Meu irmão fedia a bebida alcoólica. Ele entrou sem que eu convidasse. Estava com o rosto vermelho, parecia ter chorado ou feito um esforço para não chorar.

Mas a tristeza era nítida no olhar dele.

— Ela me odeia, Benjamin. Eu fui sincero, contei a verdade e agora ela me odeia e não quer mais me ver. - respirei fundo, sem ter ideia do que falar.

— Henry, eu sinto muito. - ele sentou no sofá e eu resolvi pegar uma água.

— Porra, eu sou um idiota. Por que caralhos eu tinha que me apaixonar? Porra, porra!

Minha CuraOnde histórias criam vida. Descubra agora