PRÓLOGO

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08 de fevereiro | Segunda-feira


ERIKA BRADLEY

A Metamorfose é a sequência de uma grande mudança em espécies específicas de animais, que sofrem durante o seu desenvolvimento. Como exemplo, uma lagarta se obrigará em seu casulo e logo sairá dela como uma linda borboleta, com asas coloridas e alegre.

Descobri que me tornei a minha própria borboleta; competitividade e independente.

Ao longo dos meus quinze anos, vivi sob pressão dos meus pais. Obedeci cada ordem, cada desejo. Cada grito que me deram e diziam ser pela minha educação. Por cada suspiro e cada batida na porta. Mas eu os rompi a partir do momento em que saí daquela casa.

Não, não cortei ligações entre a gente. Ainda nos comunicamos. Por exemplo, na semana passada, meus pais me ligaram e perguntaram-me como estava. Sem mentiras, disse que estava tudo bem, perguntei-lhe o mesmo e suas respostas foram as mesmas, mas ainda assim, não temos lá essas ligações de família unida.

Meus pés guiam-me até uma das mesas mais próximas do balcão. Sirvo dois adolescentes para lá de bêbados que tagarelavam sem descansos.

Fora estes adolescentes e mais dois rapazes sentados mais ao fundo, o bar estava vazio. Já se passavam da meia-noite, todos os funcionários já se foram excetos por mim e Nora, minha amiga. Joe, o proprietário do bar, meteu o pé daqui depois de receber uma ligação de urgência da esposa.

A música toca baixinho na caixa de som. Arrasto a cadeira e me junto a Nora. Ela esfrega os cabelos cacheados e negros, aumentado seu frizz.

— Não podemos apenas empurrar esses cinco para fora e lhe entregar uma bebida em mãos? — pergunta, erguendo seu olhar para mim.

— Por Deus, não! Sabe-se lá o que eles podem aprontar.

A morena grunhi e deixa a cabeça pender para o lado, os cachos seguem seu movimento.

Nora usa um vestido branco e justo ao seu corpo, marcando suas belas curvas e realçando seus seios. Em seus lábios, usa um batom vermelho escuro e um bush claro, a máscara preta com listras roxas brilhantes cobriam parte da sua delicada face.

— Amanhã é meu dia de folga — começo. — Andei pensando em procurar um emprego para mim.

— Não é uma ideia ruim, posso dar uma mãozinha amiga para você — ela diz calmamente, lançando uma piscadela em minha direção. — Sabe em que área deseja?

Escorrego na cadeira e cruzo os braços. Ela ergue a sobrancelha.

— Considerarei como um 'não', mas pense sobre isso. — Olhando o relógio em seu pulso, ela se levanta, afastando alguns fios de cabelo do seu ombro. — Vou andando, já está no meu horário.

Ergo o polegar.

— Assumo a responsabilidade daqui pra frente.

Nora vai até a sala dos funcionários e volta em segundos com uma bolsa e a máscara ainda posta. Nos despedimos e ela se vai fechando a porta logo em seguida. Expiro e inspiro devagarinho.

Noto que os três adolescentes já se foram enquanto estava distraída e então só me restavam os dois homens ao fundo.

Me aproximando deles, percebo o quão bêbado e destruído estão. As maçãs do rosto tomam uma tonalidade rosada e seus olhos estão profundos.

— Acordem, por favor! — Puxo a gola das camisas. Eles soltam um murmúrio baixo, entretanto não movem sequer um músculo. — Por Deus, ergam-se!

O acastanhado abre os olhos lentamente e levanta a cabeça. Seus olhos percorrem meu corpo, me estudando. Penso que se levantará e irá meter o pé do bar (junto ao parceiro, é claro), mas seu corpo desaba novamente na mesa.

Bufo e esfrego a mão no rosto, grunhindo. Tento mais algumas vezes, entretanto não se movem. Já desistindo, pego os dois copos de Vodka da mesa e começo a marchar para o balcão. Não sei quantos copos ou garrafas foram ingeridas, embora essa informação seja insignificante neste momento, tendo em vista que agora os dois assemelha-se a dois zumbis sentados em um bar. Irônico.

Pego a jarra de água na geladeira e despejo o liquido no copo, enchendo-os até a metade.

— Tá legal. — Volto a mesa e cutuco o ombro do acastanhado. Coloco os dois copos em cima da mesa, próximo a eles. — Está tarde e não posso manda-los embora a está hora. Agora levantem-se e tomem essa água.

Pouco a pouco, os dois levantam o tronco, ficando eretos na cadeira. Tontos, eles pegam o copo e tomam. Em suas vestimentas, há um cartãozinho com seus nomes. 'Nicolas' e 'Nathaniel'.

O rosto de ambos é livre de barba ou tatuagens, embora tenham piercing no nariz. Seus maxilares são definidos, suas sobrancelhas grossas e os lábios carnudos, o olhar cativante e forte. A única indiferença entre eles são seus cabelos: Nicolas tem cabelos claros, uma tonalidade próxima a loiro, e Nathaniel tem cabelos pretos.

Assim que terminam suas águas, me posiciono ao lado de Nicolas, dobrando minha perna, passo seu braço por detrás do meu pescoço, faço um esforço para conseguir levanta-lo da cadeira. Todo o seu peso é passado para mim, e sem a assistência de outro alguém, dificulta.

Assim que adentramos um quarto, deixo que seu corpo mole desabe para a cama e adormeça, resmungando. Volto a mesa e encontro Nathaniel no mesmo lugar. Faço os mesmos movimentos que fiz com Nicolas, porém Nathaniel era muito, muito mais pesado e maior.

— Droga — resmungo. — Você é pesado, cara. Coopera comigo!

Meu corpo estava curvado, como a de uma senhora, me causando um certo desconforto na cintura.

— Me solte — ele murmura, mas não se debate.

Levanto as sobrancelhas, e então faço o que pede. O solto e seu corpo vai de encontro ao chão. Ele solta um gemido baixo, e devido ao álcool, coloca a mão na cabeça. Ele me lança um olhar, levanto meus braços a altura do ombro, em redenção,

— Você que pediu e agora está reclamando? — Solto irônica. Ele bufa.

Não reclamei.

— Mas iria. — Nathaniel revira os olhos.

Em meio a uma risada curta, o pego novamente. Cambaleio até o quarto e o coloco na cama. Ele fecha os olhos, mas não adormece.

Vasculho as gavetas, procurando por um lençol

­­­­­­­— Vai nos deixar passar a noite aqui?

Infelizmente, sim.

Por que 'infelizmente'?

— Porque não posso deixar clientes dormirem aqui.

­­— E você está deixando agora.

Com um lençol em mãos, me viro.

— Sim.

Então gosta de nós?

Solto um resfolegar risonho e jogo o lençol por cima deles. Nicolas resmunga, mas não acorda.

— Não. Está será a última vez que acontecera isto. 

Não pode ter tanta certeza disso — ele diz com firmeza. Ergo meu olhar, noto um sorriso pintar seus lábios. — Você me parece uma demônia. Linda.

Bufo, revirando os olhos.

— O proprietário vivia me dizendo: "Bêbados são doentes. São todos da mesma raça."  —  Faço aspas com os dedos e ele arquea a sobrancelha — Eu confirmo o que dizia.

Marcho para fora do quarto e me viro antes de fechar a porta.

— A chave vai está na mesa. Boa noite.

Continua....

Doce e amargoOnde histórias criam vida. Descubra agora