Stephanie nunca mentiu na vida.
E talvez esse seja o motivo de sua maré de azar sem fim...
Decidida a mudar sua sorte, ela acaba colocando uns detalhes a mais em seu currículo, mas não são tecnicamente mentiras porque ela tem planos de realizar aqu...
Stephanie passou três semanas se planejando para aquele momento, mas a verdade é que ela havia passado os últimos oito anos se preparando. Desde o dia em que ela viu Can Bolat pela primeira vez através de seu antigo aparelho de celular de péssima resolução, ela soube que era amor de verdade. Na época, ninguém sabia quem ele era. Era o primeiro papel dele, atuando como ponta em uma telenovela turca, mas para Stephanie, Can tornou-se seu mundo naquele instante. Ele já era lindo naquela época, antes de ganhar os músculos e consertar o sorriso que o haviam tornado o homem sedutor de hoje e, talvez, era por isso que Stephanie sentia ciúmes das fãs mais recentes dele. Para ela, Can sempre seria seu por ela ser apaixonada há tantos anos. Ela acreditou nisso por tanto tempo que jurou para si mesma que não teria um relacionamento se não fosse com ele. Pra qualquer outra pessoa ela poderia soar como maluca ou obcecada, mas Stephanie via como "aproveitar sua chance". Se ela estivesse com outro homem quando o encontrasse, seria difícil usar sua oportunidade de conquistá-lo e ela conseguiu se manter fiel à promessa. Durante esses anos, sabia que iria encontrá-lo e agora seu maior sonho estava prestes a acontecer.
Ela estava tão ansiosa que havia trocado de roupa exatamente dezessete vezes naquela manhã e ainda não se sentia pronta para ir trabalhar.
Como ela conseguiria conquistar Can Bolat parecendo tão... normal?Ela refletiu enquanto analisava seu reflexo no espelho. A saia e as botas de couro marrom combinavam muito bem com a regata de cetim creme e ela havia feito uma maquiagem perfeita que fazia seu rosto brilhar, mas de alguma forma, Stephanie ainda não estava chamando atenção. O vestido de seda de antes parecia muito exagerado, enquanto as calças de alfaiataria e blusas rendadas eram muito simples. Havia algumas outras opções, mas talvez não fossem ideais para o trabalho por causa dos decotes e transparências...
— Filha, — sua mãe entrou no quarto sem cerimônia, trazendo o inebriante cheiro de bolo recém assado para o ambiente. Toda manhã o apartamento ficava com aquele cheiro por conta dos inúmeros doces que sua mãe fazia para vender. Parando ao lado de Stephanie, ela observou sua roupa e sorriu. — Você está linda, mas está atrasada e seu amigo deve estar ficando cansado de te esperar lá na sala.
Amigo?!
Confusa, Stephanie correu para fora do quarto e assustou-se ao reconhecer o homem que estava sentado em seu sofá. Ou melhor, deitado em seu sofá.
De todas as pessoas em que ela poderia pensar, Isaac jamais estaria dentro das possibilidades de ser visto em sua casa, ainda mais parecendo tirar um cochilo no sofá florido com uma fatia de bolo de casamento equilibrada em sua barriga plana.
— O que você está fazendo aqui?
Com calma, ele segurou o prato com uma mão e se espreguiçou, fazendo a blusa social levantar e revelar um rastro de pele dourada e algumas marcas do abdome definido que Stephanie odiou ter reparado. Parecendo ter todo o tempo do mundo, ele colocou o prato sobre a mesinha de centro e a olhou de cima a baixo, erguendo as sobrancelhas para a fenda da saia de couro marrom.
Sentindo-se um pouco desconfortável com o escrutínio, Stephanie cruzou os braços e devolveu o olhar, perguntando-se se Isaac fazia ideia de que aquelas roupas eram a última tendência de moda.
— Você está bonita, — ele pigarreou. Sua voz estava rouca de sono, mas o efeito que causou em Stephanie foi o suficiente para irritá-la.
Ele não devia estar olhando para ela daquele jeito, como uma mariposa atraída por chamas. E o olhar dele sempre foi profundo daquela forma? Ela não sabia dizer por que evitava ao máximo qualquer contato com Isaac, mas não tinha como escapar agora que ele estava em sua casa.
Ignorando o arrepio que começava a subir por seu corpo, ela apanhou a bolsa que havia jogado sobre uma poltrona no dia anterior e seguiu para fora do apartamento, sabendo que Isaac viria atrás.
— Você devia levar um casaco... — Ele disse ao parar ao seu lado no pequeno hall.
Sua presença ao lado dela naquele espaço pequeno estava fazendo coisas estranhas com seu corpo. Seu estômago parecia revirar e as pontas dos dedos estavam ficando geladas.
Stephanie se perguntou se ele havia notado o arrepio em sua pele, mas se manteve firme enquanto olhava o visor que mostrava aonde o elevador passava. Os números estavam demorando para mudar naquela manhã.
— Não estou com frio.
— Vai esfriar à noite.
— Eu não sinto frio com facilidade.
Finalmente, as portas do elevador se abriram e ela entrou, sentindo Isaac em seu encalço. De relance, ela reparou que ele estava rindo consigo mesmo e torceu para que ele não falasse nada. Para sua sorte, ele se manteve quieto.
Ao alcançar o térreo, Isaac mal esperou pelas portas se abrirem antes de pular para fora do elevador. Ele olhou por cima do ombro para Stephanie e disse: — Para quem não sente frio, você está toda arrepiada.
Argh! Ela o odiava! Aquele dia mal havia começado e já estava óbvio que Isaac iria atrapalhar tudo. E ela ainda não sabia o motivo dele ter aparecido em sua casa.
— Por que você veio até aqui? — Ela perguntou, correndo para alcançá-lo.
Por mais alto que fosse, ele devia estar dando aqueles passos longos intencionalmente e Stephanie não tinha escolha a não ser correr atrás dele. Quando o alcançou, reparou que ele sorriu ao olhar para suas botas e teve certeza de que ele estava fazendo ela ficar sem fôlego de propósito.
Isaac continuou em silêncio enquanto passavam pela portaria e, somente quando pararam ao lado do carro prateado em frente ao prédio foi que ele explicou.
— Eu vou ser sua sombra pelos próximos dias. Afinal, nós vamos receber o Can Bolat juntos.
Ele abriu a porta do carona para que ela entrasse. Stephanie se sentou, se controlando para não perder a paciência com Isaac. Ele podia até ser bonito, mas bastava abrir a boca para que toda a beleza fosse perdida. O jeito como ele sempre falava, parecendo achar graça de tudo, a incomodava mais do que deveria.
Isaac estava fechando a porta quando parou de repente e se abaixou, ficando com o rosto na mesma altura dela.
— Aliás, eu deveria me preocupar com seu profissionalismo? Eu vi as fotos e cartinhas de amor que você escreveu para ele. Foi bonitinho... há quantos anos você tem essa paixonite por ele?
Dessa vez, o estômago de Stephanie se revirou de verdade. Ela havia esquecido completamente do álbum de recortes que deixou sobre a mesa da sala na noite anterior.
Certamente Isaac iria atrapalhar tudo!
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