Dois Dias Antes do Dia 0

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Brigas, brigas e brigas. Essa tinha se tornado a nossa rotina. E, quando a gente planta tempestade, não há como colher calmaria. Acho que o nosso amor era um náufrago que se agarrava em um porto seguro destruído. Fazia tempo que a gente remava em sentidos diferentes. Mesmo assim, dói ouvir que a gente junto já não fazia sentir, já não fazia o menor sentido.
Quarto estava uma bagunça; para ser sincera, eu também estava. Ainda não tinha superado a última briga, seu último sumiço sem explicação. Tentei esboçar um sorriso quando você chegou com aquela camisa xadrez que eu amava. Você já não era o mesmo, já não se parecia com quem eu havia conhecido. Sentou-se na beirada da cama, mal me cumprimentou e foi direto ao ponto. Estava de partida. Lembro-me de sentir uma idiota ao perguntar para onde você ia, se eu poderia ir junto nesta viagem. E do seu rosto sem expressão ao responder que iria embora de nós dois, que iria para longe de mim. Tenho a vaga lembrança de você dizendo que o problema não era comigo, mas com você, que a vida andava complicada, e de explicar como não tinha tempo para um relacionamento. Que me amava e torcia pelo meu bem. Acho que foi isso que você disse. Ainda ecoava em minha cabeça você dizendo que ia embora de nós.
Doeu demais, doeu de uma forma que nunca imaginei que poderia doer. No meio de tudo aquilo ainda quis falar, tentar entender. Mas só consegui falar: — Se você partir, eu nunca mais serei inteira. Enquanto você, ainda sem expressão, já me dava as costas e saía pela porta do quarto sem olhar para trás.

100 Dias Depois Do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora