CAPÍTULO ÚNICO | café, gato e paixão

50 11 34
                                    

—x—

Às vezes tudo que queremos é uma vida tranquila. Tranquilidade era sinônimo de felicidade para mim desde que me conheço por gente.

Acho que não me reconheço mais, já que essa tranquilidade excessiva começou a me incomodar.

Voltando no início da minha autonomia, meus pais já até tinham se preparado psicologicamente para minha decisão de ter um futuro fora da curva, virar mochileira, contrabandista, atriz de musical da broadway, aeromoça, sei lá, para todos que me conheciam qualquer coisa que não fosse convencional era totalmente a cara de Shin Ryujin.

Meu ato de rebeldia foi, na verdade, escolher não fazer faculdade e abrir um estabelecimento em uma rua não movimentada de Itaewon. Quando contei a todos sobre minha escolha não fui levada a sério, mas depois de meses insistindo, meus pais viram que eu seria uma boa dona pela vontade que eu tinha de cuidar de um negócio só meu.

E então abri minha cafeteria.

Nos primeiros meses tive ajuda de pessoas próximas para lidar com a administração, os fornecedores de alimentos e a compra das máquinas que fariam aquele lugar funcionar.

Para a minha surpresa, o lugar vingou rápido, no começo lotava de pessoas querendo provar o cardápio da coreana mais jovem a abrir uma cafeteria, eu preparava todos os pedidos com muito amor e atenção. Assim como em qualquer lugar, captei uma clientela fixa que me deixava confortável para poder seguir com o estabelecimento sem problemas.

Precisei contratar duas pessoas para me ajudarem no atendimento e na preparação dos pedidos, já que eu não estava mais dando conta sozinha. No atendimento, uma garota chamada Hwang Yeji trabalhava meio período todos os dias que abríamos. Basicamente ela anotava os pedidos, os entregava e limpava as mesas após os clientes irem embora. Yeji era linda e muito simpática, isso fazia os clientes voltarem só para serem atendidos novamente pela funcionária sorridente e com olhinhos que lembravam um felino.

Lee Chaeryeong me ajudava como barista, ela era muito habilidosa, porém, muito tímida para atender e, por isso, ficava apenas na arte da preparação de bebidas. Era ágil e suas bebidas eram deliciosas, os clientes aprovaram rapidamente seus métodos e desde então ela era vista como a peça chave da cafeteria. Nossa joia preciosa.

Basicamente essa era minha vida monótona, eu acordava, abria a cafeteria, trabalhava o dia todo, fechava a cafeteria, ia para casa, assistia doramas e dormia. Quando queria ter um pouco de emoção, eu saia com as meninas para um barzinho à noite de vez em quando, mas nada muito fora do comum.

Ser Shin Ryujin não era emocionante, e eu nem queria, só que tudo começou a mudar quando essa situação monótona começou a me incomodar profundamente.

Sem contar que, a solidão estava me preenchendo. Mesmo cercada de pessoas incríveis, um vazio profundo tomava conta de mim como nunca havia experienciado antes.

Yeji e Chaeryeong um certo dia me aconselharam a adotar um bichinho de estimação. Ambas eram mamães de cachorrinhos e eu não pude negar em seguir o conselho de donas de pet. Então, adotei um gatinho. Dallie. Ele me ajudava muito no quesito solidão em casa, meu apartamento já não parecia tão vazio como antes. Um miado num dia triste já me animava mais do que o simples silêncio mórbido daquele apartamento com menos de quarenta metros quadrados.

Chaeryeong começou a namorar uma universitária. Yuna. Era fofo vê-la buscar Lee antes de eu fechar o estabelecimento todas as noites. Sempre nos cumprimentávamos e fazíamos piadinhas sobre nossos sobrenomes serem o mesmo.

"Ah, bom fim de tarde, prima Shin."

"Espero que as aulas hoje tenham sido tranquilas, Shin junior."

Yuna era um ser super comunicativo, diferente de mim e Chaeryeong. E mesmo com essas desavenças era tão lindo ver como nossos diálogos tomavam um andamento natural mesmo que com personalidades tão distintas.

café, gato e paixão | jinliaOnde histórias criam vida. Descubra agora