CAPÍTULO 1 - Alysson

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Aqui estou eu, encostada no parapeito olhando para essa bela vista de Los Angeles, pensar na morte é inevitável, mas não na minha, claro.
Minha mãe está totalmente diferente depois do divórcio. Não sei se pra melhor ou pra pior, meu pai nunca foi uma boa pessoa mesmo. Minha mãe finalmente parou de dançar a dança do divórcio, pela qual dançou durante 17 anos. Para ela aquilo era amor, mas para mim era conversa afiada. Um grande amor nunca se acaba.
Minha mãe pode até se arrepender do divórcio algum dia, mas eu com certeza não.
Depois que meus pais saíram do cartório de registro civil, a primeira coisa que eu e minha mãe fizemos foi pegar um voo de Boston para Los Angeles. E com certeza não pensei em como no aqui no parapeito do telhado estaria frio. Não está um frio insuportável, mas também não está confortável. Pelo menos dá pra ver as estrelas.
Estou gostando dessa noite.
Bem... eu estava gostando dessa noite, pois acabei de ver minha mãe e um homem alto e com um terno azul marinho abraçados na calçada do hotel.
Pois bem, parece que mudou pra melhor mesmo.
Olho para a porta que leva à escada e penso se é ou não a coisa mais inteligente a se fazer agora, e quer saber, quem liga se é a coisa mais inteligente a se fazer ou não?
Corro em direção a porta, mas antes que eu a empurrasse, alguém o faz primeiro. Fazendo com que eu caísse com a força exercida para abri-lá.
— Mas que merda! — resmungo.
Um homem tão alto quanto a porta aparece segurando um cigarro em sua mão esquerda.
— Era só o que me faltava. Não dava para esperar eu abrir a porta antes, pirralha?
Oi? Quem esse idiota pensava que era para falar desse jeito comigo?
— Como é que é? Você que abre essa porta como se fosse você que tivesse pagado, me faz cair no chão, é mal educado e escroto e eu que sou a errada a história? — retruquei.
Me levantei, e quando finalmente fiquei de pé, o empurrei para que pudesse sair do meu caminho e desci as escadas batendo os pés, torcendo para que todos os hóspedes do hotel ouvissem. Então acabei desistindo de ir atrás da minha mãe e fui em direção ao bar do hotel. Mesmo sabendo que isso é uma péssima ideia, não deixou de ser uma hipótese.
Como alguém consegue ser tão arrogante? E qual foi o motivo da raiva que o leva a ser arrogante?
Certa vez minha minha mãe me disse que a raiva é um sentimento muito forte, porém, controlável, algo que pode levar a tragédia total ou pode te ajudar a se defender e a te ajudar a descobrir seus limites. Mas o que vem depois da raiva não controlada?
Bem, a resposta é simples: cerveja, cigarro e para fechar com chave de ouro, violência.
Um grupo de pessoas começaram a se aglomerar no ambiente, junto deles também tinha outro grupo, cujo estavam com alguns objetos encapados, pelo qual deduzi ser instrumentos musicais, e eu provavelmente estava certa, pois aquele grupo que estava entrando pela porta do bar, agora estão encima do palco.
Quando a banda começou a tocar as luzes foram apagadas, destacando as luzinhas coloridas que ficavam girando por todo o bar. Fui em direção a bancada onde estavam os garçons que estavam servindo as bebidas, e logo de aproximei de um.
— Pode me dar uma tequila, por favor? —perguntei, enquanto o garçom aproximava o ouvido para ouvir.
— Identidade, por gentileza.
Eu claramente não tinha idade para consumir bebidas alcoólicas, mas eu não estava ligando para isso, até ver minha mãe cruzando a porta acompanhada do mesmo homem que estava abraçada na frente do hotel.
— Só um minuto. — disse ao garçom, enquanto saia.
Assim que minha mãe me viu, abriu um sorriso e puxou o braço do homem, que agora também estava sorrindo. Quando estávamos a mais o menos 2 metros de distância, minha mãe gritou:
— Alysson! Finalmente te encontramos.
Me aproximei dela, e finalmente estávamos próximas o suficiente para falar em um tom agradável.
— Alysson, querida, queria te apresentar ao Will. — ela soltou o braço o homem e começou a falar novamente . — Alysson esse é o Will, e Will essa é a Alysson.
— Estou tão feliz em ver você , Alysson. — disse Will sorrindo afetuosamente para mim.
Ao lado dele minha mãe não parava de fazer gestos com os rosto para que eu me comportasse, sorrindo ou falando alguma coisa.
— Não posso dizer o mesmo, sinto muito. — eu respondi estendendo a mão para que ele pudesse apertar.
Eu sabia que o que acabara de fazer era rude, mas naquele momento parecia o certo dizer a verdade.
Will não pareceu ofendido e se adiantou para apertar minha mão entre as suas. Ele segurou minha mão por mais tempo do que deveria e me senti instantaneamente desconfortável.
A porta do bar foi aberta novamente, e para minha surpresa era o homem pela qual havia me derrubado. O Will logo olhou para trás, então aproveitei a oportunidade de soltar sua mão.
— Olha aí, o Cole chegou. Agora sim estamos completos. — disse Will acenando para o homem que acabara de chegar.
— Como assim estamos completos? Será que alguém pode me explicar quem é você e o que você faz aqui?
Sei que não estou sendo a pessoa mais adorável do mundo, mas caramba, minha vida simplesmente mudou da noite pro dia, e eu mereço no mínimo um boa explicação.
Às vezes ainda me pergunto por qual motivo ainda quero explicações, pois se tem uma coisa que aprendi durante minha adolescência é que na vida você não precisa dar tantas explicações. No final, as pessoas entendem o que querem e o que lhes convêm. Mas ainda precisava saber o que estava acontecendo.
— O motivo pelo qual queríamos vocês juntos aqui, é que queremos contar algo para vocês. E vamos entender se ficarem chateados ou não concordarem, e...
— Vocês estão namorando. — disse Cole simplesmente.
— Bem, namorando não é a palavra certa... —Falou Will enquanto coçava a cabeça. — Eu diria noivos.
Como assim noivos?
Espero não ter feito uma expressão muito exagerada, pois não quero demonstrar que cai nessa brincadeira de mal gosto. Mas pelo visto minha cara estava horrível e eu precisava sair dali para digerir tudo isso.
— Alysson, sei que para você está tudo muito confuso, mas filha, eu só quero o melhor para você.
Será que ela não vê a extremidade da situação, e que não faz nem uma semana que ela se divorciou, e que tudo mudou tão de repente, que eu não tive nem tempo para raciocinar e finalmente a ficha cair de que eu não vou mais precisar me preocupar se meu pai vai ou não estar em casa, pelos simples fato de que eu não vou mais estar em casa. E que por mais que eu queira muito chorar por isso, eu deveria estar dando o maior sorriso do mundo, porque eu não vou precisar entrar no meio da discussão e me colocar na frente da minha mãe para ter certeza de que meu pai não vai bater nela. Porque não haverá mais discursão. Mas eu preciso chorar por isso, porque ele ainda é meu pai, e ela ainda é minha mãe. E eu como filha, sempre quis que meu pai nunca tivesse feito nada com ela, e que eles não tivessem se divorciado.

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