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Natália respirou fundo mais uma vez enquanto encarava o portão de desembarque, lembrando das dicas de Lígia sobre técnicas de respiração para manter a calma.

Fazia exatamente seis meses e duas semanas que a Carol tinha embarcado para viver uma nova vida no Canadá, e Natália ainda se lembrava nitidamente daquele dia. Ela havia chegado naquele mesmo aeroporto com o coração apertado para se despedir, sem fazer ideia de como as coisas ficariam entre elas a partir de então. Rotinas e fusos diferentes, distância... Fora o maior problema de todos, o elefante branco na sala: seus sentimentos declarados, que agora pareciam pairar entre as duas como uma nuvem negra, afastando aquela que havia, aos poucos, se tornado a pessoa mais importante da sua vida.

Natália já havia aceitado que não era correspondida, esse não era o problema. Ela só não queria... Perder o que elas tinham. Era sua maior preocupação. Ela já havia passado anos secretamente amando a amiga de longe, era algo com que ela sabia lidar. O que ela não sabia mais era como não ter a Carol na sua vida. E essa possibilidade a deixava aterrorizada.

Por isso ela estava ali, mesmo com a forma que a Carol a estava evitando nos últimos tempos. Ela queria – não, risca isso. ela precisava resolver essa situação, antes que a Carol fosse embora. Não conseguia suportar a ideia de que ela fosse fisicamente pra longe estando emocionalmente distante também.

Para a sua surpresa, o olhar que encontrou na Carol naquele dia não havia sido desconfortável e furtivo como das últimas vezes em que se viram. Pelo contrário. A morena de olhos verdes havia suspirado, de maneira afetuosa e... complacente, talvez? Ela não tinha certeza, mas sabia que tinha afeto ali. Não da forma que ela gostaria, mas já era mais do que vinha recebendo nos últimos tempos. As duas trocaram sorrisos tristes.

"To feliz que você veio" Carol confessou, parecendo um tanto fragilizada. Ela com certeza achou que ir embora seria mais fácil do que estava sendo de fato, Natália sabia, conseguia ler claramente em suas pequenas expressões, seu corpo, seus olhos. Era reconfortante saber que a conhecia tão bem assim, a ponto de conseguir lê-la tão facilmente em alguns momentos.

Mas em outros... Ela podia ser um completo mistério, infelizmente.

"Não podia deixar de me despedir. Sabe lá quando que a gente vai se ver de novo, né..." respondeu, observando de canto de olho Adriana se afastar e puxar as meninas junto com ela, numa tentativa não muito discreta de dar espaço às duas.

"Logo, eu espero" Carol inclinou a cabeça de leve, e então, após hesitar por um momento, voltou a falar. "Natália, eu... eu sei que eu tenho estado distante ultimamente..."

"... Só um pouquinho" ela brincou, tentando usar o humor para deixar o clima mais leve, como de praxe. "Mas eu tenho minha parcela de culpa nisso"

"Não, você não tem culpa de nada" Carol balançou a cabeça em negativa "De verdade, você não fez nada de errado. Eu só... Aconteceu muita coisa de vez, eu tava tentando processar tudo. Mas eu não quero me afastar de você. Nunca." Ela hesitou mais uma vez. "...A não ser que você queira, que você ache que é o melhor pra você, porque eu não quero te fazer sofrer e...."

"Não, não, de jeito nenhum." Ela interrompeu mais uma vez. "Um dos motivos de eu vir aqui também foi esse. Pra tentar consertar as coisas. Você já sabe como eu me sinto, ponto. Não tem como desfazer isso, e eu nem quero... Mas eu também não vou mais falar nesse assunto com você. A única coisa que eu quero é que a gente pelo menos continue amigas, como sempre. Eu não sei mais viver sem você, Carol" Ela deu de ombros, depois percebeu o que tinha dito e riu de leve. "E não estou falando isso como uma cantada, ta? É genuíno mesmo. Independente de qualquer sentimento romântico, o lugar que você ocupa na minha vida é único. E eu não quero, não posso perder isso"

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