Smoke in The Air

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  Olá pessoal, tudo bem? Por gentileza, peguem leve comigo, é a minha primeira tentativa de fanfic, sonhei com ela hoje e decidi escrever.

...

-Agosto de 1999-

Era o mês de Agosto. Apenas Agosto de 1999. O fim da guerra havia acontecido há 3 meses e não se pareciam mais do que dois dias. Harry não sabia como havia passado tanto tempo. Pra ele, tudo havia passado como um flashback, e continuava passando todas as noites em seus sonhos e algumas vezes, ao longo do dia enquanto estava acordado, bem em frente aos seus olhos. Machucando sua mente. Harry não havia começado o seu último ano ainda, mas havia ficado no castelo. Ele não sabia pra onde ir, tudo parecia ruim demais lá fora, tudo parecia sem vida e cinza. Os Weasley's tentaram o convencer de que ficar na Toca - agora reconstruída - era a melhor coisa a se fazer, mas ele não aguentava olhar pro rosto de Jorge e não ver a felicidade normalmente ali contida. Ou estar na mesa de jantar e olhar pro lugar vazio de Fred bem ao lado de seu irmão. Depois da Guerra, tudo havia mudado, Harry preferiu se afastar de todos, seus amigos ainda ficaram com ele em Hogwarts ajudando na construção, mas decidiu abandonar seu sonho de se tornar Auror - Não suportava mais lutar, não queria isso pra si -.
Havia terminado seu relacionamento com Ginny - muito curto e sem sentido -, nunca havia amado a garota de verdade, e não seria justo deixá-la presa em um relacionamento assim, ela não merecia. Ginny foi muito compreensiva, havia ficado triste mas decidiu que nossa amizade nunca iria morrer, ela seguiu bem a vida depois disso. Harry estava aliviado por não ter quebrado a garota, não se perdoaria se mais uma pessoa morresse -por dentro- por sua culpa. Tudo parecia diferente. As vezes Harry gostaria de não ter acordado depois de derrotar Voldemort.
Mas infelizmente isso não aconteceu e agora ele se sentia tão vazio quanto podia se sentir. Depois da Guerra, havia recebido várias cartas de Gringots, falando sobre sua herança e anéis de senhorio. Ele havia ido até o branco e se encontrado com o seu Mestre de Contas Griphokk, e reclamando toda sua herança da parte Potter e Black... Agora ele era um dos caras mais influentes na sociedade bruxa, com suas fotos estampadas no Profeta Diário praticamente todos os dias. E isso era uma grande porcaria. Ele simplesmente não queria nada disso. Não a parte do dinheiro -ate porquê depois de passar fome desde a infância, isso foi até que bem vindo- mas a parte em que um bando de idiotas esquecem que ele não teve uma infância saudável e comum, que passou a vida inteira esperando pra matar ou morrer pelas mãos de um bruxo psicopata. Não, eles só queriam saber o "Grande" Harry Potter, o garoto que matou o pior Lord das Trevas que o mundo bruxo podia ter. Eles querem saber do garoto que seria o próximo auror assim como seus pais e padrinho, o cara que era rico e supostamente mimado pela mídia.
Eles não queriam o Harry quebrado, sem alegria pela vida, o menino doente por dentro como se sentia todos os dias, o cara que via o mundo cinza e sem sentido. Eles queriam uma farsa criada por eles mesmos.
Harry passava os seus dias no castelo junto com o restante das pessoas que ficaram durante a reconstrução de Hogwarts, haviam poucas, mas o suficiente pra ajudar na cura do castelo. Fazia todas as suas refeições no Salão Principal, mesmo que quisesse ficar em seu quarto durante todo o dia para não ter que lidar com os cochichos dos idiotas de plantão, principalmente os que o veneravam e diziam o quão bom era ser famoso.
E hoje não era diferente, desceu pra sala comunal da Grifinoria depois de Hermione tê-lo puxado da cama praticamente a força. Ron já o esperava com cara de sono em uma das poltronas. - obviamente Hermione também arrancou o outro garoto de sua cama - Acenou pro seu amigo e o gesto foi espelhado de volta. Ron estava mal, suas enormes olheiras e rosto abatido não era pra menos, havia perdido seu irmão durante a batalha e também não conseguia dormir bem, o que foi motivo pra separar os garotos de quartos, enquanto o dormitório principal era consertado. O irmão que morreu por culpa de Harry. Isso o matava todos os dias, todos morreram por sua culpa.
Passando pelo retrato da Mulher Gorda, o Trio de Ouro caminhava silenciosamente até o Salão Principal, assim como praticamente todos os dias, o caminho era feito em um silêncio quase mortal, um clima um pouco estranho pairando ao redor dos três. Ao chegar na entrada, vários rostos viraram em sua direção, e os comentários e sussurros haviam retornado com força. Harry tentava não prestar atenção, mas era muito difícil ter metade dos alunos que restavam o encarando e apontando enquanto faziam comentários o exaltando. Harry queria retornar pro seu quarto e não sair nunca mais.
Na mesa dos professores, o corpo docente estava sentado esperando o restante dos alunos pra começar o café da manhã. A Diretora McGonagall estava conversando baixinho com Sprout ao seu lado esquerdo, enquanto o professor Flitwick parecia prestar atenção no que Hagrid e Hooch discutiam em tom animado. Já ao lado direito de McGonagall havia um vice-diretor em vestes negras, feições sérias e postura um tanto mais relaxada do que o normal. Snape.
Ah sim, Harry havia salvo Snape na casa dos gritos há um tempo atrás, havia conseguido salvar o homem com lágrimas de fênix que conseguira em uma de suas idas até a Sala Precisa. Depois de sentir o terror tomar conta de si naquela casa quebrada, com todas as lembranças de Snape em sua mente, e com o corpo de seu Mestre de Poções sangrando em seus braços, o menino havia convocado de sua bolsa magicamente encantada - créditos pra Hermione - seu último frasco de lágrimas de fênix que conseguira. Depois disso, nunca mais havia conversado com seu temido professor.
Ao encarar Snape, o olhar do homem veio diretamente pra si, e ficou ali por mais tempo do que seria necessário, antes de Harry desviar seu olhar pro banco em sua frente e sentar-se para tomar café. Toda vez que entrava no salão principal isso acontecia, Snape o encarava de volta e ele não conseguia sustentar o olhar de seu professor. Uma sensação estranha sempre passando por seu estômago nessas horas.
O café da manhã se seguiu como sempre, em sua frente havia toda a comida do mundo, e Harry não conseguia comer nem sequer dois ovos. Hermione como sempre estava ralhando em seu ouvido que ele estava magro demais e devia comer. Ron... Por incrível que pareça, comia de forma moderada e até quase desanimada - o que era completamente compreensível -. A guerra conseguiu fazer um estrago em todos, por sua culpa.
O garoto de ouro começou a se sentir incomodado, dava pra ouvir as conversas paralelas ao seu redor, mais forte que o normal. Todos os dias eram os mesmos: pessoas idiotas falando sobre ele e seus amigos, comentando da sua fama e o quão rico e influentes o "Potter" era. Isso era tão exaustivo, e aquela raiva incontrolável dentro de Harry começava a surgir novamente. Uma raiva crua e uma vontade de azarar todos ali presentes borbulhando quase até a superfície de si, ele decidiu sair em direção até o quinto andar, onde havia um banheiro grande dos monitores, lá ele podia gritar e berrar suas frustrações sem ser incomodado, sem pessoas ao seu redor dizendo como ele deveria ser e parecer. Ultimamente era assim que ele conseguia acalmar sua raiva e frustrações, além de poder deixar sua mente centrada o suficiente para não ouvir mais seus amigos mortos o chamando ou vê-los passar diante de seus olhos.

- 10 de Novembro de 1999 -.

Sentado no chão da torre de astronomia, às 01:00 da manhã, Harry mais uma vez se lembrava dos 9 meses que haviam se seguido caçando as horcrux com seu professor e seus amigos, todo o terror e dor que se seguiu era o gatilho pra estar acordado nesse momento. Era o motivo de não conseguir dormir há meses sem ter pesadelos. O que mais o incomodava nessas horas eram os rostos flutuando em sua mente: Lupin, Tonks, Moody, Fred, o pequeno Teddy que agora estava órfão. Tudo isso por culpa dele. "Merlin, eu não aguento mais"
  Cigarros eram seu novo jeito de conseguir relaxar ao menos um pouco. Isso começou quando um dia em Setembro, fora visitar Grimald Place e tinha encontrado um pacote generoso de cigarros antigos de Sirius na gaveta de sua cômoda. Também encontrou um pouco de whisky-de-fogo mas nunca havia bebido desses. Nas suas saídas ao mundo trouxa, ao observar os trouxas, notou que uma grande parte adorava beber e fumar à vontade, mesmo sabendo que iriam morrer de câncer em menos de 30 anos. Como os bruxos não têm as mesmas enfermidades dos trouxas, decidiu dar uma chance ao longo cigarro que tanto acalmava a maior parte da população trouxa.
Uma vez que havia fumado um daqueles brancos com quase 5 centímetros de comprimento, caíra em uma necessidade absurda para tentar relaxar seu corpo sempre tenso. Escondia esse hábito frequente dos seus amigos, - Hermione o mataria por causa disso- decidiu aproveitar suas noites de insônia cruéis e atravessava o castelo até chegar à torre de astronomia, onde se sentava perto da janela de sempre e soltava fumaça até quase o esquecimento. Havia descoberto recentemente que outra pessoa do castelo compartilhava do seu vício secreto: A Professora Trelawney.
Uma madrugada andando pela torre de astronomia ao sentir um cheiro incomum vindo da sala da professora, Harry vestiu sua capa de  invisibilidade e foi até lá. Andou nas pontas dos pés e ficou surpreso quando olhou pela porta do escritório e viu sua professora aproveitando um cigarro com um cheiro diferente. Esse parecia um pouco mais herbal. Com um cheiro engraçado e mais relaxante.
  Todos os dias praticamente Harry ia até o escritório de Trelawney e surrupiava um cigarro daqueles. O gosto era um tanto mais forte e o cigarro era um pouco menor do que os que normalmente fumava. A primeira tragada era sempre a melhor, sempre a que conseguia por um momento fazer a sua mente tomar um rumo melhor, mas, era somente um momento.
  Claro que isso somente relaxou seu corpo cansado. Sua mente ainda disparava, ainda conseguia ver os rostos dos mortos passando na frente de seus olhos. Ainda não conseguia conjurar um patrono de forma decente desde o fim da guerra.
  E não, ele não se orgulhava de ter roubado várias vezes os cigarros de Trelawney em seu escritório, nem mesmo os que ela escondia debaixo da gaveta de sua escrivaninha, aquela com fundo falso. Mas ele não sabia mais o que fazer ou como fazer pra se livrar de tudo isso. Falar com seus amigos não ajudava. Todo mundo sempre dizia o mesmo: Que o garoto de ouro terminaria o último ano em Hogwarts e seria um grande auror assim como seu pai e seu padrinho foram, e que toda a dor e traumas da guerra ficariam pra trás. Bombagem. Os flashbacks, a dor da perda e os pesadelos continuavam o atormentando todas as noites. Ele também tentou falar com seus amigos sobre isso, lhe disseram que iria passar e que era pra ele aproveitar seu último ano letivo, que iria se divertir e tudo seria ótimo. Errado.
Ele havia se fechado dentro de si, e nos últimos meses havia acabado com todo o estoque de cigarros escondidos no escritório de sua professora de adivinhação. Era o único jeito que ele conseguiu pra nublar um pouco sua mente que não parava. Mas somente cigarros não bastavam. Não mais.

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