2. Rígel

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Nota: Esse capítulo contém um crossover com a protagonista do livro Tempo Cruzado.

Do outro lado do portal, havia uma casa luxuosa, como Ísis jamais teve em seu horizonte. Vendo poltronas aparentando tanto conforto, suas pernas amoleceram. Era o cansaço batendo. O estresse emocional somado ao pós-parto não fez bem. Pois, sim, sabia que dera à luz, aquele homem desconhecido estava ali para confirmá-lo.

– Sinta-se em casa. Quero oferecer o melhor a uma guerreira como você. – Ele falou com brilho nos olhos.

Ísis não entendeu o elogio, mas agradeceu. O estranho percebeu e tentou justificar-se com o rosto corado.

– Conheço sua história. Não é qualquer um que aguentaria isso. Você é incrível! – Novamente, a admiração era clara. – Por favor, sente-se. Esses sofás são novos, espero que sejam do seu agrado. Nada menos do que você merece.

Normalmente, Ísis desconfiaria. Porém, naquele momento, só queria pular a enrolação e saber o que realmente importava: o paradeiro das filhas. Por isso, acomodou-se no estofado calada. Foi como relaxar na maciez das nuvens. Seu corpo distensionou só se apoiando. Queria dormir ali e encontrar suas lindas três Marias no mundo dos sonhos.

– Meu nome é Rígel, como a estrela da constelação de Órion. – O homem demonstrava nervosismo. – Desculpa, esqueci de me apresentar.

– Tudo bem. – Ele assentiu em resposta. – Cadê minhas filhas? – Ela não aguentava mais enrolação.

– Por onde iniciar... – Rígel quase parecia arrependido de chamá-la para o portal.

– Só começa logo! – Ísis estava prestes a chorar.

Vendo a mulher tão debilitada, o homem se aproximou dela, pediu licença e deu um abraço aconchegante. Como diria Cazuza, ali dois corações se encontraram. Para quem escutasse de perto, perceberia os batimentos se misturando até o mais acelerado chegar na frequência do mais calmo. Nesse momento, Ísis finalmente sentiu estar diante de alguém que a ajudaria naquela dificuldade e ficou tranquila para ouvir o que ele diria. Estava num abraço, o lugar mais feliz do mundo de acordo com Martha Medeiros.

– Sou um detetive do planeta Solo e acreditamos que suas filhas foram vítimas do tráfico interplanetário de crianças. – Rígel estava preocupado com a reação da convidada, mas ela estava impassível. Compreensível. Afinal, era mais fácil acreditar naquilo do que na laqueadura. – Pegarei uma garrafa d'água para ti, porque a história é longa.

Após assegurar-se de que a mulher estava bem, cuidado que ela achou fofo, ele continuou:

– Já ouviu falar dos deuses astronautas? Eram seres de outros planetas visitaram a Terra há milhares de anos e ajudaram com algumas construções arquitetônicas, como as pirâmides egípcias. Pelos nativos, foram considerados deuses. Bem, alguns humanos voltaram com eles e passaram a viver em Solo. Consequentemente, algumas comunidades possuem interesse em comprar crianças terráqueas se tiverem problemas de fertilidade.

Dessa vez foi impossível Ísis não arregalar os olhos. Se o sofá fosse um pouco menor, talvez tivesse se desequilibrado e caído. Nesse caso, algo dizia a ela que Rígel a seguraria heroicamente. Corou ao imaginar a cena.

– Mísia e Órion são um casal de feiticeiros procurados em todo o planeta Solo. São os cabeças do tráfico de pessoas há muitos anos. Eu, inclusive, vim parar aqui por causa deles... – Ele baixou a cabeça, talvez para esconder a tristeza. – Resolvi virar detetive para pegar esses criminosos e fazer justiça não só a mim, mas a todos os bebês traficados. – Levantou a cabeça e continuou com firmeza. – Enfeitiçaram todos ao seu redor para pensarem que você nunca teve filhos. Entretanto, por algum motivo, não conseguiram enganar você.

As três MariasOnde histórias criam vida. Descubra agora