Capítulo 5 - Safiras Verdes.

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Não vejo nada, não ouço nada, não penso em nada e não sinto nada mais do que tristeza.

Estou sentado na cadeira da sala de espera das urgências, há mais de três horas. Depois que a enfermeira saiu, eu simplesmente entrei em modo automático, apenas respiro. Sei que meus irmãos estão ao meu lado e sei que estão há mais de três horas a falar comigo e a tentarem ter uma reação minha. No entanto, não os consigo ouvir.

Custa tanto acreditar que uma pessoa está tão mal por causa de uma luta, quer dizer, eu sei que isto não foi propriamente uma luta, afinal, minha pequena apenas ficou deitada no chão a levar pontapés e socos da Nikki, mas foi assim tão mau que fez com que ela quase, quase .... ?

- Alex?! Alex? Mano, ouve-me. Isabella vai fica bem ok? Só temos de pensar positivo e manter a esperança. - Collin tenta.

Isabella ?! Quem é Isabella?

Minha cara devia de mostrar a minha confusão interior, pois, Collin, logo me explica:

- Isabella é a menina. A tua menina. Clancy quando me ligou pediu para passar lá no bar e trazer a bolsa dela. E a enfermeira á pouco trouxe a ficha do paciente para preenchermos, então tivemos que ir á bolsa e tirar os documentos dela. Mas só mexemos nisso, não te preocupes.

Isabella.

É bonito. E, certamente, combina com ela. Minha pequena realmente é bela, aqueles olhos lindos de uma mistura de cores que fogem para o verde , a boca de lábios grossos e perfeitos que dão vontade de beijar, aquele sorriso de menina travessa mas ao mesmo tento um sorriso de anjo, e aquele corpo de dar inveja a qualquer menina.

- Ela vai conseguir? E se ela morrer naquela mesa de operações? Collin, se ela não sair daquela sala com vida eu vou me culpar pelo resto da minha vida. Eu não quero que ela morra, ela não pode. - Estou a implorar pela vida da minha pequena.

- Eu não percebo. - Josh disse. - Não foi uma luta? Por que é que ela haveria de estar tão mal por causa de uma luta ?

- Isabella foi atirada para o chão no primeiro soco. Ela não estava a contar. A menina é muito pequena e magra para lutar. E eu tenho a certeza que ela nunca lutou na vida. Então, Nikki aproveitou-se disso e começou a dar-lhe pontapés e socos sem parar, e não foi por pouco tempo. As grades estavam baixadas e não havia forma de a fazer parar. Não foi algo bonito de se ver e até mesmo o público percebeu pois todos se calaram. - Explico e Josh assente.

---------------- 7:23 Am ---------------

Não sei quanto tempo passou mais, mas o hospital está a começar a encher mais e Josh está a dormir com a cabeça encostada na parede.

E não houve mais notícias.

- Collin, vai para casa e leva o Josh. Eu fico aqui e ...

- Meninos. - A enfermeira voltou.

- Então? Como ela está? Ela ... ela está .... bem ? -Pergunto nervoso.

- Oh sim, menino. Foi um milagre. Eu não sei como isto aconteceu, mas ela está a responder bem ao tratamento e a contusão pulmonar está a diminuir. Eu não sei o que lhe aconteceu menino, ela parece que sofreu um acidente de viação muito grave, mas ela é uma menina resistente e forte. Parece que não chegou a hora dela. A sua namorada está no quarto e dentro de 30 minutos pode receber visitas. - E desapareceu em segundos.

Alivio e felicidade é todo o que eu sinto. Ela é forte, minha menina é forte e resistente. E não chegou a hora dela. Foda-se, esta é a minha garota.

- Caralho irmão. Um acidente de viação grave? E sobreviveu? Tua menina é forte. - Collin abraça-me. - Vamos é acordar este aqui, que ele precisa de conhecer a cunhada.

Cunhada?! Que merda é esta? E porque é que me soa tão bem?

Collin acorda Josh e juntos vamos para a secretaria do hospital pedir o número do quarto da minha pequena. Pedem que esperem mais 10 minutos. E este são os 10 minutos mais longos da minha vida.

Quarto 235, 236, 237, 238. Aqui está. Quarto 238.

Respiro fundo e preparo-me para entrar.

Não é possível alguém preparar-se para ver o que eu vi quando abri a porta. Ninguém no mundo merecia aquilo.

Excepto Nikki.

Claro, excepto Nikki.

Ao entramos vamos aproximando nos da cama onde ela está, lentamente. Como quem tem medo do que ia encontrar.

E bem, certamente o que encontramos não era bonito.

Não havia, no rosto de Isabella, um canto onde não haja vermelho, roxo e preto.

Olhos fechados e inchados, lábios grossos arrebentados.

- Uuui. Ela parece horrível. Quer dizer, mal, muito mal e muitas dores. Sim, é isso. - Josh fala todo engasgado e não conseguimos evitar não dar uma leve risada.

Mas logo nos calamos quando a porta abre e um médico entra.

- Bom dia. São os acompanhantes da menina? - Ele olhamos para nós desconfiado.

Bom dia?! Foda-se, que horas são?

- Somos. Fomos nós que a trouxemos ao hospital. - Respondo.

-Bem, devido ao estado da paciente, o hospital viu-se obrigado a contactar as autoridades. Eles devem estar a chegar.

- As autoridades?! - Josh quase grita.

- Sim. As autoridades. A paciente apresenta algumas lesões causadas por agressão e outras mais graves aparentemente causadas por acidente. Não sabemos em que acreditar. Mas isso terão de explicar às autoridades. - Ele acentua bem a palavra e olha para Josh. - O meu trabalho aqui é apenas checar o quadro da paciente e dar lhe os medicamentos necessários.

Dito isto, o médico pede para nos afastar-mos da menina. E começa a fazer o trabalho dele.

- Ela vai poder andar, certo? A enfermeira falou sobre o risco de não poder. - Pergunto.

- Responder a isso com certeza, só posso quando a paciente acordar. Pois ela precisa dizer se sente as pernas ou não. Mas em principio está tudo bem. Os hematomas vão demoram algumas semanas a passar. E é necessário ter alguns cuidados extra com a zona do tórax devido às costelas partidas. Mas de resto, temos grandes expectativas que ela volta ao normal completamente.

Não posso evitar sorrir. É um grande alívio saber que ela vai ficar bem. Não podia imaginar outra coisa.

O médico fica mais alguns minutos e depois sai pedindo para quando ela acordar informar alguém.

Collin sai também para ir buscar café para todos.

Não posso mentir. Eu realmente preciso de dormir mas não o vou fazer enquanto não ver aqueles olhos lindos dela e certificar me que ela está bem.

Sentei numa das cadeiras disponíveis para os acompanhantes e puxei-a para junto da minha pequena. Agarrei lhe mão e deitei a cabeça. Estou cansado.

Josh também se sentou numa cadeira mas manteve se afastado. Quase a dormir. Deixem me dizer.

Quando Collin estra, entrega o café - que apesar de horrível, sabe me pela vida - e senta se na cama disponível ao lado.

Não sei quanto tempo passou naquele silêncio. Mas sei que a mão da minha pequena está a apertar a minha.

- Morena? - pergunto sorridente. Collin e Josh chegam perto e ficamos os três à espera que ela abra os olhos.

- Alex? - E lá estão. Duas safiras verdes aparecem. Uma voz rouca ouve-se e o meu mundo voltou a levantar-se.

The Fighter: Life is a constant battle.Onde histórias criam vida. Descubra agora