1 CAPÍTULO

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— Emergência.

— Alô? É da Emergência? — Por favor, não pensem que eu sou burra, sei que a mulher disse Emergência. Mas quero confirmar. Ter certeza. Se vocês tivessem na minha situação iam querer confirmar também.

— Sim, é da Emergência. Em que posso ajudar?

— Eu estou com um problema.

— Que tipo de problema?

— Estou com um preservativo... entalado.

— Entalado aonde? — pergunta a mulher gentilmente.

Eu me enfureço do outro lado da linha. Quem está sendo burra agora?

— Na minha... minha... — digo eu, procurando em vão o termo médico apropriado — ... xoxota.

— Vagina? — pergunta ela.

Eu me arrepio com o uso óbvio da palavra.

— Isso mesmo.

— Por favor, espere um instante — diz ela abruptamente.

Por favor, espere? POR FAVOR, ESPERE? Esse é o problema, ESPERAR.

A questão não é esperar, e sim soltar. Na verdade, preciso explicar uma coisa. Eu não estou com um preservativo entalado. É óbvio que não. De forma alguma. Se estivesse, eu saberia.

Então, por que estou telefonando para a Emergência? Bem, eu disse uma parte da verdade. É que não sou eu. É Lizzie, a minha melhor amiga, que, neste exato momento, está sentada no sofá à minha frente, chorando no meu rolo de papel toalha.

— Eu estou esperando! — digo claramente ao telefone.

Achei que devia dizer a Lizzie que, se ela tentasse relaxar um pouco, talvez o preservativo se soltasse, mas acabei ficando calada. Vocês devem estar se dizendo que, aos vinte e cinco anos de idade, eu não deveria mais estar fazendo tanto drama, então comecei a falar de amenidades. Não me interpretem mal, mesmo porque eu não me importo, é que eu só estava esperando uma coisa diferente. Pelo menos é a desculpa para comer biscoitos recheados de marmelada às nove da manhã e tomar uma dose de brandy, Lizzie.

Lizzie estava desesperada quando apareceu na minha casa hoje pela manhã. Eu achei um horror o que aconteceu, mas, pensando bem, não é uma coisa tão terrível assim e certamente ela não vai anotar na sua agenda de "Dias Especiais". O pobre Ben, meu namorado extraordinário, foi enxotado do apartamento com tanta pressa que acabou levando a colher com que estava comendo o cereal.

Não vou entrar em detalhes impressionantes porque vocês devem estar imaginando o que ocorreu com Lizzie. Alastair, o rapaz que ela namora há seis meses, mandou-se para o trabalho alegando que tinha uma reunião importante e deixou o abacaxi para eu descascar. Não tive coragem de fazer a própria Lizzie telefonar para a Emergência e também não me dei ao trabalho de explicar que o problema era da minha amiga porque eles não iriam acreditar mesmo.

Lizzie e eu somos amigas desde os treze anos de idade e crescemos juntas na Cornualha. Duas amigas não poderiam ter histórias de vida mais contrastantes. A família de Lizzie é cheia de frescura, com louça fina servida na mesa. Bem diferente da minha família boêmia, cujos pratos não combinam uns com os outros e os cachorros comem os restos de comida neles. Nós amamos as familias uma da outra, provavelmente pelas diferenças. Eu adorava o aconchego da casa dela. E ela adorava a bagunça da minha casa, ficávamos sentadas nos degraus da escada comendo maçã e ouvindo a gritaria do meu pessoal, tenho três irmãos e uma irmã, entre uma briga e outra. Eu levantava os olhos para o céu, mas ela observava avidamente tudo que acontecia encantada com aquela balbúrdia.

Um Amor De DetetiveOnde histórias criam vida. Descubra agora