Ódio

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Seria mais uma noite agitada, e Taehyun, como de costume, estava bebendo veneno esperando que aquele filho da puta morresse.

Ele estava se arrumando no camarim empoeirado da casa de shows, pensando em como tantas decisões imaturas haviam o levado até aquele momento miserável. Na verdade, Taehyun sabia como. Se lembrava exatamente de como suas asas foram cortadas e do momento que percebeu que estava preso em uma gaiola por ter sido um inconsequente.

Então o que lhe restava era continuar engolindo o veneno ácido que jamais mataria quem ele queria ver a sete palmos do chão.

E o nome desse veneno era ódio, quase como na metáfora de William Shakespeare. Ele se embebedava com a própria cólera e depois a vomitava em cadernos que nunca seriam lidos, esperando que sua arte se transformasse em sua salvação. Quantas músicas ele já não havia escrito? Quantas poesias?

A conta estava perdida em algum canto de sua mente miserável, mas não era como se isso fizesse tanta diferença. Taehyun vivia o mesmo dia todos os dias, despercebido como a sombra de um fantasma, mas amado como um troféu do atleta mais importante do país.

Isso fazia algum sentido?

Provavelmente não, mas, de novo, não fazia diferença.

Por isso, só permaneceu finalizando sua pele com maquiagem, porque precisava estar perfeito em cima do palco para ganhar a merda do dinheiro que nem poderia usar como quisesse. Nesses momentos, a vida de Taehyun começava a se passar na frente dos olhos dele, como uma tatuagem em seu cérebro que o impedia de esquecer que era o único culpado da própria desgraça.

Tudo começou quando tinha dezesseis anos, e estava cheio de sonhos e ambições. Taehyun sempre soube que queria ser cantor, mas, além disso, também queria ser uma estrela. Havia uma luz forte em seu coração que sempre lhe dizia que seria capaz de conquistar o mundo, e só precisava ter paciência para que finalmente conseguisse tudo que almejava.

Porém ele sonhou demais, e acabou esquecendo de colocar os pés no chão.

Ele cresceu cantando na igreja que seus pais frequentavam, e foi lá onde aprendeu tudo que sabia sobre canto e piano. Porém não era o suficiente, especialmente porque a igreja - e a religião, de um modo geral - o limitavam. Ele se sentia pequeno, sem identidade, apenas seguindo ordens e desperdiçando a voz linda que tinha.

Então não podia deixar de sonhar com algo maior. E essa ânsia lhe fez cair direto na armadilha de Damian, um homem quase dez anos mais velho que sabia exatamente como enganar um pequeno cordeiro.

Os dois se encontraram pela primeira vez na cidade em que Taehyun nasceu, quando havia acabado de terminar uma apresentação na igreja. Seus dedos estavam dormentes, e ele ainda se recordava de como sua garganta estava seca naquele dia, como se seu corpo estivesse prevendo o que aconteceria.

Taehyun?

Taehyun provavelmente nunca esqueceria como aquela voz soou pela primeira vez chamando seu nome. Era desconhecida, porém tão forte e bonita que conseguiu ganhar seu coração antes mesmo de ver quem era.

Ele se levantou do banco do piano e olhou para trás, vendo um homem alto e extremamente lindo, vestindo um terno caro e exibindo um sorriso esmagador. Naquela época, foi o seu momento de filme. Seu príncipe encantado. Se ao menos soubesse que seria o seu pior pesadelo...

— Sou eu, quem é você? — Respondeu, curioso.

— Damian Jones, prazer. — Ele sorriu, estendendo a mão. — Sua voz é linda, você é um talento raro.

Taehyun perdeu o ar com o elogio e com o gesto, oscilando o olhar entre o rosto e a mão dele antes de, enfim, apertá-la.

— Muito obrigado... — Disse baixinho, ainda perdido sobre o porquê um homem tão arrumado queria falar com ele. Sua mão tremeu quando desfez o toque, parecendo estar preso em um transe.

O Veneno Que Não MataOnde histórias criam vida. Descubra agora