capítulo dois: temple club

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O brunch era um dos eventos mais importantes do Temple Club. Alimentava o nicho elitista das famílias mais poderosas de La Brede. Fazer parte da alta sociedade era ter que participar obrigatoriamente da socialização da nobreza, principalmente quando o futuro dos herdeiros estava em jogo.

As famílias que participavam do brunch eram as mesmas, desde que Jenna Velmont decidiu inaugurar o evento mensal. No primeiro sábado de todo o mês, há 7 anos, ocorria a exclusividade caprichosa para amizades de longa data, onde as esposas socialites, os maridos poderosos e os filhos adolescentes tinham o dever de comparecer. Regras eram necessárias, também como as restrições. Cada família precisava se sentir especial e importante. Toda a frase tinha o objetivo de ser mais excitante, e os acordos, mais exclusivos. Os laços feitos eram essenciais para o prêmio supremo: tornar os filhos os próximos Soberanos. Mostrá-los ao mundo como aqueles que ascenderiam ao trono do heroísmo.

— No que está pensando, Jace? — a socialite passou uma folha da revista Vogue despretensiosamente. Estava deitada em um divã revestido em couro marfim. Ao seu lado, uma taça de old fashioned estava pela metade. — Você está errando as notas.

Jace viu aquilo como uma oportunidade. Parou de tocar o piano e se levantou. Já que ela havia percebido sua falta de vontade, ele não precisava mais fingir. Sua mãe o olhou brevemente antes de retomar à sua revista.

— Não estou no clima — ele murmurou. Sentou-se no sofá, em frente à uma mesa de centro de vidro. Macarons coloridos e cupcakes de baunilha se equilibravam em cima de um suporte de três andares. O salão era confortável, com piso de porcelanato reluzente e vidraças que jorravam a luz natural do dia. Do lado de fora, um caminho de pedras cortava um jardim florido com lírios stargazer, atraindo uma beleza singular ao terreno.

Uma empregada se aproximou. Ela curvou as costas para se dirigir à Jenna.

— Os De Loughrey chegaram, senhora.

Jenna assentiu, dispensando a mulher com dedos rápidos.

— Quem? — Jace perguntou, franzindo as sobrancelhas.

— Uma nova família para o brunch — Jenna respondeu rapidamente, agitada. Ela se levantou, pronta para seguir a empregada.

— O quê? — ele perguntou, confuso, andando atrás da mulher que seguia com os passos rápidos. Sua pressa exigia explicações para o garoto, afinal, sempre foram as mesmas famílias há anos. Não fazia sentido uma nova adição. — Explique melhor.

Sua mãe parou de andar, dispensando o barulho do salto fino. Ela olhou para o garoto, que tinha os mesmos olhos castanhos que o seu. Segurou um leve sorriso de canto, cerrando os olhos em uma expressão presunçosa, normalmente usada para situações como aquela, onde ela precisava convencer um cliente a gastar milhões de dólares em uma cobertura premium no meio do nada.

Foi corretora de imóveis por alguns anos, antes de conhecer Allan Velmont, seu atual marido. Seu pai, Robert Winston, um magnata de corretores e franquias imobiliárias, lhe ensinou tudo o que sabia. Um gênio em ter uma clientela de alta renda, conexões e contatos luxuosos, Jenna era uma cópia exata da sua superioridade e interesse desdenhoso.

— Jace... você sabe que eu sempre faço o melhor para você. Se tem uma nova família, é porque eu senti essa necessidade — seus olhos brilharam e ela piscou, atraindo uma atenção desnecessária para os cílios postiços. Jenna era uma mulher que não tinha problemas em gastar milhões em cirurgias plásticas para parecer mais jovial. Suas decisões resultaram em um botox exagerado e uma magreza anoréxica. — Eu tenho um plano e nele você é essencial. Me faça o favor de se aproximar da garota, ok?

Jace levantou as sobrancelhas, mais confuso ainda. Não gostava de mudança de rotina. Não gostava de novidades ou estranhos em seu círculo pequeno e fiel. Tinha dois únicos amigos, que conhecia desde criança: Constance Monroe e Elliot McCoy. Embora tenha passado a maior parte de sua vida escutando sua mãe lhe dizer que não devia confiar em ninguém, nem mesmo naqueles dois, Jace ainda se permitia ser ele mesmo de tempos em tempos. Além disso, ele viveu repetidamente a mesma situação por anos: seu pai se enfiava em jogos políticos com outros homens e sua mãe destilava palavras tóxicas com outras esposas, bebendo tantos coquetéis que era inevitável chegar ao meio-dia sem o álcool corrompendo sua cabeça.

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