Braille

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Deveras, o momento mais angustiante e estranhamente belo foi quando estávamos deitados em seu quarto e as luzes estavam apagadas. A única claridade que existia naquele cômodo era a que entrava pela brecha da porta. Naquele momento, comecei a acariciar seu rosto, decorando cada centímetro que existia nele com os meus dedos. Percorri então seus lábios, bochecha, queixo com a covinha, sobrancelha e demais partes. Senti logo em seguida, a cada movimento que fazia, lágrimas escorrerem pela minha bochecha de encontro ao travesseiro. Isso porque, naquele efêmero momento, senti o que era amar. Amar você me fez perceber que tenho medo, um deles é de ficar cega e nunca mais poder olhar em seu rosto. Por isso, comecei a memorizar cada parte dele com o meu toque, porque se um dia, por um infeliz evento chamado destino, perder a visão, quero poder lembrar de tudo que acalma meu coração.Há lugares por onde andei que quero lembrar, mas você será a primeira pessoa que irei recordar.O medo de perder a visão naquele dia em que estávamos em seu quarto me fez perceber que tudo o que temos ao nosso redor só damos valor ao perder. Não quero aprender braille só para ter que te tocar, quero aproveitar cada segundo enquanto eu posso para te admirar.

O meu maior medo é nunca mais poder te ver, te perder para a vida faria com que não existisse uma possibilidade sequer de aprender algo que pudesse te enxergar. Teria que me conformar que nunca mais, durante a minha existência, iria poder te abraçar, deitar em teus braços e me sentir em um lar. Por fim, cheguei à conclusão de que somos completamente cegos vagando nesta vida. Ao nascermos, abrimos os olhos para ela e, ao morrer, fechamos para a mesma...

Nisso, não nos damos conta de que a resposta sobre nossa existência está logo à nossa frente. É preciso enxergar além e, por fim, compreender que nosso maior tesouro é vi(ver).

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